A solidariedade de mães cearenses materializou-se em 3.940 litros de leite materno obtidos por meio do cadastro de 4.256 mães doadoras em 2016. Além de amamentar os filhos, elas dividiram o alimento que o próprio corpo produz com bebês que estão internados em quatro hospitais da rede pública estadual.
Ao longo de todo o ano passado, os bancos de leite do Hospital Geral César Cals (HGCC), do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), do Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e do Hospital Regional Norte (HRN) receberam essas mulheres, coletaram a doação e pasteurizaram o leite que ajudou a alimentar os bebês que estão internados. O total recebido pelas quatro hospitais, todos da rede pública do Governo do Ceará, equivale a 328 litros por mês.
Em 2016, o HGCC conseguiu doação de 1.485 litros de leite materno. Graças às contribuições de 2.635 mães, como Tatiane Maria Cardoso. “Quando meu bebê fez um mês, eu comecei a doar”, disse ela, que contribui para a recuperação dos bebês internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do hospital. O primeiro filho dela, Gabriel, que hoje está com quatro meses, nasceu prematuro e precisou ficar sete dias internados na UTI Neonatal de uma maternidade particular de Fortaleza. “Como eu passei um tempo na UTI com meu filho, vi o quanto o leite materno é necessário”, lembra.
Melhor alimento
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os bebês recebam leite materno até os dois anos ou mais associado à alimentação complementar saudável, sendo exclusivamente até o 6º mês de vida. Além de fazer bem para a saúde da mãe e do filho, o aleitamento materno é a forma mais econômica e ecológica de alimentar uma criança.
“As doações são sempre necessárias, pois temos sempre bebês internados. E o leite materno é o melhor que há para fortalecer a criança”, explica a médica Erandy Souza, coordenadora do Banco de Leite Humano (BLH) do Hias. Entre janeiro e dezembro de 2016, o banco de leite do hospital recebeu 1.185 litros de leite materno doados para alimentação dos bebês internados na ala de Médio Risco e UTI Neonatal. As doações foram feitas por 1.043 mulheres, de Fortaleza e do interior do Ceará.
Entre as doadoras está Helena Karina Bezerra Pessoa, que foi a última a se cadastrar no BLH do Albert Sabin no ano passado. “Eu tenho muito leite e pesa muito. Mas Deus sempre mostra o caminho. Logo após minha filha nascer eu estava assistindo TV e vi que três lugares estavam precisando de doação, e o Albert Sabin era o que mais precisava. Então decidi doar”, conta a estudante de 23 anos.
“Peço às mães que podem doar que pensem bem, se coloquem sempre no lugar do próximo. Se fosse a nossa filha, ficaríamos muito felizes em receber essa doação. Então, doem”, diz Helena. Ao se tornar mãe da pequena Maria Sofia, ela optou por passar a licença-maternidade com a avó da criança, na cidade de Jaguaribe, a 308 km da capital Fortaleza, onde reside. “Todos os dias eu tiro um pouco de leite, às vezes, tiro duas vezes. Uma vez por semana, meu irmão ou outra pessoa vai deixar no hospital. Mando uns oito vidros toda semana”, afirma.
Gratidão
Em vésperas de feriados prolongados, entretanto, as doações costumam cair. Mas a necessidade desse alimento, rico em nutrientes e ideal para alimentar as crianças internadas, é constante. As mães dos pequenos beneficiados demonstram gratidão às que reservam parte do leite produzido para outros bebês.
Em Fortaleza, Maria Irilene Xavier, 30 anos, é mãe do pequeno João Ícaro, que tem menos de um mês de vida. No nascimento, João teve insuficiência respiratória e precisou ficar em observação no berçário do Hospital Geral de Fortaleza. Por conta disso, precisou ser amamentado com o leite de outras mães. “Eu não pude levá-lo para casa logo, então, como ele ficou na UTI-Neo, ele precisou tomar leite de outras mães. Eu sou eternamente grata por isso. Acho importante outras mulheres que tenham leite excedente e queiram doar, que façam esse ato de amor, assim como eu estou fazendo agora”, fala Maria Irilene. O banco de leite do HGF recebeu 866 litros de leite materno, doados por 90 mães, em 2016.
Em Sobral, Alais Felipe de Oliveira, acompanha a filha, Maria Emmir Oliveira, de apenas um mês, na Unidade de Cuidados Intermediários do HRN. A atendente de consultório médico acompanha diariamente a pequena Maria, que veio ao mundo prematuramente, a 31 semanas de gestação. Umas das principais tarefas de Alais é amamentar Maria Emmir, mas quando o seu leite não é suficiente é o alimento doado que sacia a fome da bebê.
“Quando tenho leite além do que minha filha precisa, eu vou ao banco de leite doar. Me sinto muito feliz em poder retribuir esse gesto de solidariedade que outras mães tiveram. Sinto uma enorme gratidão em saber que outras mulheres se dispõem a doar leite para as crianças que precisam”, ressalta Alais.
“Quando ajudamos ao próximo, lá na frente somos recompensados por nossa atitude”, avalia Maria da Soledade Aragão, auxiliar de laboratório do HRN, que há três meses é doadora assídua do banco de leite do hospital regional. Maria Soledade conta que produz o suficiente para amamentar o filho Daydson Santiago, de 10 meses, e ainda sobra para ajudar outros bebês. “Para mim é muito importante. Vou doar até o dia que eu puder”, declara.
Em 2016, o banco de leite do HRN realizou a coleta de 404 litros, de 488 doadoras. Segundo a coordenadora do BLH, Samara Andrade, é feito um trabalho permanente para que o número de doações aumente. “Mantemos contato permanente com a atenção primária, que são os postos de saúde. Sempre que são feitas reuniões nesses locais nos programamos para participar e, assim, fazer uma sensibilização com os profissionais desses locais para que possam contribuir para aumentar as doações no nosso banco”, enfatiza Samara. O HRN conta com o único Banco de Leite da zona norte do Estado.
Com informação da A.I