Não é fácil acumular as funções de pedreira e servente quando as tarefas de cuidar da casa e dos quintais produtivos consomem a rotina diária das mulheres do campo. Ainda assim, cinco mulheres atendidas pelo Projeto Paulo Freire toparam o desafio de romper preconceitos e implantarem elas mesmas sistemas de reúso d´água de cinzas. O curso na comunidade Desterro, em Sobral, ocorreu no ano passado e foi realizado pelo Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria ao Trabalhador (Cetra).

“Falei pro meu esposo: vou fazer um curso de pedreira. Não vai. Vou! Não vai, não. Vou! E, de tanto insistir e estar segura, foi meu esposo quem foi me deixar e buscar todos os dias do curso”, relata Antônia Lúcia Santana a insistência com o marido. Ao todo, já são nove sistemas de reúso como o dela implementados no território. “Queria aprender não para estar acima dos homens, mas ao lado, em capacidade de executar qualquer serviço”, argumenta Salvelina Mesquita.

O sistema de reuso d´água de cinzas é uma opção estratégica de convivência com o semiárido. A tecnologia social coleta, trata e reutiliza o descarte d´água do banho, da pia e da lavanderia para fortalecer quintais produtivos. O recurso contribui para segurança alimentar e nutricional e para geração de ocupação e renda, além de fortalecer o protagonismo feminino nas comunidades rurais. Além de aumentar a produtividade, as “reuseiras” ainda lucram com a venda de minhocas e húmus.

Além do uso correto das ferramentas, as mulheres aprendem que dependem muito pouco dos homens para qualquer atividade. “As mulheres agricultoras lutaram para serem reconhecidas formalmente como trabalhadoras e pessoas que têm direito a ter direitos. Ainda assim, mesmo hoje, são vistas pela sociedade como meras ajudantes, o que é uma injustiça diante da contribuição delas nas propriedades rurais”, argumenta Íris Tavares, coordenadora do Projeto Paulo Freire.