O Governo Federal não dimensionou, nem acreditou no que viu, ao longo do dia, em quase 200 cidades brasileiras. As manifestações contra a retração de verbas para as universidades – sem balbúrdia, representam um duro recado ao Palácio do Planalto. A voz das ruas não pode ser ignorada, nem tratada com desdém.
Os protestos tiveram como maior estímulo o corte (ou contingenciamento) de recursos para institutos e instituições de ensino superior. No Ceará, foram mais de R$ 108 milhões barrados no Orçamento de 2019 para o IFCE, Unilab, UFC e UFCA. O corte gera dor e, para não se transformar em gangrena, exige um grito antes de uma crise maior. É, assim, que precisam ser entendidas as manifestações desta quarta-feira.
Se a quantidade de pessoas nos protestos surpreendeu, maior surpresa surgiu nas palavras expostas pelo presidente Jair Bolsonaro que classificou os manifestantes de idiotas úteis. Uma resposta do Chefe da Nação que, ao invés de acalmar e sinalizar para o diálogo, eleva a temperatura e pode ser interpretada como combustível em um incêndio, que deve ser contido para não se alastrar.
As palavras ao vento queimam e tostam. O tamanho dos protestos contribui para reflexão, para acalmar ânimos e, quem sabe, para uma avaliação sobre o bom senso que precisa prevalecer em meio a uma crise aberta – não apenas no âmbito do ensino superior, mas sim na educação pública.
Protesto em Redenção. / Imagem: Reprodução.
Repito: o grito nas ruas não é apenas para preservar as universidades, mas é – acima de tudo, contra a incerteza dos rumos do ensino público no Brasil. Afinal, em 120 dias, são dois ministros e poucas ações efetivas que deem um norte de segurança para quem quer e sonha com um ensino público de melhor qualidade. Se há excesso, que o Governo os combata. Se há corrupção, que os fiscais do dinheiro público a iniba e ofereçam as condições para a Justiça condenar quem se beneficiou ou se beneficia dos mal feitos. Agora, é um tremendo erro ignorar o sentimento das ruas!