O PDT trabalha dentro do próprio partido para amenizar o estrago do pavio curto e da língua afiada seu presidenciável, Ciro Gomes. A sigla tenta evitar que as declarações de Ciro prejudiquem sua imagem de pré-candidato à Presidência. A estratégia é amenizar os ataques de ira protagonizados pelo presidenciável e, assim, tentar tratar como indignação de um cidadão comum episódios que os opositores classificam como atos de desequilíbrio.
Um vídeo de 30 segundos divulgado nesta semana nas redes sociais antecipa o tom que deve ser usado para rebater as críticas na campanha. A publicação feita a partir de uma sequência de fotos e legendas destaca que “Ciro é indignado” e “não se conforma com a corrupção e as injustiças.” O objetivo da campanha é claro: que os ataques a políticos e também a cidadãos anônimos sejam entendidos como vontade de mudar o cenário político atual.
“Ciro está preparado para encarar a campanha, uma gestão de quatro anos, em um momento em que o povo brasileiro também está indignado. Então, talvez, essa indignação seja reflexo do povo com a situação do novo país”, diz o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo, do Ceará.
O presidente do PDT, Carlos Lupi afirma que explorar a indignação de Ciro é uma forma de exaltar a imagem do político com autoridade para comandar o país. “Mais do que nunca, o Brasil necessita de alguém que tem experiência, vida limpa e coragem para fazer o enfrentamento. Não é com hipocrisia, palavra bonita, para agradar fulano ou beltrano, mas com clareza e falando o que acha que está correto” diz Lupi.
Não é a primeira vez que a indignação é usada como artificio para tentar justificar o perfil intempestivo do pré-candidato. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em maio, Ciro admitiu que está se esforçando para não ceder aos seus impulsos. “As pessoas acham que eu sou exagerado. Estão ferrando nossa pátria. Para mim, criminoso é quem se omite, quem não denuncia, quem fica colocando pano morno a pretexto que a gente tem que ter uma linguagem elegante, aristocrática. Estou até me esforçando. Não é possível que vocês não reconheçam isso, que estou falando com palavras mais afirmadas”, justificou.
O pedetista, que já declarou não ser “candidato a madre superiora de convento”, coleciona controvérsias e pelo menos 99 processos por indenizações ou crimes contra a honra por causa da agressividade nos discursos. Um dos episódios mais recentes ocorreu em junho, quando chamou o vereador paulista Fernando Holiday (DEM), um dos líderes do Movimento Brasil Livre, de “capitãozinho do mato.” Também recentemente, encerrou intempestivamente sua participação num congresso, diante de vaias, e também foi vaiado ao criticar a reforma trabalhista para uma plateia de empresários em Brasília. “Pois é, vai ser assim mesmo, se quiserem um presidente fraco, escolham um desses com conversa fiada aqui para vocês” reagiu Ciro na ocasião.
A artilharia verborrágica do pedetista tem mirado principalmente o deputado federal Jair Bolsonaro, pré-candidato pelo PSL. Ciro o chamou de “boçal”, “maluco” e “câncer a ser extirpado.” Na avaliação de Cid Gomes, irmão de Ciro e um dos coordenadores da pré-campanha, a resposta às críticas ao temperamento imprevisível é a própria biografia do pré-candidato. “(Ciro) Já ocupou diversas funções na política. E em toda a sua trajetória, de 38 anos, não se envolveu em um ato ilícito sequer”.
Com informações do Jornal O Globo