Em Fortaleza, o aumento de mortes de meninas foi de 90,32% / Foto: Reprodução Unicef

O número de homicídios entre meninas aumentou no Ceará em 2018. O levantamento feito pelo relatório Cada Vida Importa e apresentado na Assembleia Legislativa do Ceará na última sexta-feira (10) mostra que entre os 184 municípios cearenses, 27 registraram pelo menos uma morte de menina na faixa etária de 10 a 19 anos.

Segundo o relatório, mesmo nos municípios onde houve queda no número de homicídios na população dessa faixa etária, as mortes de meninas superaram as ocorridas no mesmo período de 2017. Em Fortaleza, o aumento de mortes de meninas foi de 90,32%; em Caucaia, de 42,86%. Os números cresceram também em Sobral, Itarema e Pacajus.

O relator do colegiado, deputado Renato Roseno (Psol), ressaltou que houve um aumento acentuado de homicídios de meninas no estado por três anos consecutivos. Segundo ele, o número passou de 26 mortes de adolescentes do sexo feminino em 2016 para 80, em 2017, e 114, em 2018.

A dinâmica do assassinato de meninas é muito forte. Precisamos compreender por que tem tanta menina sendo assassinada.

Número de vítimas com menos de 15 anos

Outro número que preocupa é a quantidade de jovens que foram assassinados no estado. O número de vítimas com menos de 15 anos praticamente triplicou em Fortaleza, no período pesquisado. “Essa morte tornou-se mais feminina, mais interiorizada e mais jovem”, avaliou Roseno.

Número de assassinatos por município:

  1. Fortaleza – 308;
  2. Caucaia – 81;
  3. Maracanaú – 47;
  4. Maranguape – 30;
  5. Sobral – 24;
  6. Horizonte – 22;
  7. Aquiraz – 17;
  8. Juazeiro do Norte – 17;
  9. Pacajus – 16;
  10. Itarema – 13.

O coordenador do escritório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em Fortaleza, Rui Aguiar, informou que 20.652 crianças e adolescente morreram nos últimos 19 anos (2000 a 2018) no Ceará. “São todas causas evitáveis”, afirmou. Segundo ele, 50% das mortes está relacionada a homicídios, 22% a acidentes de trânsito e 4% a suicídio.

Trânsito

O coordenador do Centro de Apoio Operacional da Cidadania (CAOCidadania) do Ministério Público do Ceará, promotor Hugo Porto, apontou os gastos com mortes e feridos no trânsito que impactam na saúde pública. Em 2015, o Ceará gastou R$ 1 bilhão com mortes e feridos; o Brasil gasta R$ 56 bilhões no atendimento dessas ocorrências.

Ele defendeu, ainda, o projeto Municipaliza, que tem como objetivo integrar os municípios cearenses ao Sistema Nacional do Trânsito (SNT). Segundo ele, 69 cidades estão integradas formalmente, mas na prática não funcionam. Para ele, é necessário atacar diretamente a sobrecarga dos acidentes de trânsito.

A ideia é que a gente crie uma grande rede de disciplinamento do trânsito nos municípios e atacar diretamente a sobrecarga desses acidentes no sistema de saúde, questões de segurança pública e evasão de receita.

Foto: Reprodução da AL – Paulo Rocha

O Comitê

O documento, referente ao segundo semestre do ano passado, foi lançado, na Assembleia Legislativa do Ceará, no Seminário “A Segunda Década da Vida – Prevenindo Mortes por Causas Externas na Adolescência”, que reuniu gestores da Assistência Social de 169 municípios cearenses inscritos no Selo Unicef.

O intuito ´é debater políticas públicas que evitem mortes por causas  externas – homicídio, suicídio e acidentes de trânsito – na infância e adolescência. O relatório foi apresentado pelo Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no auditório João Frederico Ferreira Gomes, na Assembleia Legislativa.

O Comitê foi instituído em 2016. Na sexta-feira, o presidente da Casa, deputado José Sarto (PDT), afirmou que o colegiado tem elaborado sugestões em diversas áreas, buscando identificar causas da violência contra jovens e apontar política de prevenção. O presidente ainda lembrou de ações realizadas pelo governo do estado com esse propósito.