Os planos atuais para cortar as emissões globais de carbono ficarão 60% abaixo da meta de carbono zero para 2050, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). O informe, publicado nesta quarta-feira é um recado para os participantes da Cúpula do Clima (COP-26) que, será em novembro, em Glasgow, e reunirá governos de todo o mundo para que sejam feitos planos de política ambientais concretos.

Para a agência, o mundo está caminhando de forma “muito lenta para colocar as emissões globais em declínio sustentado em direção à neutralidade”. A AIE previu que as emissões de carbono diminuiriam em apenas 40% até a metade do século se os países cumprissem suas atuais promessas climáticas.

A organização disse que a diferença entre os planos atuais e a mudança necessária para atingir a meta de carbono zero era “gritante”, exigindo até US$ 4 trilhões em investimentos apenas na próxima década.

O diretor executivo da IEA, Fatih Birol, disse ao jornal britânico Guardian que as principais economias em recuperação da Covid-19 já estavam perdendo a oportunidade de estimular o investimento em energia limpa.

‘Recuperação insustentável’
— Estamos testemunhando uma recuperação insustentável da pandemia — disse ele, apontando para seções do relatório que mostram o uso do carvão crescendo fortemente, contribuindo para o segundo maior aumento nas emissões de CO2 da história.

Birol pediu que as economias em desenvolvimento, em particular, assumam compromissos mais rígidos para reduzir as emissões de carbono. Mas disse que isso não poderia acontecer sem que líderes das nações mais ricas participassem da COP-26 tomando medidas para desbloquear o fluxo de dinheiro para as economias emergentes, aplicando pressão sobre os investidores privados.

— Eu gostaria de ver os líderes mundiais … se unirem e darem uma mensagem política ao mundo de que estamos determinados a ter um futuro com energia limpa — falou. — (Eles deveriam dizer) que estamos determinados, se você investir em fontes de energia velhas, fontes de energia sujas, você está se arriscando a perder seu dinheiro. Se você investir em energia limpa, terá lucros consideráveis.

A AIE estima que 70% do investimento de US$ 4 trilhões necessário para atingir a meta de carbono zero devem ir para os mercados em desenvolvimento.

Energia limpa
Birol disse que os líderes mundiais mais poderosos podem tornar uma “tarefa obrigatória” para organizações como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional priorizar projetos de energia limpa nesses países, agindo como um catalisador para o capital privado.

O alerta foi feito em momento em que o Reino Unido e a Europa lutam contra preços altíssimos da gasolina e com perspectiva de altos custos para o inverno.

Esta crise destaca o perigo de depender de combustíveis fósseis sujeitos à volatilidade dos preços, mas também ao fato de a região ainda depender fortemente do gás, com as energias renováveis ainda incapazes de atender às necessidades de energia.

A AIE disse que este é um “aviso prévio” do risco de avançarmos muito lentamente para as energias renováveis.

Preço de energia
Enquanto a indústria pesada no Reino Unido implorava ao governo por mais apoio para sobreviver aos altos custos de energia, Birol reconheceu que “medidas temporárias” podem ser necessárias para salvar as indústrias em dificuldades, contanto que isso não seja às custas da transição para energia limpa.

Birol condenou como “imprecisas e enganosas” as afirmações recentes de que a crise do preço da energia foi parcialmente causada pelos esforços para fazer a transição.

— Veremos que, em um mundo de energia limpa, os choques provenientes da duplicação dos preços do petróleo e do gás serão muito menos sentidos pelos consumidores.

Segundo a AIE, mais de 40% da redução necessária nas emissões poderia vir de medidas que “se pagam”, como melhorar a eficiência, limitar o vazamento de gás ou instalar energia eólica ou solar em locais onde já são baratos e eficientes.

Também apontou para as oportunidades econômicas potenciais de zero líquido e disse que os compromissos existentes para reduzir as emissões criariam 13 milhões de empregos, mas que intensificar as medidas para cumprir a meta dobraria esse número.

(*) Com informações Agência O Globo