O novo presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Roberto Olinto, que tomou posse no dia 1º, disse hoje (21) que o instituto tem discutido nos fóruns internacionais de produção de estatística as formas de modernizar os processos, dentro do que preconiza os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas para o ano de 2030, também chamada de Agenda 2030, para melhorar a eficiência do uso da informação gerada em cada país.

“A modernização, na verdade, é uma ideia um pouco mais estratégica de começar a olhar toda a produção de informação no Brasil, sejam registros administrativos, dados fiscais, informações estatísticas, de uma forma mais integrada, que você possa caminhar para ter um sistema nacional de informação, compartilhamento de base de dados entre diferentes produtores, mais eficiência na gestão dos dados,  e da gestão do conhecimento”, disse.

Olinto concedeu uma coletiva de imprensa na sede do órgão, na região central do Rio de Janeiro. De acordo com ele, o caminho natural dos institutos de estatística é a abertura e integração maior entre os diversos órgãos que produzem informação. “Por exemplo, o controle fiscal, essa informação pode ser usada para um fim estatístico, complementar ou substituir uma informação que o instituto de estatística está trabalhando. Então a gente compartilha esse dado e amplia a nossa possibilidade de trabalhar.”

Uma das ideias é utilizar os dados das notas fiscais eletrônicas, mantendo-se o sigilo fiscal, para fazer pesquisas de consumo muito mais completas e regionalizadas. “A gente já conversou com alguns estados, estamos começando a fazer alguns testes para ver a viabilidade do uso desses dados, para avançar e tentar fazer convênios com os estados ou com o Conselho Nacional de Política Fazendária, para que a gente possa ter acesso à nota fiscal eletrônica, que seria uma revolução para as contas regionais, para informações regionais. A riqueza da nota fiscal eletrônica, para uso estatístico é imenso, é o que a gente está tentando explorar.”

Ele destaca também as novas áreas e tecnologias, como as técnicas de Big Data (estudo sobre grande volume de dados) para coleta de informação. “Modernizar determinadas questões de tecnologia de informação que estão muito recentes hoje, compartilhar informação com empresas para fazer estudos, por exemplo, de mobilidade. São áreas novas, hoje existe uma quantidade enorme de dados e uma velocidade na produção e análise de dados cada vez maior. Isso é a modernização do instituto de estatística, acompanhar essa tendência”.

O presidente do IBGE também informou que pretende ampliar a cooperação sul-sul, que já é feita com países da África e da América Latina, com apoio no censo demográfico desses países e empréstimo de dispositivos de coleta de dados. Outra tendência mundial que o Brasil está começando a pensar é a pesquisa do uso do tempo, computando dessa forma o trabalho doméstico não remunerado na produção do país.

“Com a pesquisa do uso do tempo você vai saber o quanto as pessoas se dedicam ao lazer, aos trabalhos domésticos, cuidar de criança, cozinhar. Com isso é possível começar a ter uma avaliação de quanto as pessoas se dedicam a fazer trabalhos nas residências e isso não é considerado ainda na produção, mas se pode fazer uma estimativa disso em paralelo, para dimensionar um pouco o fenômeno dentro da economia brasileira. Está tudo começando, existem protótipos, alguns países já tem pesquisas do uso do tempo mais frequente, a gente já fez uma no passado e vai partir para uma outra agora,” explicou.

Olinto é funcionário de carreira do IBGE desde 1980 e garante que o instituto não sofre nenhum tipo de pressão. “O IBGE é um instituto de uma solidez técnica, se pedir para um diretor manipular dados, vai ter 5 mil funcionários para não deixar ele manipular, é o mesmo instituto, que tem 81 anos. O presidente não tem muita importância, tem uma equipe técnica, um conselho diretor. É um instituto muito bem organizado. Esse ano a gente perdeu muito tempo respondendo besteira”, explicou ele, sobre a acusação de que o IBGE teria mudado a forma de cálculo de alguns índices que compõem o Produto Interno Bruto de forma que o indicador apresentou crescimento no primeiro trimestre.

Outra especulação que Olinto rechaçou foi a de que o IBGE poderia vender pesquisas ou informações. Segundo ele, existe um fundo para o financiamento de estatísticas que precisa ser reativado e pode ser alimentado por meio de convênios com órgãos públicos ou empresas privadas. Porém, a divulgação das informações recolhidas, mesmo que sob encomenda, continuarão sendo públicas.

“A gente tem protocolos de divulgação. Toda estatística é demandada pela sociedade, com acesso público sem nenhuma restrição, a não ser a lei do sigilo. Quem nos financia, não importa. Se tiver uma empresa que queira encomendar uma pesquisa, nada contra, desde que sejam respeitadas as nossas condições éticas da informação. A parceira para a produção de estatística é bem-vinda, mas a exclusividade não existe.”

Com informações Agencia Brasil