Diversos estudos realizados mostram que desde março de 2020, quando teve início a pandemia por covid-19 no mundo, a saúde mental das pessoas acabou sendo afetada devido à mudança brusca de rotina. Segundo estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e publicado pela revista The Lancet, os casos de depressão aumentaram 90% e o número de pessoas que relataram sintomas como crise de ansiedade e estresse agudo mais que dobrou.
Entre os sintomas que podem agravar o quadro de saúde podem ser citados: comportamentos ansiosos e depressivos, como angústia, vontade de se isolar, desânimo, irritabilidade, insônia, além dos sintomas físicos como pressão no peito, taquicardia, sudorese e dor de cabeça. Há casos de pacientes que afirmam sentir os mesmos sintomas relacionados ao coronavírus mesmo sem ter sido diagnosticados com Covid-19. A melhor forma de lidar com tudo isso e prevenir transtornos relacionados ao estresse é conversando, compartilhando as preocupações para buscar formas de amenizá-las.
Para o professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), João Ilo Coelho Barbosa, doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), estresse não é uma doença.
“A palavra estresse vem da física e quer dizer exatamente aquele momento anterior ao rompimento de um material, ou seja, um estado de tensão máximo de um material pode ser uma barra, um vidro, um cimento, qualquer coisa assim. Também é um termo usado na psicologia e na linguagem comum para dizer que a pessoa está no limite, prestes a se romper”, compara.
Diz que numa situação estressante as pessoas vão ter reações autonômicas, ligadas ao próprio corpo ou ligadas ao pensamento, principalmente, a ansiedade, que se dá na forma física, com liberação de adrenalina ao corpo.
“A pessoa vive situações de perigo real, pode suar as mãos, ficar trêmula, pálida e mais preparada para fugir ou enfrentar a situação. Isso é uma situação de estresse provocada por uma coisa pontual, quando acontece algo de imediato”, ressalta.
O professor observa que em caso de continuidade de situações estressantes, a pessoa pode ter outra reação, que ocorre mais a longo prazo, produzido por um hormônio chamado cortisol. Destaca que a função do cortisol é diminuir a quantidade de adrenalina, mas quando ele é liberado frequentemente pode trazer uma série de danos e prejuízos ao organismo, pois vai afetando e sobrecarregando outros órgãos. “Esse estresse que produz ansiedade pode complicar outros quadros, como depressão e outros transtornos de ansiedade. O estresse ou as situações estressantes podem contribuir para prejudicar quem já tem algum transtorno”, avalia.
João Ilo opina que o estresse pode ser um fator precipitador, mas ele não é a causa de uma depressão, que segundo ele, é causada por outros fatores até biológicos, ou ligados ao histórico das pessoas. Com relação a tratamentos, diz que existe o medicamentoso, em caso de um nível muito alto de estresse, “poderia até usar um ansiolítico e também terapia para a pessoa poder aprender a lidar com a situação, que pode ser a terapia comportamental. Existem estudos a respeito e mostram que funciona. Quanto a prevenção, o melhor é ter uma vida mais saudável, situações menos estressantes e momentos de escape, de lazer, e atividades físicas regulares”, observa.
Para ele, os fatores ambientais estressantes podem se somar a outros problemas de saúde, pois uma pessoa deprimida com situações estressantes pode ficar mais deprimida ainda e sujeita a pensar até em suicídio.
“O perigo do estresse constante é mais a longo prazo, ou seja, essa liberação do cortisol pode levar problemas mais crônicos no fígado, gastrite, úlcera, enfim, afeta uma série de órgãos quando isso é constante por longo tempo”, conclui.
(*) Com informações Câmara Municipal de Fortaleza