O ex-juiz da Operação Lava Jato, Sérgio Moro, que ganhou notoriedade ao comandar a maior operação de combate à corrupção na história política do País, decidiu enfrentar as urnas em 2022 e, nesta quarta-feira, deu o ponto pé nesse caminho ao seu filiar ao Podemos. Moro não oficializou a pré-candidatura presidencial, mas aliados no Podemos o tem como o nome para construção da chamada terceira via ao Palácio do Planalto.

O discurso de estreia de Sérgio Moro na vida partidária foi duro e contundente. “Precisamos falar sobre corrupção. Combater não é projeto de vingança. É projeto de Justiça em forma da lei para, dessa forma, viabilizar reformas necessárias para melhorar a vida das pessoas. Chega de corrupção! Chega de mensalão, de petrolão, chega de rachadinha e chega de orçamento secreto”, bradou o ex-juiz da Lava Jato, ao se contrapor a mazelas carregadas nos Governo Lula e Bolsonaro.

A chamada terceira via na disputa pela Presidência da República tem um vazio por falta de nomes que leve entusiasmo aos eleitores e, por essa razão, Sérgio Moro pode ocupar esse espaço, criando contrapontos aos modelos administrativos do ex-presidente Lula e do atual presidente Bolsonaro, de quem foi ministro da Justiça e deixou o cargo por divergências com as diretrizes políticos do Palácio do Planalto.

As críticas ásperas a casos de corrupção (mensalão, petrolão) associados ao Governo do PT e rachadinha – uma referência ao atual Governo, fazem com que Moro busque os eleitores que perderam o encanto com o discurso do então candidato Jair Bolsonaro que, em 2018, representou esperanças para milhões de pessoas cansadas das denúncias de má gestão dos recursos públicos e consiga atrair os brasileiros que se opõem a volta do PT à Presidência da República. É nesse corredor que Sérgio Moro vai andar. 

Com um detalhe: o ex-juiz da Lava Jato enfrenta resistência entre todos os campos partidários e ideológicos, especialmente, de quem está no exercício do mandato, mas o distanciamento dos carimbos e vícios da política o ajudará a puxar os eleitores que sonham com a renovação na política, não apenas de nomes, mas, principalmente, de costumes.

Moro chega, mexe com os bastidores políticos e será, também, alvo de duros ataques – da esquerda e da direita. Ciente dessa realidade que passa a enfrentar, Sérgio Moro já deixou escrito o que pensa para o Brasil e para os brasileiros. O recado está no longo discurso, com críticas e propostas para um novo Brasil. Veja o discurso do ex-comandante da Operação Lava Jato.

DISCURSO DE SÉRGIO MORO

Bom dia.

Quero agradecer a todos vocês que vieram, gentilmente, de longe ou de perto, para prestigiar este evento. Aos filiados do podemos, aos filiados de outros partidos políticos, senadores, deputados, prefeitos, vereadores, servidores públicos e cidadãos em geral. Agradeço também aos empresários e trabalhadores aqui presentes. Sei que muita gente veio de lugares distantes e com sacrifícios.

Eu confesso que estou um pouco ansioso quanto a falar hoje neste palco. Não tenho uma carreira política e não sou treinado em discursos. Alguns até dizem que não sou eloquente e não gostam da minha voz…

Mas, se eventualmente eu não sou a melhor pessoa para discursar, posso assegurar que sou alguém em que vocês podem confiar. A vida pública me testou mais de uma vez, como juiz da Lava Jato e como ministro da Justiça. Vocês conhecem a minha história e sabem que tomei decisões difíceis e que nunca recuei do desafio, nem repudiei meus princípios para alimentar ambições pessoais. Por isso, peço atenção às minhas palavras, muito além da minha voz. O Brasil não precisa de líderes que tenham voz bonita. O Brasil precisa de líderes que ouçam e atendam a voz do povo brasileiro.

Quero contar para vocês um pouco sobre minha história. Eu nunca fui um político. Fui juiz por 22 anos e me dediquei a fazer justiça aplicando a lei. Meu propósito sempre foi ser justo com todos. Julguei casos de pessoas necessitadas, que procuravam a Justiça por amparo assistencial. Depois, na área criminal, julguei processos de grandes traficantes de drogas, de ladrões de banco e de pessoas que pagaram ou receberam suborno. Tudo para proteger as pessoas, as vítimas e o povo brasileiro.

Fui juiz dos casos da operação Lava Jato em Curitiba. Foi um momento histórico: quebramos a impunidade da grande corrupção de uma forma e com números sem precedentes. Julgamos e condenamos pessoas poderosas do mundo dos negócios e da política que, pela primeira vez, pagaram por seus crimes.

Mais de R$ 4 bilhões foram recuperados dos criminosos e tem uns R$ 10 bilhões previstos ainda para serem devolvidos. Isso nunca aconteceu antes no Brasil. Eu sempre fui considerado um juiz firme e fiz justiça na forma da Lei. Na época, todos diziam que era impossível fazer isso, mas nós fizemos. Claro, com grande apoio da população brasileira. Juntos, eu, você, nós, mostramos que a Lei se aplica a todos.
Em 2018, recebi um convite do presidente eleito para ser ministro da Justiça. Como todo bom brasileiro, eu tinha, em 2018, esperança por dias melhores. Como todo brasileiro, eu pensava no que havíamos presenciado nos últimos anos: os grandes casos de corrupção sendo revelados dia após dia, os pixulecos, as contas na suíça e milhões de reais ou dólares roubados.

A Petrobrás foi saqueada, dia e noite, por interesses políticos, como ‘nunca antes na história deste País’. Apartamentos forrados de dinheiro roubado em espécie, e uma persistente recessão provocada pelos mesmos governos que permitiram tudo isso, com as pessoas comuns desempregadas e empobrecendo.

Era um momento que exigia mudança. Eu, como juiz da Lava Jato me sentia no dever de ajudar.
Havia pelo menos uma chance de dar certo e eu não podia me omitir: aceitei o convite e ingressei
no governo. O meu objetivo era melhorar a vida das pessoas por meio de um trabalho técnico,
principalmente, reduzindo a corrupção e outros crimes.

Conseguimos de fato, em 2019, diminuir a criminalidade violenta e enfrentamos para valer o
crime organizado. Cerca de dez mil vidas brasileiras deixaram de ser ceifadas pelo crime neste
meu primeiro ano como ministro da justiça.

Combatemos, com afinco, o crime organizado. Isolamos, por exemplo, em presídios federais as
lideranças das gangues mais perigosas do país. Ninguém combateu o crime organizado de forma
mais vigorosa do que o ministério da Justiça na nossa gestão. Até quem não gosta de mim
reconhece isso. Disseram que reduzir crimes no Brasil e combater o crime organizado era
impossível, mas isso foi feito.

O meu desejo era continuar atuando, como ministro, em favor dos brasileiros. Infelizmente, não
pude prosseguir no governo. Quando aceitei o cargo, não o fiz por poder ou prestígio. Eu
acreditava em uma missão. Queria combater a corrupção, mas, para isso, eu precisava do apoio
do governo e esse apoio me foi negado.

Quando vi meu trabalho boicotado e quando foi quebrada a promessa de que o governo
combateria a corrupção, sem proteger quem quer que seja, continuar como ministro seria
apenas uma farsa. Nunca renunciarei aos meus princípios e ao compromisso com o povo
brasileiro. Nenhum cargo vale a sua alma.

Depois que saí do governo, precisei, então, como a maioria do povo brasileiro, buscar um
emprego a fim de ganhar a vida. Eu precisava trabalhar, nunca enriqueci sendo juiz ou ministro.
Tenho família para cuidar.

Recebi um convite para trabalhar no exterior e aceitei. Eu acreditei que ficar longe por um tempo
me ajudaria a refletir melhor sobre o Brasil. Estava cuidando de minha vida privada, distante dos
olhos do público e da imprensa. Mas via com extrema preocupação o desdobrar dos fatos desde
a minha saída do governo. Mesmo fora do País, nunca deixei o Brasil longe de meu coração.

Estamos no final de uma pandemia que afligiu o mundo e só no Brasil deixou mais de 600 mil
vítimas. Vi consternado o crescer do número de vítimas e a desolação das famílias. Não há um
brasileiro ou brasileira que não tenha perdido alguma pessoa querida, um parente ou um amigo.
Não há um verdadeiro brasileiro ou brasileira que não tenha se emocionado com essas perdas.
Registro meu pesar por todas as vítimas e por aqueles que sofreram com a perda delas. Aproveito
para endereçar minhas homenagens aos médicos, enfermeiros e cientistas, que foram os
verdadeiros heróis. Muitos colocaram a sua vida em risco para salvar a de outros. Eles também
mostraram o valor da ciência e do nosso sistema único de saúde.

Junto com a pandemia, vimos com tristeza outros flagelos. Escolas sem aulas por falta de
estrutura. Empregos e negócios sendo perdidos. Mercados, padarias e restaurantes de portas
fechadas. A pobreza e a fome sendo espalhadas. Pais e mães com dificuldades para cuidar de
seus filhos. O jovem e o idoso, esperançosos por conseguir um trabalho, encontrando ao revés o
desemprego.

Como se não bastasse, mesmo com o fim próximo da pandemia, a economia não vai bem. As
pessoas ainda estão sofrendo. Há brasileiros passando fome. Isso dói em todos nós. A inflação
está muito alta: os técnicos falam em um número, mas quem vai no posto de gasolina ou na
mercearia sabe que é muito mais.

Os juros subiram, dificultando ainda mais a vida do empresário, do agricultor ou das pessoas
comuns. E os juros ainda vão subir neste governo e isso vai tornar a vida das pessoas ainda mais
difícil. Não falo por ser pessimista, mas porque o país está indo para o rumo errado. Como
exemplo, é só olhar o número elevado de pessoas desempregadas e há quanto tempo as coisas
estão assim. Desde a época do governo do PT, o desemprego começou a crescer e não parou
mais: Atualmente são 14 milhões de desempregados, sem contar aqueles que já desistiram de
procurar empregos… e sem perspectivas de melhorar.

Ao mesmo tempo, os avanços no combate à corrupção perderam a força. Foram aprovadas
medidas que dificultam o trabalho da polícia, de juízes e de procuradores. É um engano dizer que
acabou a corrupção quando na verdade enfraqueceram as ferramentas para combatê-la.
Quase todo dia ouvimos notícias de criminosos sendo soltos, normalmente com base em
formalismos ou argumentos que simplesmente não conseguimos entender. O que no fundo a
gente entende é que criminosos poderosos estão escapando impunes de seus crimes e que a
Lei não está valendo para todos.

Fica aquela sensação amarga de que não existe lei, de que não existe Justiça. Como se a
Petrobrás não tivesse sido saqueada, como se tudo o que foi feito não tivesse valido e como se
não tivessem importância as manifestações de milhões de brasileiros contra a corrupção em
2015 e 2016.

Desde que me entendo por gente, ouço as pessoas falarem que o Brasil é um País injusto. Que
precisamos fazer reformas, mexer nas leis para que o país melhore, para que as coisas
comecem a funcionar, para que as pessoas tenham escolas decentes para seus filhos e hospitais
que resolvam seus problemas.

Para que a estrada cheia de buracos seja asfaltada, para que as pessoas possam andar com
segurança na rua. Mas as reformas nunca chegam ou quando chegam são malfeitas. E o Brasil
fica sendo esse País do futuro e nós nos perguntamos: quando vai chegar o futuro do País do
futuro?

E, ao olharmos para as reformas que estão sendo aprovadas, o que a gente percebe é que
ninguém está pensando nas pessoas. Mesmo quando se quer uma coisa boa, como esse aumento
do Auxílio-Brasil ou do Bolsa-Família, que são importantes para combater a pobreza, vem alguma
coisa ruim junto, como o calote de dívidas, o furo no teto de gastos e o aumento de recursos para
outras coisas que não são prioridades.

Quando o governo resolve vender uma empresa estatal como a Eletrobrás, aprova junto uma
série de jabutis, coisas que ninguém entende direito, mas que na prática todo mundo sabe que
significa que a conta de luz vai ficar mais cara para alguém ganhar mais dinheiro.
E aí o governo gasta mais do que pode e lá vem mais inflação e mais juros. E assim o País não
cresce e não se vê emprego. E, com tudo isso, as pessoas passam a acreditar que não há governo,
que não há futuro, que estamos sozinhos e que tudo é inútil.

Meu amigo e minha amiga, todas essas coisas estão relacionadas: se o Brasil está parado e não
vai adiante, não é porque não sabemos o que precisamos fazer. Ninguém tem dúvida de que
precisamos melhorar a vida das pessoas. Todo mundo também sabe que quem desvia dinheiro
público tem que ser punido e não premiado.

Todo mundo sabe que o dinheiro desviado é o hospital e a escola sucateadas. O problema é que
não conseguimos fazer o que sabemos que precisamos fazer, porque as estruturas do poder
foram capturadas. Elas passaram a servir a si mesmas e já não servem ao povo.

Parte disso é corrupção, como a que vimos e nos assustou na Lava Jato. Mas outra parte é a
degeneração maior da vida política: a busca do interesse público foi substituída pela busca
egoísta dos interesses próprios e dos interesses pessoais e partidários. É a máquina pública
voltada para si mesma. Isso explica por que o Brasil continua sem futuro, com o povo brasileiro
sem justiça, sem emprego e sem comida.

Eu sonhava que o sistema político iria se corrigir após a Lava Jato. Que a corrupção passaria a
ser coisa do passado e que o interesse da população seria colocado em primeiro lugar. Isso não  aconteceu, infelizmente. E embora tenha muita gente boa na política, nós não vemos grandes
avanços.

Após um ano morando fora, eu resolvi voltar. Não podia ficar quieto, sem falar o que penso, sem
pelo menos tentar mais uma vez, com você, ajudar o país. Então resolvi fazer do jeito que me
restava: entrando para a política, corrigindo isso de dentro para fora.

A gota d’água para mim foi encontrar um estudante brasileiro no exterior que me perguntou
“Moro, é verdade que você abandonou o Brasil?”. Aquilo foi como um tiro no meu coração. Eu
não poderia e nunca vou abandonar o Brasil.

Se necessário, eu lutaria sozinho pelo Brasil e pela Justiça. Seria Davi contra Golias. Mas, ao ver
esse auditório, tenho certeza que não estou sozinho.

Tenho essa mesma certeza quando eu encontro as pessoas nas ruas, nos mercados, nas escolas,
em qualquer lugar, e elas estão com um sorriso no rosto, me cumprimentam ou elogiam pelo
trabalho que foi feito na Lava Jato ou no Ministério da Justiça. Então, voltei ao Brasil para ajudar
a construir um projeto que é de muitos.

Nenhuma pessoa pode ter um projeto só para si mesmo. Ninguém existe só para si mesmo. Para
isso, resolvi entrar na vida política e filiar-me ao podemos, um partido que apoia as pautas da
Lava Jato. Mas esse não é o projeto somente de um partido, é um projeto de País aberto para
adesão por todos os demais partidos, pela sociedade brasileira, do empresário ao trabalhador,
por todo cidadão e cidadã brasileiros. É o seu projeto, que estava aí, aguardando o momento
certo. Chegou a hora.

Queremos construir juntos esse projeto, ouvindo as ideias de todos. Não é só um projeto para
reconstruir o combate à corrupção. Isso faz parte dele, mas ele vai muito além. É um projeto para
construir o País. É um projeto de reconstrução de todos os sonhos perdidos. Nesse projeto, não
há espaço para o medo, não há espaço para reações agressivas, mas também não há espaço para
timidez. Queremos juntos construir hoje o Brasil do futuro.

Quero compartilhar algumas ideias que tenho para esse projeto. Alerto que são ainda apenas
algumas ideias de um projeto maior e que será formulado junto com os brasileiros e as brasileiras. Tenho ouvido especialistas, mas queremos ouvir todo mundo sobre ele.

Precisamos recuperar a ideia de que vivemos e dividimos o mesmo País, de que somos todos
irmãos, amigos e vizinhos. Podemos até divergir em alguns assuntos, mas temos, como
brasileiros, mais pontos em comum do que diferenças. Então nosso projeto é forte, é vigoroso,
mas não é agressivo.

Nossas únicas armas serão a verdade, a ciência e a justiça. Trataremos a todos com caridade e
sem malícia. Respeitaremos aqueles que gostam e aqueles que não gostam de nós. O Brasil é de
todos os brasileiros e nosso caminho jamais será o da mentira, das verdades alternativas ou de
fomentar divisões ou agressões de brasileiro contra brasileiro.

Incluo aqui nessa atitude de respeito e generosidade, a imprensa. Chega de ofender ou intimidar
jornalistas. Eles são essenciais para o bom funcionamento da democracia e agem como vigilantes
de malfeitos dos detentores do poder. A liberdade de imprensa deve ser ampla. Jamais iremos
estimular agressões. Jamais iremos propor o controle sobre a imprensa, social ou qualquer que
seja o nome com que se queira disfarçar a censura e o controle do conteúdo. Isso vale para mim
e para qualquer pessoa que queira nos apoiar.

Precisamos proteger a família brasileira contra a violência, contra a desagregação e contra as
drogas que ameaçam nossas crianças, jovens e adultos. Propomos incentivar a virtude e não o
vício, uma sólida formação moral e cidadã. Nosso projeto de redução da criminalidade violenta,
do combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas precisa ser retomado com todo o vigor,
sempre na forma da Lei, e buscando recuperar aqueles que se desviaram do bom caminho.
Mas agiremos sempre com a compreensão de que nessa nossa sociedade cada vez mais plural
todos merecem ser tratados com respeito e sem qualquer forma de discriminação. Precisamos
de uma sociedade inclusiva, que acolha as diferenças, e precisamos também de uma sociedade
que respeite todas as crenças e religiões.

Nessa sociedade inclusiva, merecem especial atenção as pessoas com deficiência e as pessoas
com doenças raras. Aprendi a admirá-las por meio de minha esposa, Rosângela, com quem sou
casado há 22 dois anos e tenho dois filhos. Minha esposa é advogada e atende pessoas com
deficiência, pessoas com doenças raras e igualmente associações que promovem os direitos
delas. Ela me despertou quanto à importância da adoção de políticas que atendam a essas
pessoas em suas necessidades específicas e que permitam que seus talentos e habilidades
possam florescer.

Acreditamos na capacidade empreendedora e inovadora de cada brasileiro. Todo cidadão tem o
potencial de se tornar uma versão melhor de si mesmo. E, quero lhe dizer, esta é minha crença
fundamental, que cada indivíduo tem a sua dignidade e tem a capacidade de se aprimorar
continuamente.

Por acreditarmos no potencial de cada um, defendemos o livre mercado, a livre empresa e a livre
iniciativa, sem que o governo tenha que interferir em todos os aspectos da vida das pessoas.
Precisamos reformar nosso sistema confuso de impostos. Há quanto tempo falamos nisso sem
fazer? Precisamos privatizar estatais ineficientes. Precisamos abrir e modernizar nossa economia
buscando mercados externos. O tempo é de inovação e não podemos ficar para trás nesse mundo
cada vez mais dinâmico e competitivo.

Mas nesse país que compartilhamos, o nosso senso de comunidade impede que adotemos um
capitalismo cego, sem solidariedade ou compaixão. O nosso senso de justiça, os nossos valores
cristãos e que são compartilhados pelas outras religiões, exigem que as grandes desigualdades
econômicas sejam superadas.

Uma das prioridades do nosso projeto será erradicar a pobreza, acabar de vez com a miséria. Isso
já deveria ter sido feito anos atrás. Para tanto, precisamos mais do que programas de
transferência de renda como o Bolsa-Família ou o Auxílio-Brasil. Precisamos identificar o que cada
pessoa necessita para sair da pobreza.

Isso muitas vezes pode ser uma vaga no ensino, um tratamento de saúde ou uma oportunidade
de trabalho. As pessoas querem trabalhar e gerar seu próprio sustento. Precisamos atender a
essas carências com atenção específica. E, como medida prioritária, sugerimos a primeira
operação especial: a criação da Força-Tarefa de Erradicação da Pobreza, convocando servidores
e especialistas das estruturas já existentes.

Ela será uma força-tarefa permanente e atuará como uma agência independente e sem
interesses eleitoreiros, com a missão de erradicar a pobreza no país. Muita gente pensa que isso
é impossível, como diziam que era impossível combater a corrupção. Não é, e nem precisa
destruir o teto de gastos ou a responsabilidade fiscal para fazê-lo. Nós podemos erradicar a
pobreza e esse é o desafio da nossa geração.

Propomos investir na educação de qualidade. Quem vai para a escola pública tem que encontrar
ensino da mesma qualidade que o das escolas privadas. Eu, menino crescido no interior do
Paraná, na minha querida Maringá, fiz tanto escola pública como privada.

Na minha época, a qualidade de ensino era parecida, então é possível fazer com que seja de novo.
O futuro do Brasil depende do presente da educação pública e privada. Queremos trazer os pais
para participarem mais da vida das escolas. Queremos incentivar a inovação e a dedicação dos
professores, cobrar metas e desempenho, premiar os bons por mérito, sem procurar vilões.
Queremos diversificar o ensino e tornar real em todo o País, o que a lei já autoriza: que os alunos
possam escolher parte das disciplinas e, fazendo isso, estudarem com maior motivação.

Propomos expandir o ensino em período integral. Se isso é custoso e se for necessário escolher,
vamos primeiro para os lugares mais carentes e depois expandimos. Precisamos de tecnologia e
internet nas escolas. É preciso abraçar essas políticas como um grande programa nacional.
Queremos, como pais e mães, que nossos filhos e que os filhos de nossos filhos tenham um futuro
melhor do que o nosso e isso depende da educação. A escola deve ser um lugar para matemática,
tecnologia, ciências, cultura e literatura, um lugar de liberdade e de aprendizado.

Precisamos falar sobre corrupção. Muitos me aconselharam a não falar sobre o assunto, mas isso
é impossível. Combater a corrupção não é um projeto de vingança ou de punição. É um projeto
de justiça na forma da lei. É impedir que as estruturas de poder sejam capturadas e dessa forma
viabilizar as reformas necessárias para melhorar a vida das pessoas.

É um projeto para termos um governo de leis que age em benefício de todos e não apenas de
alguns. Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha. Chega
de querer levar vantagem em tudo e enganar a população.

Propomos, sem mais delongas, aprovar a volta da execução da condenação criminal em segunda
instância, para que a realização da justiça deixe de ser uma miragem. Precisamos garantir a
independência do Ministério Público, respeitando as listas, e a autonomia da Polícia com
mandatos para os diretores, impedindo que haja interferência política em seu trabalho.
Propomos ainda a criação de uma corte nacional anticorrupção, à semelhança do que fizeram
outros países, usando as estruturas já existentes e convocando juízes e servidores vocacionados
para essa tão importante missão.

Precisamos cuidar do futuro e do que vamos deixar para as novas gerações. O Brasil é um País
que historicamente respeitou e protegeu o meio ambiente. Temos a maior floresta do mundo, a
Amazônia. Infelizmente, alguns veem a floresta como um incômodo e hoje nossa imagem no
exterior é péssima.

Mas a floresta é um patrimônio valioso e precisamos mudar a percepção do mundo a nosso
respeito. Precisamos dar oportunidades de desenvolvimento para quem vive na região da
Amazônia, mas precisamos proibir o desmatamento e as queimadas ilegais. Promover as ações e
usar as palavras certas, considerando a população local.

O futuro do mundo depende da preservação do meio ambiente, para prevenir a mudança
climática. O Brasil pode ser não só o celeiro do mundo, com a nossa pujante agricultura, com
pequenos e grandes proprietários, mas também a liderança e o exemplo para o mundo na
preservação da floresta, no fomento da exploração de energias limpas e na criação de uma
economia verde, sustentável e de baixo carbono.

Isso nos trará investimentos e nos fará orgulhosos de nosso País. Somos detentores dessa enorme
riqueza verde e, infelizmente, fizemos tudo errado nos últimos anos. Isso pode e deve ser
consertado. O Brasil deve ser o líder e o orgulho do mundo na economia verde e sustentável.

Precisamos cuidar da defesa nacional e de nossa soberania. Vamos valorizar as Forças Armadas.
O militar não é diferente dos outros. Somos todos brasileiros. Devemos respeitá-las como
instituição de Estado e jamais utilizá-las para promover ambições pessoais ou interesses
eleitorais. As forças armadas pertencem aos brasileiros e não ao governo.

Para que todo esse projeto tenha credibilidade, para que possamos demonstrar com sinceridade
o nosso desejo de reconstruir o País e de reformar as instituições, nós precisamos provar que
estamos dispostos a sacrifícios. Que a classe dirigente, que a classe política, não terá por foco
aumentar o seu poder ou seus privilégios, e que agirá para beneficiar a todos, pensando no bem
comum e no interesse público.

Para tanto, proponho, desde o início, a eliminação de dois privilégios da classe dirigente. O fim
do foro privilegiado que trata o político ou a autoridade como alguém superior ao cidadão
comum, e o fim da reeleição para cargos no poder executivo. O foro privilegiado tem blindado
políticos e autoridades da apuração de suas responsabilidades. Não precisamos dele. Eu nunca
precisei quando juiz ou ministro. Não deve existir para ninguém e para nenhum cargo, nem para
o presidente da República.

Quanto à reeleição para cargos no poder executivo, devemos admitir que é uma experiência que
não funcionou em nosso País. O presidente, assim que eleito, começa, desde o primeiro dia, a se
preocupar mais com a reeleição do que com a população, está em permanente campanha
política. E ainda tem o risco de gerar caudilhos, populistas ou ditadores, de esquerda ou de
direita, pessoas que se iludem com o seu poder e passam a ser uma ameaça às instituições e à
democracia, seja por corrupção ou por violência. Não devemos mais correr esses riscos.
Entendo que se nós, da classe política, cortarmos nossos privilégios, daremos um bom exemplo
e conseguiremos a credibilidade necessária para aprovação de outras reformas dirigidas a
melhorar a vida das pessoas. Vamos gerar um ambiente de confiança e um ciclo virtuoso em
favor das reformas, fomentando investimentos, gerando empregos, recolocando o governo na
trilha certa. Ele existe para ajudar as pessoas e não o contrário. O governo tem que estar a serviço
das pessoas e não dos políticos.

Essas são apenas algumas ideias para o nosso projeto de País. Queremos construí-lo com vocês
aqui presentes, com a sociedade e com o povo brasileiro. Podemos construir juntos um Brasil
justo para todos. Esse não é um projeto pessoal de poder, mas sim um projeto de País. Nunca
tive ambições políticas, quero apenas ajudar.

Se, para tanto, for necessário assumir a liderança nesse projeto, meu nome sempre estará à
disposição do povo brasileiro. Não fugirei dessa luta, embora saiba que será difícil. Há outros
bons nomes que têm se apresentado para que o País possa escapar dos extremos da mentira, da
corrupção e do retrocesso.

Todos nós sabemos que teremos em um momento que nos unir para uma tarefa maior do que
cada uma das pessoas envolvidas. Mas precisamos nos unir em torno de um projeto que tenha
pelo menos as seguintes linhas essenciais: combater a corrupção como meio de viabilizar as
reformas, erradicar a pobreza, diminuir as desigualdades, controlar a inflação, preservar a responsabilidade fiscal, fomentar o emprego e o desenvolvimento sustentável, prover serviços de saúde, educação e segurança de qualidade, proteger a família, cultivar as liberdades e o
respeito com o próximo e com o diferente. Tudo está conectado. Todos estamos juntos.

Pretendo atuar como um guardião vigoroso do interesse público, como um protetor dos direitos
de todos os brasileiros e brasileiras. O Brasil poderá confiar que este filho teu não fugirá à luta e
que jamais deixará o seu interesse pessoal, ou de seus filhos ou de sua família, ou mesmo de seus
amigos ou de seu partido político, acima do interesse do povo brasileiro.

Jamais usarei o Brasil para ganho pessoal. Vocês sabem que podem confiar que eu sempre vou
fazer a coisa certa. Ninguém irá roubar o futuro do povo brasileiro. Estou, portanto, recomeçando
hoje, à disposição de vocês, por um Brasil justo para todos. Muito obrigado.

*Brasília, 10 de novembro de 2021