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O dia 7 de outubro é a data do primeiro turno das eleições deste ano, mas é também quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) completa seis meses preso na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba.

Mesmo na prisão, porém, Lula exerceu forte influência sobre a disputa presidencial, que finda sua primeira fase também neste domingo e que provavelmente irá ao segundo turno, com uma disputa entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

Lula se entregou à PF em 7 de abril, um dia após o prazo dado pelo juiz federal Sergio Moro, que ordenou o início da execução de sua pena no processo do tríplex. Na ocasião, o ex-presidente já era anunciado como pré-candidato do PT ao Planalto, mesmo estando inelegível desde janeiro em razão da Lei da Ficha Limpa.

Como Lula foi condenado por órgão colegiado – caso da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) – por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ele não poderia disputar a eleição. Apesar do impedimento iminente, que foi confirmado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 1º de setembro, Lula se mostrava como uma das principais forças na corrida pela Presidência.

Nas últimas pesquisas em que teve seu nome consultado pelos institutos, o ex-presidente chegou a atingir a marca de 39% das intenções de voto. Nesses seis meses em que está preso, Lula recebeu dezenas de políticos. A situação, inclusive, fez a força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) na Operação Lava Jato considerar que Lula havia transformado a sede da PF em um “comitê de campanha”.

Entre os visitantes mais comuns estava Fernando Haddad (PT), que foi coordenador de seu programa de governo e, depois, seu candidato a vice na chapa presidencial. Desde 11 de setembro, Haddad é o candidato do PT ao Planalto. Petistas e especialistas avaliam que a estratégia do partido de manter o nome ex-presidente como candidato até o prazo máximo possível foi acertada.

Para especialista, estratégia petista deu certo

Foi na PF que Lula articulou uma série de alianças em torno de sua candidatura, que, mais tarde, viria a ser de Haddad. O ex-presidente fez o PCdoB desistir de ter a deputada estadual Manuela D’Ávila (RS) como principal nome na disputa. Manuela, então, foi deslocada para vice de Haddad, em uma aliança com o PT. O PCdoB, que não acreditava na viabilidade jurídica da candidatura de Lula, só aceitou a aliança sabendo que a chapa seria formada entre o ex-prefeito paulistano e a Manuela.

Lula também conseguiu fazer com que o PSB ficasse neutro na disputa, partido cobiçado pelo presidenciável Ciro Gomes (PDT), que terminou isolado dentro da esquerda. Com a manobra do ex-presidente, Ciro passou a criticar intensamente as administrações do PT e o próprio Haddad.

Outro efeito do acerto foi o PT abrir mão de sua candidatura ao governo de Pernambuco em favor da tentativa de reeleição de Paulo Câmara (PSB). Essas decisões foram tomadas praticamente na última hora. Haddad e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, chegaram a abandonar uma reunião da Executiva do partido, em São Paulo, para ir a Curitiba consultar Lula. E isso a horas do início da convenção do partido para definir a candidatura petista.

A importância de Lula na disputa presidencial também foi simbolizada no processo de troca de Lula por Haddad. As principais lideranças do partido se deslocaram em peso para Curitiba e, na frente da PF, acompanharam o anúncio da substituição junto de algumas dezenas de militantes. Antes, Haddad havia passado praticamente dias inteiros na sala onde Lula cumpre sua pena para discutir a transição.

Para Fernando Schuler, cientista político do Insper, o PT enfrentaria mais dificuldades se tivesse apostado em Haddad como seu candidato desde o início, sem registrar Lula antes. “Esticar essa corda, criar o drama, ocupar espaço na mídia, criar essa narrativa toda e, na última hora possível, tentar fazer uma transferência rápida foi uma estratégia correta”, avalia.

Líder do PT na Câmara, o deputado federal Paulo Pimenta (RS) concorda. “Foi decisivo passar por todas as etapas do processo até a inscrição da candidatura”, disse, indicando que parte da sociedade estaria avaliando o caso como uma perseguição ao ex-presidente. “Aqueles que imaginavam que a prisão dele seria uma maneira de deixá-lo fora da eleição se depararam com uma situação totalmente contrária.”

“Transformaram Lula no fator decisivo da eleição ao ponto que nós temos o objetivo de vencer a eleição com alguém que está simplesmente representando ele”, completou Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara.

Para o ex-ministro Alexandre Padilha, um dos vice-presidentes do PT, a estratégia de ir com Lula até o limite foi importante. “Eu acreditava que esse processo de transferência teria que deixar extremamente claro para o eleitor, para a base social do presidente Lula, que era fruto da violência cometida pela Justiça brasileira.”

A cientista política da Fundação Getulio Vargas (FGV), Lilian Furquim, aposta que, sem o apoio de Lula, Haddad conseguiria “os mesmos votos que teria o Boulos [candidato do PSOL] se estivesse em outro partido pequeno de esquerda”. “O Lula é a peça central, do meu ponto de vista, para o PT. Ele é o PT. Acho muito difícil a sobrevivência do partido sem a figura do Lula.”

A estrutura do PT, que tem quadros e instâncias, permitiu que Lula tivesse poder sobre o partido durante o processo eleitoral. “Ele consegue comandar o partido, transmitir seus recados, controlar o grupo dele. Isso faz com que a liderança do Lula seja transmitida”, comenta Schuler.

Foi algo, por exemplo, que não aconteceu com Jair Bolsonaro (PSL), que teve seu candidato a vice e seu líder econômico apresentando posições que o contrariavam. “Bolsonaro não conseguiu controlar o grupo dele e, mais um pouco, entrariam em choque”, afirmou o cientista político.

Segunda-feira: dia de visita

Os encontros entre Lula e Haddad são constantes. Toda segunda-feira, o candidato, que foi incluído na equipe de advogados do ex-presidente, vê Lula na PF. Desde a troca na candidatura, foram três encontros até o primeiro turno. Nesse período, é possível verificar que as críticas de Haddad à Bolsonaro foram subindo de tom gradativamente.

No começo, ele mal citava o nome do candidato do PSL e centrava críticas a membros da equipe dele, como o candidato a vice, general Hamilton Mourão (PRTB). Depois, Haddad passou a dizer que a democracia estava sob ameaça diária com suposições sobre urna eletrônica e o resultado eleitoral, temas repetidos por Bolsonaro.

Já nesta semana, Haddad passou a criticar diretamente seu principal adversário na disputa e provável oponente no segundo turno. Ele passou a ligar Bolsonaro a notícias falsas contra ele que circulam por WhatsApp.

Com informações do Portal Uol Notícias