O ano do ajuste. Um duro ajuste. Para economistas e analistas do mercado financeiro, assim foi o primeiro ano do governo de Michel Temer na gestão da economia. Há consenso de que, considerando o ponto de partida, o País está muito melhor. A maior vitória, consideram, ocorreu no terreno das expectativas. O Brasil recuperou a confiança, patrimônio essencial para a saúde financeira de qualquer nação. A regeneração das finanças públicas e a saída da recessão, porém, não seguiram na mesma velocidade. Em parte porque a herança do governo anterior era mais pesada do que se supunha, mas também como resultado de estratégias adotadas pelo atual governo, avaliam os economistas.
“Todo presidente da República precisa entender o seu mandato, pois, sobre cada um, recai uma expectativa diferente. Temer deveria mudar, em curto espaço de tempo, a estrutura da política econômica e estabilizar a bolha que estourou na economia: nisso, ele foi um sucesso”, diz o economistas Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A estabilização aparece na reversão dos chamados indicadores de “alta frequência”, sensíveis ao humor do mercado. O risco país – que, quanto mais baixo, melhor – é o principal exemplo da virada. Despencou. Estava encostando em 500 pontos, quando teve início o processo de impeachment. Ontem, fechou em 205 pontos.
Para Mendonça de Barros e outros economistas, a melhora nas expectativas foi fruto da habilidade na montagem de um tripé. “O mérito de Temer foi escolher uma equipe econômica de qualidade e credibilidade; estabilizar a queda no vácuo em que vínhamos – estabilizar, ainda não deu para reverter coisas como o aumento do desemprego; e criar a confiança no futuro, a partir do resgate da agenda de reformas. O resto são questões de segunda ordem”, diz ele.
Ajustes. “Questões de segunda ordem”, porém, começam a preocupar parte dos especialistas. Uma delas é a opção pelo ajuste de longo prazo, via reformas, como a da Previdência, sem que fossem feitas ações de curto prazo para tirar a economia do marasmo ou estancar a deterioração das contas públicas. Nisso, o governo teria perdido oportunidades.
Expectativas melhores são vistas como trunfos duplos. Ao mostrarem que o mercado financeiro tem confiança no futuro do País, permitem que os governos tenham espaço para serem mais ativos no presente, define a economista Mônica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, em Washington.
“Se a expectativa melhora, o Banco Central pode ser agressivo no corte de juros e o governo, acabar com desonerações. Não vimos nada disso, mesmo com a recessão derrubando a inflação e a arrecadação”, diz ela. Segundo Mônica, colocar todas as fichas nas reformas, na expectativa, é uma estratégia arriscada. “Expectativas otimistas não derrubam o desemprego, não mudam o que empresários sentem na pele, numa recessão”, diz Mônica.
Do lado das contas públicas, incomoda o fato de o governo ter concedido reajuste de salários a servidores, elevando o gasto, e não ter feito a faxina no Estado, como o prometido, cortando gasto. O economista Alberto Ramos, diretor do Grupo de Pesquisas Econômicas para América Latina do banco americano Goldman Sachs, resume o que está na cabeça de muitos.
Ele lembra que, nos últimos 15 anos, o gasto primário cresceu 6,5%, em termos reais, por ano – o dobro do Produto Interno Bruto (PIB). “Depois de 15 anos de uma expansão gigante do setor público e do gasto, não há nada o que cortar? Todo gasto está bem focalizado? É eficiente? Eu entendo a dificuldade política de cortar, porque alguém vai perder e chiar, mas meu papel como analista é identificar problemas, e não entendo porque não cortaram”, diz.
Consolida-se também uma certa frustração com a demora na recuperação. Apenas no primeiro trimestre de 2017, surgiram chances reais de recuperação, graças ao espetacular desempenho do agronegócio, diz Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Questão de realismo, diz ela, que monitora o PIB: “O mercado teve uma visão otimista, mas nós preferimos ser conservadores, cientes de que a recessão é profunda. O saldo do ano, porem, é positivo até nessa recuperação lenta: é recuperação, e não consigo imaginar quão piores estaríamos sem as mudanças”.
Com informações O Estado de São Paulo