O presidente dos Correios, Guilherme Campos, afirmou que a demissão de funcionários continua sendo estudada pela estatal. Segundo ele, que participou de audiência pública promovida por diversas comissões da Câmara dos Deputados nesta semana, seria necessário demitir para ajustar a folha de pagamento e minimizar os prejuízos que somaram mais de R$ 4 bilhões em 2015 e 2016 e já são estimados em R$ 400 milhões no primeiro trimestre deste ano.

Em 2016, a empresa já havia anunciado um programa de desligamento incentivado (PDI) com a finalidade de desligar pelo menos 8 mil dos 117 mil funcionários, mas só 5,5 mil aderiram, o que já proporcionaria uma economia de R$ 700 milhões por ano.

“Fica aquém das necessidades da empresa, e nós precisamos ter outras ações no sentido de enxugamento da máquina, principalmente nos setores administrativos, não nas áreas operacionais”, disse o presidente. “É uma necessidade da empresa. Ainda está na pauta um estudo encomendado por nós e validado pelo nosso departamento jurídico de abertura de um processo de demissão motivado”, continuou.

A avaliação de Guilherme Campos é que os Correios não fizeram os ajustes necessários para se adaptar às mudanças trazidas pela tecnologia, que levaram à redução no fluxo de correspondências e abriram concorrência no setor de entrega de encomendas. “É um monopólio sobre algo que está acabando. O consumidor, aquele que vem comprar os nossos serviços, não admite pagar o que seria necessário pagar para a manutenção desse status”, comentou.

Campos também elencou, como causa dos sucessivos déficits, a retirada de quase R$ 6 bilhões do caixa pelo governo federal, entre 2007 e 2013, a título de antecipação de dividendos.

Funcionários
Representantes dos funcionários dos Correios não concordaram com Campos. A reunião na Câmara foi acompanhada por trabalhadores da estatal, que tiveram direito à fala no microfone e manifestaram sua indignação.

O secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect), José Rivaldo da Silva, argumentou que a empresa é viável e que não existem prejuízos. Em sua opinião, os Correios devem chamar os funcionários para negociar uma saída para a crise sem apelar para as demissões.

“É importante que o presidente repense o que tem falado à imprensa. A gente corre risco de perder serviços que presta hoje. Quem vai apostar em uma empresa cujo presidente declara que ela é inviável? Ou a gente melhora ou está fadado a assistir a um projeto que gera uma consciência na população de que tem que privatizar os Correios”, afirmou Rivaldo.

Privatização
Guilherme Campos esclareceu que o assunto privatização não está entre suas missões como presidente dos Correios, mas, sim, a recuperação da empresa.

Diversos deputados se manifestaram contrariamente à possibilidade de privatização. “Somos de uma região, o Pará, onde às vezes só os Correios chegam, onde não há nem banco. Os Correios prestam um grande serviço ao País. Não teríamos isso talvez de uma empresa privada, que busca o lucro”, declarou Joaquim Passarinho (PSD-PA).

Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática e um dos parlamentares que sugeriram o debate, o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) se comprometeu a encampar a luta contra uma possível privatização dos Correios. “Se necessário, vamos levar ao presidente Michel Temer”, prometeu.

Plano de saúde
Os representantes dos trabalhadores mencionaram preocupação com o plano de redução de custos dos Correios, como o fechamento de agências, a suspensão de férias por um ano e o corte do desembolso com o plano de saúde, que representou R$ 1,8 bilhão do prejuízo de R$ 2 bilhões que os Correios tiveram no ano passado.

Guilherme Campos classificou o modelo do plano de saúde como insustentável e declarou estar tentando negociar o corte na Justiça do Trabalho. Atualmente, os Correios entram com 93% do custo, e os funcionários com 7%. O plano atende toda a família dos servidores, inclusive aposentados, pais e mães.

A proposta dos Correios agora é financiar apenas as despesas dos funcionários, e não de seus dependentes. Como contrapartida, a empresa oferece destinar 15% dos lucros para ajudar a abater o custeio do plano de saúde do trabalhador.

Sobre as férias dos funcionários, Guilherme Campos afirmou que os Correios estão dentro do direito de agendá-las. “Para manter o caixa em dia, tivemos que tomar essa decisão dura, antipática e que não nos agrada nem um pouco. Quero revogar essa decisão, porém a situação da empresa tem que melhorar”, ponderou.

Entre as soluções para salvar os Correios, o presidente da Federação Interestadual dos Empregados da ECT (Findect), José Aparecido Gandara, apontou um projeto de fidelização para priorizar a empresa nos contratos do governo federal. “Seriam R$ 40 bilhões nos caixas dos Correios por ano”, citou.

Indicativo de greve
Uma assembleia dos funcionários dos Correios com indicativo de greve geral está marcada para o próximo dia 26.

Outro parlamentar que sugeriu audiência, o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) recomendou aos servidores não radicalizar. Por outro lado, reconheceu que uma gestão séria poderá transformar a empresa. “Deve haver bom senso, entendimento com a direção, um programa que mantenha salários não tão grandes, adequados, e que a empresa possa ter competitividade. Vocês estão competindo com gigantes da comunicação”, analisou.

Na opinião da deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), os Correios têm saída se houver vontade política. Para ela, demitir, tirar direitos e terceirizar constituem “o caminho da velha política”.

A audiência  oi promovida pelas comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; de Direitos Humanos e Minorias; de Finanças e Tributação; e de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia.