Eles não têm escolha, e, ainda assim, não deixam de cuidar de si, das suas famílias e a de tantas outras no Ceará. São policiais, bombeiros, peritos, médicos legistas, mas também são pais, mães, filhos, filhas, netos e netas. Eles também tiveram que redobrar os cuidados de higiene pessoal para se adaptar e evitar o contágio pelo novo coronavírus (Covid-19). Mas diferente de boa parcela da população, esses profissionais fazem parte do rol de trabalhadores que exercem atividades essenciais que garantem o funcionamento mínimo de muitos serviços no Estado e mantêm o dever diário de servir e defender a sociedade, mesmo em situações tão adversas como a apresentada agora. Afinal, vidas estão em jogo e a sociedade precisa deles na linha de frente.

Seja no ar, na terra, na água ou no combate ao fogo, homens e mulheres da segurança pública saem todos os dias de seus lares para desempenhar uma missão árdua: arriscar a própria vida para prevenir e proteger a vida dos outros. Ficar em casa para eles deixou de ser uma escolha no dia em que eles aceitaram servir a sociedade. A escolha deles se transformou em um dever. Por isso, por causa da quarentena, muita coisa mudou no dia a dia desses profissionais. As delegacias reduziram os atendimentos presenciais ao público, enquanto os peritos reforçaram a higiene nos laboratórios. Já os policiais e bombeiros militares utilizam novas armas. Agora eles conscientizam a população a evitar aglomerações e atuam para que as recomendações da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) sejam cumpridas por todos.

Dividida em duas partes, essa reportagem especial mergulha na intimidade de quatro profissionais da segurança pública do Ceará que aceitaram compartilhar um pouco da experiência deles durante o período de isolamento social. Nesta quinta-feira (16), você acompanha a mudança de hábitos de um policial militar e de um bombeiro militar que atuam no Estado. Amanhã (17), será a vez de conhecer o que um delegado e um auxiliar de perícia estão fazendo de diferente nesses dias. O ponto em comum entre eles? Todos tiveram suas rotinas modificadas tanto no trabalho quanto dentro de casa.

Relatos

O soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE), Davi Farias, e o cabo do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), Adriano Ribeiro, compartilham uma rotina semelhante desde que o confinamento foi imposto pela chegada do vírus no Ceará. Ambos tiveram que mudar os hábitos para proteger seus entes queridos dentro de casa. No apartamento da família Farias, a pequena Sophie, de quase dois meses de vida, recebe o carinho diário dos papais, que não se descuidam um minuto sequer dos cuidados com a higiene deles e da bebê.

Há pouco mais de dois anos atuando como policial no Ceará, Farias precisou sair de Pernambuco – seu estado natal – para morar em Fortaleza, local de trabalho e moradia. Após a chegada da primeira filha, o que mais ele sente falta nesse momento é a presença dos pais e dos sogros, que moram no estado pernambucano e ainda não tiveram a chance de conhecer a netinha pessoalmente. A ausência da família é suprida por meio de videochamadas, que são realizadas com frequência para aproximá-los nessa época em que o distanciamento se faz necessário. “A chamada de vídeo é nossa salvação. Espero que isso passe logo, principalmente para poder ver meus familiares, porque não temos família aqui. A falta deles está demais”, relata esperançoso que essa situação não dure por muito tempo e que ele possa rever os parentes o mais breve possível.

Assim como em casa, os cuidados de higiene se estenderam também para o trabalho. Além da farda e da arma, o uso de máscara e álcool em gel passou a fazer parte da rotina durante as patrulhas dos policiais militares no Estado. Após gozar da licença-paternidade, o retorno do soldado PM Farias já foi cercado de cuidados. Ele teve de entrar no ritmo de lavar as mãos com frequência e se acostumar com o rito da higienização ao chegar e ao sair do serviço, bem como ao voltar para casa. “Quando eu chego em casa, jogo logo a roupa para lavar e corro para tomar banho para só aí ter contato com a minha família”, conta o militar receoso com o avanço da doença.

Bloqueio total

O bombeiro militar Adriano também segue à risca as recomendações de higiene pessoal, porque sabe que ao retornar para casa, a esposa, grávida de quase cinco meses, estará à sua espera carregando a Alice. Mas você já imaginou morar na mesma casa e não poder ter contato nenhum com os outros moradores? É o que acontece na casa de Adriano, que divide o lar com a companheira. Por precaução, ele está isolado em um quarto para possibilitar que a esposa e o neném estejam mais seguros.

“Quando eu chego (em casa) é todo um processo, por exemplo, a gente marca tempo para tomar banho. Ela toma banho primeiro, para em seguida eu tomar e higienizar todas as partes que tive contato. Depois disso, vou direto para o quarto e fico isolado”, conta o bombeiro como o novo ritual tem sido seguido dentro de casa. “Como é um vírus novo, a gente não sabe muito bem como ele pode se comportar na gestação, se ela contrair. A gente parece que fica meio doido com isso, mas eu acho que é um cuidado a mais que a gente tem que ter para o bem de todos”, revela otimista na expectativa de que tudo volte a ser como era antes.

O atual momento requer sacrifícios, cuidados e o esforço de todos. Mesmo sem apresentar quaisquer sintomas da doença, o contágio pode acontecer, por isso, é vital sair de casa somente em extrema necessidade. Assim, você contribui para não colocar em risco a vida dos outros e ajuda a não sobrecarregar o sistema de saúde. Enquanto policiais, bombeiros, peritos e médicos legistas estão nas ruas e nos laboratórios, você fica no lugar mais seguro de todos: sua casa. É lá onde você vai encontrar refúgio e fortaleza, e vai continuar salvando vidas.

Isolamento social necessário

O Decreto Estadual nº 30.519, de 19 de março de 2020, estabelece medidas de combate à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a partir de critérios técnicos e científicos, no intuito de promover o isolamento social da população, como melhor alternativa para evitar o avanço da doença, protegendo a vida de todos, em especial daqueles que integram seu grupo de risco.

O Governo do Estado esclarece ainda que o isolamento da população é o meio mais eficaz para conter a rápida disseminação do coronavírus, reduzindo no tempo a curva de crescimento da doença e, assim, permitindo que as unidades de saúde não entrem em colapso na capacidade de atendimento e possam atender, da melhor forma, todas aqueles que, no período de disseminação ampla da pandemia, venham a precisar de cuidados médicos.

(*)com informação do Governo do Estado do Ceará