O Ministério Público Federal classifica o agente fazendário Ary Ferreira da Costa Filho, o “Arizinho”, como “operador-chave” da organização criminosa supostamente liderada pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB/RJ). A Procuradoria da República atribui a “Arizinho” o papel de “um dos operadores financeiros mais importantes” do grupo do peemedebista. Ao requerer a prisão preventiva de “Arizinho”, a Procuradoria apontou a “influência” dele no governo do Rio.
A pedido da Procuradoria, a Justiça Federal no Rio decretou indisponibilidade de sete imóveis localizados na Barra, Recreio, Freguesia e Búzios, e dois automóveis – um Chevrolet Camaro 2014/15 e um Jeep Grand Cherokee 2015/15 – em nome de “Arizinho”.
A Justiça ainda ordenou o bloqueio cautelar dos mais de R$ 8,8 milhões já depositados por Ary Filho nas contas das concessionárias de veículos Eurobarra e Americas Barra. A finalidade do embargo é assegurar eventual reparação dos danos decorrentes dos crimes cometidos.
Foi decretada a prisão preventiva de “Arizinho”, mas a Polícia Federal não o localizou. A Procuradoria informou que serão apuradas em parceria com a PF “as circunstâncias em que Ary deixou o local de sua residência nessa manhã”.
A PF vasculha, ainda, nove imóveis para busca e apreensão de documentos, computadores e bens na nova fase da Operação Calicute, desdobramento da Lava Jato no Rio que pegou Sérgio Cabral – preso desde novembro de 2016 em Bangu 8.
As investigações apontam que Ary Filho e outro ex-assessor do ex-governador, Carlos Miranda, “cometeram lavagem de ativos usando a LRG Agropecuária (antiga consultoria GRALC) e as concessionárias de automóveis Eurobarra e Americas Barra”, informou a Procuradoria.
Nove procuradores da República que investigam o esquema envolvendo Cabral consideram ‘a consultoria um empreendimento peculiar, pela notável oscilação do faturamento entre 2007 e 2015’.
“O faturamento da GRALC/LRG chega a merecer um estudo de caso nas instituições de ensino de economia e administração”, sustenta o Ministério Público Federal. “Uma empresa que com um investimento perto do zero (um empregado entre 2007 e 2010; nenhum empregado entre 2011 e 2014) foi imediatamente alavancada ao topo das empresas de consultoria”, assinalam os procuradores da força-tarefa.
Os procuradores destacam os faturamentos de R$ 770.394 em 2007, primeiro ano do governo Cabral, R$ 2.327.480 em 2013 e R$ 7.508 em 2015.
Os procuradores revelam que o vínculo entre o funcionário da Fazenda estadual e Cabral remonta desde o tempo em que o peemedebista era deputado estadual. “A proximidade entre Ary Filho e Cabral é demonstrada pelas sucessivas nomeações para assessorar o político na Assembleia Legislativa (1996), Senado (2004) e governo do Estado (2007 e 2010).”
O assessor especial do ex-governador pediu sua exoneração em julho de 2010 e retornou ao cargo em outubro, após a campanha à reeleição do peemedebista. Ele se manteve nesse cargo no governo Pezão (PMDB), do qual pediu sua exoneração depois que a Procuradoria denunciou Cabral e outros alvos da Operação Calicute, em dezembro passado.
“Além da influência de Ary Filho junto ao governo do Estado do Rio de Janeiro, a necessidade das medidas tomadas aumenta em razão da movimentação de milhões de reais em dinheiro em espécie com a utilização de contratos de gaveta na aquisição de imóveis e veículos”, destacam os procuradores. “Essas condutas confirmam a ocultação e a lavagem de dinheiro em franca atividade e, portanto, em estado de flagrância delitiva.”
Estadão Conteudo