Durante dois anos, ninguém acreditava nela. Apesar do hálito que cheirava a álcool, sinais visíveis de “embriaguez”, desorientação, a moradora de Toronto (Canadá) garantia que não tinha tomado uma gota de bebida alcoólica.
“Ela visitou seu médico de família repetidas vezes e foi ao pronto-socorro sete vezes (numa delas, após desmaiare bater com a cabeça numa bancada da cozinha da sua casa) em dois anos”, disse Rahel Zewude, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Toronto, de acordo com a CNN.
Os médicos descobriram que os níveis de álcool no sangue da mulher podem variar entre 30 milimoles por litro e 62 milimoles por litro, o que pode ser fatal – abaixo de 2 milimoles por litro é normal, explicou Rahel.
A mulher de 50 anos foi finalmente diagnosticada com síndrome da fermentação intestinal, também conhecida como síndrome da autocervejaria, que é uma condição médica rara em que o próprio corpo produz álcool. De acordo com especialistas, essa síndrome provoca a produção de etanol pelo sistema digestivo quando o paciente consome alimentos ricos em carboidratos.
Mas chegar ao diagnóstico não foi simples, especialmente por causa dos altos níveis de álcool no organismo da paciente, em geral não vistos em quadros semelhantes. Todos os médicos de pronto-socorro questionaram os hábitos de consumo de álcool da mulher, e ela foi examinada por três psiquiatras de hospitais diferentes, que concluíram que ela não preenchia os critérios para o diagnóstico de transtorno por uso excessivo de álcool.
“Ela disse aos médicos que sua religião não permite beber, e seu marido verificou que ela não bebia”, declarou Rahel, que tratou da mulher e foi coautor de um relatório sobre o caso anônimo publicado na revista na “Canadian Medical Association Journal”.
“Foi só na sétima consulta que um médico do pronto-socorro finalmente disse: ‘Acho que isso parece síndrome da autocervejaria’ e a encaminhou a um especialista”, completou a médica.
O primeiro caso conhecido de síndrome da autocervejaria ocorreu em 1946 na África, quando o estômago de um menino de 5 anos rompeu sem motivo conhecido. Uma autópsia encontrou seu abdômen cheio de um líquido “espumoso” com cheiro de álcool.
(*)com informação do Jornal Extra