Bem longe das capitais, um novo Brasil vem despertando o interesse de centenas de pequenas empresas de telecomunicações. Como as grandes operadoras deixaram as cidades do interior em segundo plano, empresários locais passaram a investir para atender a quem até bem pouco tempo não tinha internet fixa. E a estratégia parece dar certo: as companhias regionais cresceram 66% nos últimos três anos, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). São hoje mais de 6,6 milhões de clientes e uma fatia de mercado de 23,5% no segmento de banda larga fixa.
Os números mostram que o interior do país que ainda dá os primeiros passos na internet não é atendido pelas gigantes do setor. Segundo o Comitê Gestor da Internet, no Brasil, quase 40% das famílias não têm acesso à rede. As 1.500 teles regionais respondem por oito de cada dez novas vendas de banda larga fixa. Enquanto as pequenas crescem, as grandes amargam perdas. Em três anos, a fatia da Claro baixou de 32,3% para 30,5%. A Vivo viu sua participação cair de 28,6% para 25,8%, assim como a Oi, que passou de 25% para 20,9%.
“Boa parte do país não está na lista de prioridades das grandes empresas. Há alguns anos, os pequenos provedores do interior eram dependentes das principais teles. Essas companhias, então, começaram a construir suas próprias redes e a contratar o serviço de outros fornecedores, que passaram a investir no país, como companhias de cabos submarinos. Em média, as operadoras locais atuam em até quatro cidades. Vão construindo rede até a casa do cliente e conquistam novos usuários no boca a boca”, disse João Moura, presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp).
Solução de baixo custo
Na Bahia, a Use Telecom foi fundada em 2013. A ideia era atender e lucrar com as cidades no interior do estado mal atendidas pelas grandes companhias. Em cinco anos, a operadora já conquistou 300 mil clientes em 180 cidades baianas. A estratégia, revelou André Costa, diretor-presidente da empresa, é expandir as operações onde não há competição. Ele cita locais como o oeste do estado, além de cidades como Barreiras, Feira de Santana, Itabuna e Teixeira de Freitas.
“Há demanda por internet nessas localidades, mas uma grande tele teria de investir um valor alto para chegar a pequenas cidades, o que talvez não seja interessante do ponto de vista econômico. Elas optam por mercados maiores. Aqui na empresa, a demanda planejada de internet para um ano foi alcançada em um mês”.
Assim, ele lembrou que a empresa investiu R$ 8 milhões nos últimos doze meses. Além da Bahia, o executivo destacou que iniciou operações em Sergipe no ano passado e analisa a possibilidade de chegar ao Piauí. “Compramos no ano passado uma empresa de fibra óptica para ter uma rede que consiga suportar a demanda. Hoje, em quase todas as cidades temos fibra, mas em alguns pontos fazemos complementação com rádio, como em Morro de São Paulo”, disse Costa.
Instalada no semiárido, em Pereiro, cidade cearense de 16 mil habitantes, a Brisanet leva internet a 220 mil assinantes de cidades do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco. O fundador, José Roberto Nogueira, iniciou o projeto em 1998 para conectar localidades onde as grandes teles não tinham interesse em chegar.
“Como meu capital inicial era baixo, era impossível empreender em grandes cidades. Fui desenvolvendo soluções de baixo custo para levar internet, sem a necessidade de linha telefônica, via rádio, a regiões isoladas. Em 2010, a Brisanet estava em 150 pequenas cidades nordestinas numa área equivalente ao estado de São Paulo”.
Um ano depois, fez um projeto-piloto que conectou com fibra óptica a cidade de Pau dos Ferros, no interior do Rio Grande do Norte. Hoje, além de internet por fibra óptica, vende serviços de telefonia fixa, TV a cabo e, mais recentemente, de telefonia móvel. “Nosso foco é o Nordeste. Crescer na borda da rede onde já estamos”.
Com informações do Jornal O Globo