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A pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, selada com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o deixou elegível para 2022, mexe com o cenário político no Ceará. A corrida pelo Governo do Estado tem um quadro emblemático, confuso, cheio de nuances, conflitos e diferentes possibilidades de construção de alianças com grupos antagônicos.


A antecipação do debate sobre a disputa pela Presidência da República, transformado com a entrada do líder petista, acelera as conversas entre lideranças nacionais do PT e MDB. Os dois partidos estiveram unidos nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, com a vitória de Dilma Roussef, tendo como vice o emedebista Michel Temer. A aliança trincou em 2016 com o impeachment de Dilma, abrindo a vaga para Michel Temer.


O tempo passou, muitas feridas foram curadas e, na abertura do embate para 2022, PT e MDB reataram as articulações e, no jogo de conversas, se aproximam na tentativa de viabilização de uma aliança para o próximo ano. A recomendação do pré-candidato Lula é que o PT abra mão de candidaturas aos Governos Estaduais em determinadas unidades onde não haja cenário eleitoral favorável e fortaleça um projeto maior: a Presidência da República.


DESDOBRAMENTOS NO CEARÁ

Os desdobramentos do diálogo nacional entre líderes do PT e MDB ainda são incertos e distantes no Ceará, mas, em princípio, há prenúncio de um quadro confuso: o PDT tem como pré-candidato ao Palácio do Planalto o ex-ministro Ciro Gomes, crítico da volta de Lula à disputa eleitoral. Ciro tem usado adjetivos e advérbios de intensidades capazes de fechar portas para futuras alianças. Há, porém, aquele ditado que, na política, tudo é possível. Ou seja, o inimigo do presente pode ser aliado do futuro.

Nada se descarta, mas Ciro tem engrossado a cada dia o discurso anti-Lula, o que cria saia justa para o governador Camilo Santana, do PT. Ciro acha que o tempo de Lula passou e chega a defender que o PT tenha outro nome como, por exemplo, de Camilo, como alternativa de unir os partidos de centro e enfrentar, com chances reais de vitória, o presidente Jair Bolsonaro.


CAMILO, TASSO E SENADO

Com sete anos de administração e um governo bem avaliado pela população, Camilo constrói o caminho para, no mês de abril de 2022 – seis meses antes do primeiro turno das eleições, renunciar ao mandato para ficar livre e, em princípio, concorrer ao Senado.

Outros desafios podem, entretanto, tirá-lo da corrida ao Senado, que terá a vaga aberta com o fim do mandato do tucano Tasso Jereissati. Tasso, que se dá bem com Camilo e Ciro, começou a ser citado como um nome para unir partidos de centro à Presidência da República.


Questões de saúde, talvez, não o animem para essa maratona, mesmo sendo um dos quadros com melhor equilíbrio no cenário político nacional. Se o cenário for favorável, o tucano gostaria mesmo de renovar o mandato ao Senado. A engenharia, nesse caso, seria gigantesca com uma soma de esforços para unir diferentes correntes políticas e partidárias.

LULA, EUNÍCIO, CIRO, CAMILO

Ex-senador e ex-ministro das Comunicações no primeiro Governo do presidente Lula, o presidente da Executiva Regional do MDB, Eunício Oliveira, acompanha de perto todos os movimentos nos bastidores políticos de Brasília. Eunício, que disputou três eleições majoritárias – 2010 (eleito senador), 2014 (perdeu no segundo turno para Camilo) e 2018 (não conseguiu se reeleger ao Senado), trabalha para ser eleito, em 2022, à Câmara Federal, mas não descarta a possibilidade de concorrer ao Governo do Estado.

Eunício está perto das principais lideranças nacionais do MDB que hoje dialogam com o ex-presidente Lula os caminhos de uma aliança para 2022. O presidente da Executiva Regional do MDB tem olhos voltados à montagem do palanque no Ceará ao Governo do Estado e ao Senado. O emedebista tem bom relacionamento com Camilo e levou o MDB a apoiá-lo na Assembleia Legislativa. A relação de Eunício com Ciro e outros pedetistas, como Roberto Cláudio, é azeda e obstáculo para reconciliação.


PSD, DA FAMÍLIA AGUIAR, DE OLHO NA CHAPA MAJORITÁRIA

Os primeiros movimentos nacionais deixam boas expectativas para o PSD no Ceará, comandado pela família do ex-vice-governador Domingos Filho. O deputado federal Domingos Neto integra a base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e, ao mesmo tempo, lidera com o pai e a mãe, Patrícia, prefeita de Tauá, a indicação de nomes do PSD para cargos de primeiro, segundo e terceiro escalão nos Governos de Camilo Santana e do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT).


Domingos já está em campo para voltar à Assembleia Legislativa, mas o sonho é entrar na chapa majoritária- Governo do Estado ou Senado. Seja com um candidato do PDT/PT ou, se viável, na base do presidente Bolsonaro. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, é próximo ao Governo Bolsonaro, é aliado do governador de São Paulo e um dos pré-candidatos do PSDB ao Palácio do Planalto, João Doria, e, hoje, abriu conversas com o ex-presidente Lula. Ou seja, o PSD tem múltiplas escolhas.

OPOSIÇÃO, COM WAGNER E ROBERTO PESSOA

A oposição no Ceará une o deputado federal Capitão Wagner (PROS), o senador Eduardo Girão (Podemos) e o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa (PSDB). O grupo está sintonizado com o Governo do presidente Jair Bolsonaro e se articula para lançar um candidato à sucessão do governador Camilo Santana.


Um dos nomes ao Governo do Estado é o do senador Eduardo Girão que se movimentou e conseguiu emplacar na CPI da Covid, a ser instalada no Senado, investigações do destino dado pelos governos estaduais e municipais ao dinheiro transferido pela União. Girão está na primeira metade do mandato de senador e, se entrar na disputa pela sucessão estadual, não terá prejuízo caso o resultado seja adverso. O mandato de Girão se estende até 31 de dezembro de 2025.


A oposição saiu fortalecida nas eleições municipais de 2020 quando o Capitão Wagner chegou ao segundo turno da disputa pela Prefeitura de Fortaleza e somou 624.892 votos – 48,31%, perdendo a eleição para o atual prefeito José Sarto. Sarto somou 668.652 votos – 51,69% dos votos válidos. Os dirigentes do PROS, Podemos e o prefeito de Maracanaú, que lidera um grupo dentro do PSDB, acreditam que o Capitão Wagner levará parte desses votos para o candidato da oposição a ser lançado ao Governo do Estado.