Um incêndio controlado só no domingo (24) destruiu 1.200 hectares de mata atlântica na serra da Bocaina, divisa de SP com RJ. A Chapada dos Guimarães, em MT, perdeu 4.300 hectares entre agosto e setembro. No parque da Ilha Grande (divisa de MS com o PR), chamas queimaram 35 mil hectares. O Parque Nacional do Araguaia, no TO, também sofre com o fogo.
Este ano vem batendo recordes de queimadas. Só nos primeiros 27 dias de setembro, o sistema de monitoramento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) já identificou 105 mil focos de incêndio, recorde desde que o instituto começou a monitorá-los, em 1998.Em setembro de 2016, foram 44 mil focos. A média para o mês é 55 mil.
O acumulado de janeiro a setembro também é o maior da série histórica, com 195 mil focos, 51% a mais que 2016. Especialistas ouvidos pela Folha são unânimes quanto à origem do fogo: “Nessa época do ano, praticamente 100% dos incêndios são causados por ação humana”, diz Gabriel Zacharias, coordenador do Prevfogo, órgão do Ibama de prevenção e combate às queimadas.
“A intensidade, a expansão, o impacto na vegetação, a dificuldade de combate, tudo isso tem relação com o clima seco e ajuda a propagar o incêndio florestal. Mas isso não começa o fogo, o que começa é a ação humana”, diz. Alberto Setzer, coordenador do monitoramento de queimadas do Inpe, elenca uma série de causas, como facilitar a derrubada de florestas, dar fim à matéria orgânica, impedir que a vegetação renasça e criar pastos.
Cita também conflitos territoriais, descontrole no manejo de plantações e queima de lixo. Não raro, queimadas também são provocadas por fogueiras de caçadores e pessoas que acampam, além de acidentes com automóveis.
E por que este ano é o pior? Pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA, Cláudia Ramos, diz que “há uma tendências histórica de que toda vez em que há uma baixa na economia, que o governo fica sem recursos, as ações de comando e controle ficam desfalcadas”. Com uma fiscalização menor, as pessoas ficam menos inibidas a iniciar as queimadas, diz.
“O mais importante é não colocar a culpa na seca, que acontece há anos, com maior ou menos intensidade. Enquanto não houver uma fiscalização que consiga dar conta desse monte de queimadas, a gente vai lidar com incêndios florestais. E no ano que vem você vai me ligar de novo para saber por que os incêndios aumentaram”, diz.
Setzer, do Inpe, concorda, e não vislumbra uma melhora no cenário nos próximos meses. “Aqui no Sudeste, logo começa a época de chuvas e a tendência é que diminua o número de queimadas. No sul do Pará e em outros lugares, o pico é em outubro.”
Crédito do Jornal Folha de São Paulo