O comando da campanha do candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, já admite flexibilizar seu programa de governo em nome de um pacto contra a eleição de Jair Bolsonaro (PSL). A cúpula petista, com o endosso de interlocutores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já havia cedido ao retirar do plano proposta de convocação de uma assembleia nacional para revisão da Constituição.

Um integrante do comando da campanha recomenda a definição de dez pontos de convergência para elaboração de um programa comum, excluindo propostas polêmicas, com difícil aprovação no Congresso, como, por exemplo, a retirada da taxação de grandes fortunas.

Autor do plano de governo de Lula, o próprio Haddad afirmou, nessa segunda-feira, 15, que pretende “alargar o quanto puder” a frente de apoio a sua candidatura, “sobretudo com Ciro Gomes, que é um democrata, mas também com setores de outros partidos que lutaram pela redemocratização”. Para tanto, Haddad acena com a perspectiva de “um governo mais amplo que nunca”.

“Bolsonaro é uma ameaça concreta às instituições. Pelo Brasil democrático, estaria disposto a qualquer tipo de… Faço gestos todo dia”, afirmou Haddad, acrescentando que não poupará esforços “para evitar o pior”. Nessa segunda, 15, em Brasília, PT, PC do B, PSB, PSOL, PROS e PCB assinaram um manifesto estabelecendo uma “frente ampla pela democracia”. O PDT, que declarou apoio crítico a Haddad contra a candidatura de Bolsonaro, não participou.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), disse contar com todos que foram signatários da Constituição de 1988, “ou seja, a maioria dos partidos que está no Congresso Nacional, inclusive os partidos de centro-direita e que têm respeito à institucionalidade e à democracia”.

Em função disso, também explicitou a disposição de mexer no programa do governo. “Se você não tiver nenhuma intenção de fazer flexibilização, você não faz aliança, disputa a eleição sozinho”, afirmou a petista, ressaltando que questões como direitos dos trabalhadores e erradicação da fome são inegociáveis.

Sobre temas como legalização do aborto e descriminalização de drogas, Haddad afirmou que a “ideia de que o presidente da República imponha a agenda dele ao país em temas que dividem a sociedade é um equívoco”. “Essas pautas mais sensíveis, que envolvem valores, debates mais profundos, é papel do Congresso, do Supremo Tribunal Federal”, argumentou.

Coordenador da campanha de Haddad, o ex-governador Jaques Wagner afirma que “Fernando tem consciência que para ultrapassar este momento, ele tem que apontar para um governo amplo”. Repetindo a expressão “guarda-chuva” sob o qual estaria abrigada uma frente democrática, Wagner diz que a linha de corte para essa coalizão não tem que ser programática. Mas em reação a uma ameaça à democracia representada por Bolsonaro.

“Fizemos o Diretas Já para sair do autoritarismo. Temos que fazer outra para não entrarmos. A linha de corte não tem a ver com programático. É o item básico número um, a democracia”, justifica Wagner.

Líderes dos partidos disseram que já estão procurando quadros de outras legendas, inclusive MDB e PSDB, mas não quiseram citar nomes. Na tentativa de ampliar a frente, Haddad deve procurar Ciro Gomes, presidenciável pelo PDT derrotado ainda no primeiro turno, em busca de um apoio mais assertivo.

Ciro, no entanto, não pretende reafirmar apoio à candidatura petista. Em conversas reservadas, ele tem dito que já fez o aceno que deveria ter feito e que continuará se posicionado nas redes sociais apenas contra Bolsonaro, mas sem mencionar o petista.

Jogo de mão

Defensor de um acordo com o PDT já no primeiro turno, Wagner admitiu que a melhor estratégia para esquerda seria o lançamento de Ciro Gomes (PDT) à Presidência. Segundo o senador eleito pela Bahia, isso ainda é mais claro hoje, quando a equipe de Bolsonaro baseia sua estratégia no ataque ao PT.

“Está mais claro. O que eles têm a dizer? É anti-PT. É anti-PT”. Apesar dessa avaliação, Wagner refuta a proposta da senadora Katia Abreu de substituição de Haddad por Ciro neste segundo turno. “Seria jogo de mão”.

Com informações do Jornal Folha de São Paulo