Candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro parece querer aprofundar as mudanças na reforma trabalhista feitas pelo presidente Michel Temer (MDB). Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o candidato defendeu a adoção de uma CLT “diferente” para os trabalhadores rurais, com menos direitos do que os de empregados urbanos.
Questionado sobre como planeja lidar com o problema do desemprego no campo se for eleito, Bolsonaro disse: “É difícil ser patrão no Brasil. Eu podia ter uma microempresa no Rio. Dadas as condições que existem na lei, você é desestimulado. Acho que no campo a CLT tinha que ser diferente. O homem do campo não pode parar no Carnaval, sábado, domingo e feriado. A planta vai estragar, ele tem que colher. E fica oneroso demais o homem do campo observar essas folgas nessas datas, como existe na área urbana.”
O candidato também declarou que o empreendedor rural enfrenta outras “dificuldades” além da legislação trabalhista. Mencionou as multas “excessivas” impostas pelo Ibama e as normas fixadas pela CTNBio, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Sobre a crescente substituição da mão de obra pelas máquinas, Bolsonaro declarou: “Essas pessoas têm que ser treinadas para fazer outra coisa.”
Num país que ainda convive com o trabalho em condições análogas às da escravidão, o entrevistado revelou-se partidário da tese segundo a qual o melhor que o Estado pode fazer na área trabalhista é se retirar de cena: “Se o governo não atrapalhar o empreendedor e o trabalhador com essa legislação enorme e com fiscalizações absurdas, com toda a certeza melhoraremos a questão do desemprego no Brasil”.
A pregação ultraliberal de Bolsonaro a favor da supressão de direitos dos trabalhadores rurais foi a única novidade relevante extraída do candidato em uma hora e vinte minutos de entrevista. Ele já havia expressado sua aversão à CLT noutras oportunidades. “É melhor menos direitos e emprego do que todos os direitos e desemprego”, dissera.
Mas era desconhecida sua disposição de impor tratamento mais draconiano ao empregado rural, praticamente extinguindo o chamado repouso remunerado. No mais, Bolsonaro aproveitou o palco para reforçar estereótipos que lhe renderam a primeira colocação nas pesquisas, nos cenários sem Lula.
Pressionou teclas coisas como a aversão ao sistema de cotas para negros em universidades e concursos públicos, a liberação indiscriminada do porte de armas, a defesa do extermínio de bandidos por policiais, os elogios ao presidente americano Donald Trump, a crítica à falta do voto impresso, a admissão de sua dependência em relação ao economista Paulo ‘Posto Ipiranga’ Guedes, a classificação dos militantes do MST como “terroristas”, a apologia da ditadura e um extenso etcétera que seu eleitorado adora ouvir.
Com informações do Uol Notícias