O Governador Camilo Santana (PT) trabalha para reaproximação entre o presidenciável Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e quer vê-los unidos para, segundo disse, em entrevista, nesta terça-feira, ao UOL, tirar o Brasil de um caminho obscuro. Ciro tem sido duro crítico do ex-presidente Lula e o discurso o deixou mais distante de lideranças nacionais do PT que o tratam hoje como adversário.
Como a política é a arte do diálogo, Camilo Santana mergulha no discurso da ponderação na busca da reconciliação entre Ciro e Lula.
“O que tenho procurado defender e construir é que possamos estar juntos [em 2022]. Eu provoquei um encontro de Ciro e Lula em setembro do ano passado. Fazia anos que eles não se encontravam. Acredito que eles têm muito mais convergências do que divergências”, disse o governador.
Embora estejam hoje em rota de colisão, Lula e Ciro entram na corrida ao Palácio do Planalto com um objetivo: derrotar o presidente Jair Bolsonaro que se preparar para concorrer à reeleição. Ciro esteve no palanque de Lula e, entre os anos de 2003 e 2006, comandou o Ministério da Integração Nacional na gestão petistas.
ALTOS E BAIXOS NA RELAÇÃO
A relação entre ambos tem altos e baixos, com rompimentos e reconciliação. O quadro atual é de ásperas críticas de Ciro a Lula o que os deixa distantes, mas, nesse contexto, como bombeiro, aparece o Governador Camilo Santana. A postura de conciliador exercida por Camilo agrada a muitos petistas, mas desagrada outros que consideram injustas as críticas do pedetista ao ex-presidente Lula. O tom de conciliador se retrata, também, em uma frase: “Precisamos acalmar os ânimos”, disse Camilo, na entrevista ao UOL.
Camilo, na longa entrevista, revelou que muitas vezes não concorda com Ciro, que sabe do posicionamento, mas destaca qualidades no ex-governador do Ceará.
‘’Ciro é um dos mais inteligentes do país. Lula foi um dos melhores presidentes que o país já teve. Eu vou continuar na crença e no diálogo para construir caminhos, para tirar Brasil desse caminho obscuro que enxergamos. Eu posso até ser a pessoa que está sonhando, mas continuo acreditando que é possível construir caminhos para 2022’’, observa o governador cearense.
POSIÇÃO A SER ASSUMIDA EM CASO DE CONFLITO
Questionado sobre em quem votaria caso uma aliança não aconteça, Camilo preferiu não se posicionar.
“Teremos tempo para avaliar e vamos tentar conduzir processo. Seria da minha parte uma antecipação tomar lado A ou B. São duas pessoas que eu tenho maior respeito e precisamos conduzir o processo até 2022”, esquiva-se Camilo que, na entrevista ao UOL, falou, também, sobre a importância de uma autocrítica do PT pelos erros cometidos.
Segundo Camilo, ao longo dos governos do PT, houve muitos acertos, mas também uma série de erros que precisam ser reconhecidos.
“Sempre defendi que o PT devia fazer autocrítica, se reinventar, redescobrir origens, buscar apostar em um projeto que seja de estado, e não político de quatro anos”, declarou.
Para o governador, assim como o Brasil teve crescimento e destaque internacional em suas políticas, os governos petistas cometeram erros, também, principalmente, na área econômica.
“Poderia ter sido feito mais pela população mais pobre, poderia ter apoiado reformas do ponto de vista tributário”, disse Santana, que defendeu uma reforma para tributação de patrimônios, por exemplo.
FUTURO POLÍTICO E O SENADO
Questionado sobre o futuro político, Camilo é bem reticente: “É claro que tem opções para avaliar, há perspectiva nesse sentido. Todas minhas decisões são coletivas. Se for importante pro Ceará, vamos avaliar essa candidatura”, declarou Camilo, ao ser questionado sobre uma possível candidatura ao Senado. Ele encerra o segundo mandato no Governo do Estado no dia 31 de dezembro de 2022 e, se decidir concorrer ao Senado ou à Câmara Federal, terá que se desincompatibilizar seis meses antes do pleito.
Durante a entrevista, Camilo Santana falou, também, sobre a crise sanitária e disse que o Falta de transparência e coordenação nacional na pandemia Governo Federal tem falhado desde o início na condução do problema, especialmente no que diz respeito a uma coordenação nacional com os estados e municípios para o enfrentamento da doença.
“Poucas vezes a maior autoridade do país convocou governadores para debater ações nesse sentido. Essa falta de coordenação, a negação à vacina’’, criticou Camilo, para, em seguida acrescentar. ‘’Poderíamos ter vacinado mais brasileiros. Não é crítica política, individual, é crítica institucional. É contra a falta de liderança”, observou.
Em outro trecho da entrevista, Camilo subiu o tom das críticas: “Temos país beirando a 500 mil perdas de vidas. Isso é lamentável. Poderíamos estar mais avançados se não tivesse picuinhas políticas, como em São Paulo, com o [Instituto] Butantan”, afirmou o governador, lembrando os entraves para a compra de doses da CoronaVac, produzida pelo Butantan em parceria com a chinesa Sinovac.