Quatros anos após a Copa do Mundo de 2014, duas obras prometidas para serem entregues para a competição seguem inacabadas em Fortaleza, uma das 12 cidades-sede do Mundial: o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) Parangaba-Mucuripe e a ampliação do aeroporto Pinto Martins.

A previsão de entrega da expansão do aeroporto era dezembro 2013, mas os trabalhos foram interrompidos em maio de 2014. Já o ramal do VLT, com 12,7 km de extensão em via dupla – 11,3 km em superfície e 1,4 km em elevado – cruzando 22 bairros entre a estação Parangaba e as proximidades do porto do Mucuripe teve as obras paralisadas dois meses antes do mundial.

‘Ruínas’ serão removidas

Neste mês, a empresa que venceu em 2017 a licitação para gerenciar o aeroporto começou a remoção da estrutura inacabada da expansão. Deve começar a obra em 30 de maio e prevê investimentos de R$ 800 milhões, valor que contempla a contratação de empresas, compra de equipamentos, desenvolvimento e a gestão do projeto.

Iniciada em 2010, a construção parou aos 25% de execução, quando o contrato com o consórcio executor foi rescindido. O valor previsto para o projeto era R$ 336 milhões. Segundo a Infraero, foram pagos ao consórcio inicial R$ 52.592.540 desse valor.

Em janeiro de 2014, a Infraero reconheceu o atraso e implantou uma estrutura para a demanda extra de embarques e desembarques. O “puxadinho”, como ficou conhecido, custou R$ 3,5 milhões. Atualmente, o aeroporto tem capacidade para atender 6,4 milhões de passageiros por ano. Com a ampliação, a capacidade passaria para 11,2 milhões.

Em março de 2017, o aeroporto Pinto Martins foi a leilão dentro do Programa de Privatização do Governo Federal quando foi arrematado pela alemã Fraport por R$ 1,5 bilhão, dos quais, R$ 425 milhões pagos à vista. A Fraport vai administrar o equipamento por 30 anos.

– Pelos termos do acordo de concessão, a Fraport é obrigada a desenvolver a infraestrutura no aeroporto incluindo:

  • Expansão do terminal para 26.000 m²
  • Extensão da pista em pelo menos 210 metros
  • Reforma do pátio de embarque e desembarque das aeronaves
  • Reforma e realocação das pistas de táxi
  • Reformulação do sistema rodoviário
  • Implementação um novo sistema automatizado de controle de bagagem e controle de segurança
  • 12 Pontes de embarque de aeronaves e respectivos pátios

– Melhorias no terminal de saída dos passageiros em Fortaleza:

  • Banheiros e fraldários
  • Sinalização de terminais
  • Wi-Fi gratuito de alta velocidade
  • Iluminação externa para acessos de rodovias, estacionamentos, terminais de passageiros e cargas, além de outras áreas
  • Melhorias no ar-condicionado, escadas rolantes, esteiras, elevadores e correias transportadoras de bagagem
  • Manutenção geral de superfícies em áreas para passageiro

Até agora, só pequenas mudanças foram implementadas, como sinalização interna, além de reparo nos elevadores e escadas rolantes.

Cinco licitações para o VLT

Quando o árbitro apitou o fim do jogo entre Brasil e Espanha em 30 de junho de 2013, na Copa das Confederações, o trecho do VLT da Avenida Borges de Melo, no Bairro de Fátima, em Fortaleza, teria de estar pronto. Terminou a Copa das Confederações e a Copa do Mundo e a obra não foi concluída.

Com custo total inicial de R$ 307,5 milhões, a obra do VLT teve o contrato rompido pelo Governo do Ceará com o consórcio responsável após uma série de atrasos notificados pela Secretaria da Infraestrutura (Seinfra).

Em agosto de 2014, já após a Copa do Mundo, uma segunda licitação foi feita para escolher a empresa/consórcio que daria continuidade às obras. Nesta licitação, a única proposta recebida foi recusada após análise técnica. Em 10 de dezembro do mesmo ano, uma terceira licitação foi aberta, desta vez na modalidade de Regime Diferenciado de Contratação. Uma única empresa apresentou proposta que também foi recusada em decorrência da inabilitação da proponente.

Quatro meses depois, em abril de 2017, uma quarta licitação. Realizada mediante o Regime Diferenciado de contratações Públicas (RDC), que tem regras simplificadas em comparação com a Lei das Licitações, garantindo mais agilidade e eficiência no processo. Um consórcio formado por duas empresas foi o vencedor e a obra foi dívida em três trechos passagem inferior da Avenida Borges de Melo, no Bairro Vila União; estação Borges de Melo até a estação Parangaba; e estação Iate Clube à estação Borges de Melo.

Em agosto de 2017, a quinta licitação foi realizada para a conclusão do trecho que vai da estação do Iate Clube até a estação da Borges de Melo. As obras desse trecho foram divididas em três lotes e estão sendo realizadas pelas empresas vencedoras. O primeiro lote corresponde à construção de quatro viadutos ferroviários, um elevado e duas pontes; o segundo, se refere à construção de seis passarelas; enquanto que o terceiro lote contemplam as vias férreas e os acessos.

Atualmente, o Ramal Parangaba-Mucuripe, do VLT, se encontra com 75,32% de avanço nas obras. Um trecho de cinco quilômetros – entre as estações Parangaba e Borges de Melo – já está concluído e, desde 2017, se encontra em operação assistida, transportando passageiros de forma gratuita. O próximo trecho a ser entregue – ainda no 1º semestre de 2018, segundo a Secretaria da Infraestrutura – será passagem inferior da Avenida Borges de Melo.

Já o restante do trecho, entre as estações Borges de Melo e Iate Clube, segue em obras e deve ser concluído até o final de 2018. De acordo com a Seinfra, está em andamento a operação experimental, sem passageiros, entre as estações Borges de Melo e São João do Tauape. A previsão é de que a operação seja estendida à estação Papicu até o mês de junho.

Com as mudanças no projeto e as diversas licitações ocorridas o valor total da obra passou de R$ 1 milhões inicialmente previsto, para cerca de R$ 380 milhões. Desse total, R$ 246,2 milhões já foram gastos. Quando concluído, o ramal Parangaba-Mucuripe atravessará 22 bairros da capital e deverá transportar cerca de 90 mil passageiros/dia, segundo a Secretaria da Infraestrutura do Estado.

Moradores reclamam

Junto com as obras vieram os transtornos para quem trabalha e mora nos arredores da obra do VLT como no trecho da Avenida Borges de Melo. Neste ponto, o VLT começou no final de 2012. De lá para cá as obras foram paralisadas por dois anos e retomadas no final de 2016 com término estipulado pelo governo cearense até fim de 2018.

Os atrasos, as mudanças no trânsito e os entulhos há seis anos mexem com a rotina de quem vive ou transita perto do canteiros de obras. O estudante Guilherme Uchôa, de 19 anos, mora no Bairro de Fátima e conta os problemas que a obra inacabada trouxe não só para eles como para outros moradores de um condomínio.

“Vi muita gente alugando ou colocando seus imóveis para vender por causa dessa obra. Dificuldade para sair de casa, para chegar principalmente à noite, além da mudança constante do trânsito na região”, conta.

O aposentado Luís Ulisses Cardoso, de 68 anos, não chegou a ter sua residência destruída para a construção do VLT. Como tantos outros recebeu promessas de que com a desapropriação iria ter um imóvel melhor em um lugar menos perigoso. Ficou só na promessa.

“Pessoal do governo veio aqui só umas duas vezes. Disse que a gente ia sair em um prazo de três meses. Não saímos, aí a obra começou e terminou. Aí veio as desgraças. Tudo o que for de ruim aconteceu por aqui. Começamos pela escuridão que ficou após a retirada de alguns postes de iluminação. Em seguida a poeira, o barulho e os restos de materiais por conta da obra”, conta.

Seu Luís diz que com o abandono os próprios moradores chegaram a retirar os entulhos. A dona de casa Antonieta Tavares, de 48 anos, ficou esperançosa por uma vida melhor com a Copa. “Se começaram, vão ter que terminar”, afirma.

Trânsito complicado

Quem sofre também com a mudança é o motorista. Os engarrafamentos na Rua Engenheiro Edmundo Almeida Filho até a Rua Via Láctea são quilométricos. Um trajeto para ser percorrido em pelo menos 10 minutos hoje com as obras chega a demorar 45 minutos.

“É muito complicado você demorar mais de meia hora para percorrer um espaço que não chega a dois quilômetros ou três. Além do engarrafamento, pela noite, nós motoristas corremos o risco dos assaltos e com o trem que passou a funcionar”, relata um motorista.

Com informações G1