Um grupo de pesquisadores cearenses produziu moléculas derivadas de proteínas de plantas que evitariam a infecção pelo coronavírus, o que pode ser um passo para o desenvolvimento de um medicamento contra a doença. Um dos idealizadores do estudo é o biólogo Francisco Eilton Lopes, bolsista lotado no Centro de Educação Permanente em Atenção à Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará (CEATS-ESP/CE), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado. Trata-se do primeiro relato na literatura mundial em que moléculas desse tipo específico, ou seja, criadas em laboratório, podem impedir a infecção por Sars-Cov-2.
O trabalho foi publicado na revista International Journal of Biological Macromolecules, editada pela Elsevier, umas das maiores editoras científicas do mundo. Ao todo, cinco pesquisadores participaram do estudo com o apoio do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará (DBBM/UFC), ESP/CE e Núcleo de Biologia Experimental da Universidade de Fortaleza (Nubex-Unifor).
As moléculas sintéticas foram desenhadas por probabilidade, utilizando sequência de proteínas das plantas acácia-branca, mamona e erva-estrelada, que já possuíam histórico experimental pelos pesquisadores contra outros vírus. A produção teve como alvo a Spike glycoprotein, principal proteína do coronavírus. Com forma de espinho e exposta para o lado de fora do envelope lipídico do vírus, ela também é importante no reconhecimento de outra proteína existente nas células humanas, chamada de ACE2.
Ao interagir com a Spike glycoprotein do SARS-CoV-2, a ACE2 funciona como uma porta de entrada para as demais células humanas, iniciando a replicação viral e a infecção, conhecida como Covid-19. Os resultados obtidos sugerem que as moléculas sintéticas produzidas pelos pesquisadores locais podem interagir com a Spike glycoprotein e impedir a ligação dela com a ACE2.
Sem essa interação, o vírus não pode entrar na célula, não se replica e, portanto, a infecção não ocorre. Das oito moléculas produzidas, duas impossibilitaram a interação. A descoberta despertou o interesse da comunidade científica internacional e deve direcionar e servir de base a pesquisas futuras.
“Recebemos propostas de vários pesquisadores do mundo sobre o nosso trabalho. Um país já demonstrou interesse em fazer os testes”, explica Francisco Eilton Lopes, que idealizou o estudo junto ao pós-doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, Pedro Filho Noronha de Souza. A UFC fará o pedido de patente do experimento ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).