O Natal deste ano deverá ter números recordes de brasileiros com contas em atraso, com reflexos negativos sobre o consumo. Dados da Serasa Experian mostram que em outubro o número de consumidores inadimplentes (contas em atraso de mais de 90 dias) era de 61 milhões, 4,45% a mais que em outubro de 2016, quando somavam 58,4 milhões. É o maior contingente da série histórica da Serasa, iniciada em 2012, e que já tinha sido atingido em maio deste ano.

Embora os bancos continuem pisando no freio na concessão de crédito, da injeção de recursos na economia através da liberação do saque das contas inativas do FGTS, e da ligeira redução do desemprego, a inadimplência dos brasileiros cede num ritmo mais lento que o esperado. Números dos Banco Centra divulgados na semana passada confirmam essa tendência. Segundo o BC, o nível de atrasos superiores a noventa dias, ficou estável em outubro, em 3,6%.

 

O assistente administrativo Saulo Augusto Martins, de 26 anos, perdeu o emprego em julho de 2016 e atrasou o pagamento do cartão de crédito. Entrou no rotativo e a dívida que era de R$ 2,6 mil subiu para R$ 3,5 mil, tornando-se impagável.

De volta ao mercado formal de trabalho este ano, Martins conseguiu renegociar seus débitos num feirão que o Serasa está promovendo pela internet com 1,7 mil empresas até o final deste mês. Teve duas propostas: pagar R$ 1,5 mil à vista, um desconto de 58% da dívida total, ou dividir em doze parcelas de R$ 175,00, totalizando R$ 2,1 mil, desconto de 40%. Ele optou pelo parcelamento, já que as prestações cabiam no seu orçamento.

Mesmo com a injeção de R$ 44 bilhões na economia dos recursos das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), este ano, a inadimplência se manteve em nível elevado por uma razão simples. Na média, cada devedor tinha pelo menos quatro contas em atraso. Quem tinha direito ao dinheiro do FGTS usou para quitar pelo menos uma das dívidas, mas ainda ficou com o nome na lista dos inadimplentes.

Por isso, o Natal pode ter vendas menores do que o esperado. Uma pesquisa da Associação nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostra que 85% dos consumidores pretendem utilizar o 13º salário para o pagamento de dívidas já contraídas e a maioria quer reduzir os gastos no Natal.

Crédito do Jornal O Globo