Os brasileiros tem tanto medo da violência urbana em seus bairros quanto tem da Polícia Militar. A proporção é de 1 a cada 3, é o que mostra a pesquisa inédita “Medo e percepção de segurança”, do Instituto Datafolha.
O levantamento foi realizado em 194 municípios brasileiros e apontou que 49% dos brasileiros têm medo de ser alvo de violência por parte da Polícia Militar e 60% têm medo de andar nas ruas da vizinhança depois do anoitecer. No entanto, um terço (35%) tem medo das duas coisas.
Segundo especialistas, a sensação de vulnerabilidade e a ideia de que não há a quem recorrer, promove isolamento, enfraquece a coesão social e favorece a busca individual de medidas de segurança, nem sempre lícitas e que não melhoram o quadro geral.
Segundo o ex-secretário da Segurança Pública do Distrito Federal e professor da Universidade de Brasília, Arthur Trindade, o temor da polícia ou do crime não necessariamente estão ligados a uma experiência anterior de violência. Por isso, não necessariamente quem foi vítima de um crime ou de abuso policial tem mais medo que aqueles que nunca passaram por isso.
AMEDRONTADOS
O medo e a insegurança são maiores entre pessoas de baixa renda –55% têm medo da polícia militar e 62%, de andar nas ruas de noite– porque vivem em bairros menos estruturados e mais vulneráveis.
Pretos e pardos também estão mais sujeitos ao medo pela questão de renda e, portanto, do local de moradia –57% daqueles que têm medo das ruas e da polícia são negros.
Idosos e mulheres completam o perfil dos brasileiros que mais são vítimas da sensação de insegurança. Ainda de acordo com o ex-secretário, o homem tem medo de sofrer um assalto na rua, enquanto a mulher ainda é vítima em potencial de crimes de estupro. Registros oficiais contam 50 mil estupros por ano no Brasil.
É por isso que, enquanto 52% dos homens têm medo de andar na rua após anoitecer, entre mulheres o índice é de 68%. Entre quem tem medo das ruas e da polícia, 56% é do sexo feminino.
De acordo com pesquisa do Latinobarômetro de 2015, só 7% dos brasileiros confiam em seus pares (o menor índice da América Latina). Estudos brasileiros também apontam índices baixos de confiança nas polícias, em geral em torno de 30%.