A projeção feita pelo Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ao anunciar que, entre os meses de abril e junho, o Brasil terá um grande número de casos de coronavírus e que, somente em setembro, haverá uma redução brusca de pacientes infectados, abre caminho para a mobilização em defesa do adiamento das eleições municipais de 2020. Claro, que uma boa fase da campanha é pelas redes sociais, mas o calendário exige e tem muitos eventos com a presença de público.

Os encontros para definição de candidaturas, as convenções, o registro  dos postulantes e coligações,  o  deslocamento de candidatos e advogados para as sedes dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),  as caminhadas, as passeatas, as carreatas, os debates e o primeiro turno da eleição, marcado para o 5 de outubro,  estão no calendário que gera  fluxo e aglomeração de pessoas e, no cumprimento dessa agenda, os eventos podem contribuir para o vírus continuar se espalhando.

Uma das primeiras vozes que surgiram com a tese em defesa do adiamento das eleições foi do deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) que defendeu o uso dos recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário para as ações de enfrentamento ao coronavírus. Delgado não é voz solitário. O Fundo Eleitoral tem R$ 2 bilhões reservados para os gastos com a campanha dos candidatos a prefeito e a vereador dos 5.557 municípios brasileiros. Nessa lista, estão as 184 cidades do Ceará.

REDES SOCIAIS

A tese levantada no meio político começou, nesse final de semana, a ganhar as redes sociais com apelos de personalidades do mundo artístico. A cantora Ivete Sangalo deixou o recado: “Esse dinheiro tem que ser usado em algo de fato relevante. É urgente”.

A postagem de Ivete, com mais de 420 mil cliques, foi endossada pelo padre Fábio de Melo. “Mil vezes sim!”, destacou o religioso. A cantora Daniele Mercury mandou um recado ainda mais duro: “Ao governo brasileiro e a todos os políticos: compre os aparelhos, crie os hospitais que forem necessários, compre EPIs pros profissionais de saúde! Use o dinheiro do fundo partidário”.

A voz dos artistas se refere ao dinheiro do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário e, nas áreas de saúde e política, existem mais munição para o debate. Como todas as articulações para definição de candidaturas e alianças entre os partidos são feitas com a presença de lideranças políticas e pré-candidatos, o ambiente, com essa movimentação, seria mais favorável a propagação do Covid-19.

Um dos momentos com mais aglomeração é durante as convenções para fechamento de alianças e oficialização das candidaturas, entre os dias 20 de julho e 5 de agosto. As convenções são marcadas pela presença de apoiadores que vão ao evento mostrar força e lealdade aos aliados. As convenções são antecedidas de muito tête-à-tête entre lideranças comunitárias e políticas e pré-candidatos para engajamento no evento que marca a deflagração da corrida eleitoral.

SAÚDE E CASUÍSMO

Os argumentos dos defensores do adiamento das eleições tem dois pontos fortes que, certamente, geram sensibilidade ao público: um, ao invés dos gastos de R$ 2 bilhões com a campanha, que o dinheiro seja usado para ampliar a capacidade da rede pública no atendimento às vítimas da pandemia. O segundo argumento, nesse caso técnico, é de que, com aglomerações, como são as campanhas eleitorais, principalmente, nas pequenas e médias cidades, o risco de transmissão do coronavírus é bem real.

As correntes contrários à tese de transferência da disputa pelas Prefeituras e pelas Câmaras Municipais para 2022, coincidindo com a corrida pelos Governos Estaduais, Assembleias Legislativas, Câmara Federal, Senado e Presidência da República, ainda estão no silêncio, mas, no conjunto de argumentos para se opor à ideia, está o discurso de que, qualquer tentativa nesse sentido, é casuística e antidemocrática. Os próximos 40 dias serão emblemáticos para a invasão desse debate em meio à pandemia de coronavírus. É aguardar!