“A única certeza da vida é a morte.” A frase, dita em diversos momentos da vida, pode ser uma das justificativas pela qual diferentes atores do setor funerário e cemiterial afirmam que não enfrentaram retração nos anos de crise vividos no Brasil. O fato por si só é um lucro, já que diversos segmentos sofreram baixas desde 2014. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abrasif), pode-se esperar um crescimento em torno de 3% em 2020. Alguns fatores explicam a situação do setor, que ainda não é consolidado e está em crescimento.

De acordo com o presidente da Abrasif, Maurício Costa, a maneira de o ser humano se relacionar com a morte mudou. “Há 10 anos, a média de custo de um funeral era de R$ 1.300. Atualmente, gira em torno de R$ 2.500”, afirma. Ou seja, um aumento de 92% no período. Para ele, o fato de um funeral e um sepultamento serem uma “necessidade básica do ser humano” faz com que o setor não sofra grandes baques. Outro fator de influência no crescimento foi a adesão de parte da população a planos funerários. “O crescimento é maior porque, em 2018, tivemos um projeto aprovado que habilitou essa venda pelas empresas do setor funerário”, explica.

De acordo com a presidente do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep), Gisela Adissi, os planos funerários custam de R$ 30 a R$ 300 por mês. Apesar da nova opção, Gisela aponta que só 10% das famílias têm um planejamento para este momento da vida, sendo que 90% das mortes são anunciadas.

“Em termos práticos, as pessoas estão deixando para resolver mais na hora. A gente lidava de outra forma com a morte. Atualmente, expressamos cada vez menos. Estamos em uma era que esconde as tristezas”, diz.

A consultora de gestão de luto, que trabalhou por 18 anos em um cemitério, observa que a mudança de gerações também influenciou no mercado da morte. “Antigamente, a posse de um jazigo estava vinculada a um status da família. Hoje, não vemos isso”, afirma. O jazigo é o local onde as urnas funerárias, conhecidas popularmente como caixões, são enterradas. Gisela afirma que o preço de um pode variar de R$ 3 mil a R$ 1 milhão. “Os mais caros podem chegar a ter 16 gavetas e o mais barato, geralmente, tem  duas”, explica.

A presidente do Sincep confirma que o setor tem preços muito variáveis e acredita que, como todo outra área de atividade, é suscetível a crises, apesar de a morte ser algo cíclico. “As pessoas vão morrer? Vão. Mas a qualidade do serviço, a localização, o tamanho da cidade e outras coisas compõem um conjunto de indicadores do sucesso de uma empresa desse setor”, reforça.

Gisela define o setor funerário e cemiterial como uma categoria que está sendo muito visada, mas ainda não é consolidada. “É um setor estável, de alta lucratividade, mas com um nível de governança baixa, porque temos empresas de médio porte”, ressalta. Maurício concorda e afirma que não há nenhuma grande empresa dona de um monopólio. “São empresas pequenas, em sua maioria, familiares”, aponta.

Em 2020, número de funerárias no DF crescerá

No Distrito Federal, o setor é composto por 45 funerárias e seis cemitérios, todos administrados pela empresa Campo da Esperança. De acordo com o subsecretário da Subsecretaria de Assuntos Funerários (Suaf), José Carlos Medeiros, esse número diminuiu do ano passado para 2019. “Eram 54 empresas em 2018, mas algumas cometeram faltas administrativas e tiverem seu termo de ajustamento de conduta cassado”, conta.

No entanto, Medeiros afirma que há a previsão de um novo edital de licitação ser lançado em janeiro, com a abertura de 51 outorgas para a prestação do serviço funerário por um período de 10 anos. De acordo com ele, o aumento se deve à projeção da mortalidade até 2030.

“A previsão para daqui a 10 anos é de 14.704 óbitos por ano no DF. Eu não poderia contratar somente 45 agora, sendo que vamos ter uma demanda maior por funerais daqui a 10 anos. O Estado tem que pensar no futuro”, reforça. Atualmente, morrem em média no Distrito Federal de 926 a 1.000 pessoas por mês.

Cerca de 20% dessas pessoas aderem ao sepultamento social, que é oferecido pelo Estado para aqueles que não têm condição de pagar pelo serviço. A renda desses cidadãos não pode ultrapassar meio salário mínimo (R$ 499) per capita.

“Até quem não tem condições de pagar se vira nos momentos finais para prestar uma última homenagem”, comenta Medeiros. (MEC)

 

 

 

 

(*)com informação do Correio Braziliense