O ódio selvagem e primitivo exalado pelos criminosos durante os atos de terrorismo golpista que feriram a Democracia brasileira, atacada covardemente em seus símbolos, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto, não tem precedentes na história política nacional pois não faz parte da cultura e da índole da imensa maioria do nosso povo.
Fora dos períodos de guerras por hegemonia geopolítica ou religiosa, a destruição violenta de símbolos institucionais também tem poucos paralelos no mundo. A mais recente e relembrada, exatamente por sua origem, similaridade e identificação política e ideológica, é a invasão do Congresso dos Estados Unidos, conhecido como Capitólio.
Considerado o mais violento ataque à Democracia norte-americana e contra a legítima vitória do Presidente Joe Biden, foi arquitetado pelo maniqueísta Donald Trump. O ex-presidente e seus cúmplices estão sendo processados, alguns já condenados e presos.
Trump, apesar do uso maciço de redes sociais legais e ilegais e notícias falsas, pelo menos teve a coragem de cometer o desatino de peito aberto, frente às câmeras e ainda no cargo, sem entocar-se em lugar nenhum.
O que certamente já o custa muito caro e ainda custará mais com a possível perda dos direitos políticos, em um processo já longo, mas firme, implacável, sem concessões políticas, por incitação ou participação em atos violentos contra Poderes legalmente constituídos.
Pouco surpreendente, pelo menos para quem acompanha e vive política, que a desatinada pataquada trumpista tenha sido requentada no Brasil em trágica montagem.
Nossa América do Sul tem histórico de revoltas políticas violentas ou motivadas por sentimentos de indignação e injustiça social. Um exemplo em andamento é o que acontece no Peru, onde os protestos iniciados em dezembro passado contra a atual Presidente Dina Boluarte já deixaram quase injustificáveis 50 mortos, mas sem notícias de destruições semelhantes ao que foi praticado na Praça dos Três Poderes.
As memórias mais vivas de radicalismo intolerante que podemos comparar ao que aconteceu em Brasília são as destruições de patrimônios históricos e culturais, alguns com cerca de 1,5 mil anos, perpetradas pelos fanáticos Talibãs, quando tomaram o poder no Afeganistão, em 2001.
O vigoroso alento de esperança que podemos tirar da nossa tragédia foi a união imediata das mais diferentes lideranças políticas, sociais e institucionais, isolando os radicais criminosos e fascistas e cerrando fileiras em confirmação aos princípios que assentam a nossa Democracia.
Surpreendente e inadmissível será se nossas autoridades judiciárias, mas também as políticas, não agirem com o rigor e a persistência até agora demonstrados pelas autoridades norte-americanas. Ressalte-se que até o momento não há sinais de afrouxamento, ao contrário. Democracia exige respeito às Instituições, aos adversários políticos e a aplicação rigorosa da Lei.