Os pais e responsáveis devem ficar atentos com a imunização das crianças e adolescentes contra a meningite. A confirmação de três surtos da meningocócica tipo C em 2022 na capital paulista, e o crescimento recente de casos e óbitos pela doença em outras localidades do país, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, acendem um alerta sobre a necessidade de redobrar os esforços de prevenção.
Uma das maiores preocupações nesse alerta é justamente com a queda da cobertura vacinal contra a doença nos últimos anos. Uma queda considerada drástica.
Segundo o Ministério da Saúde, a aplicação da vacina meningocócica C (conjugada) em menores de um ano de idade caiu, em apenas cinco anos, de 87,4% para 47% no Brasil. A Fiocruz observa que a meningite é uma doença grave, que pode levar à morte e deixar diversas seqüelas, e a melhor forma de evitá-la é a vacinação.
CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO
Como parte do Calendário Nacional de Vacinação do MS, a imunização contra a meningite meningocócica C deve ser aplicada nos bebês em três doses: aos 3, 5 e 12 meses de idade. Segundo, ainda, o calendário, até fevereiro de 2023, crianças de até 10 anos não vacinas também podem receber o imunizante, em uma dose.
Outra recomendação é que a vacina meningocócica ACWY deve ser aplicada em adolescentes de 11 e 12 anos de idade, em uma dose. Contudo, até junho de 2023, também pode ser aplicada em adolescentes entre 13 e 14 anos que não se vacinaram.
Conhecida como vacina conjugada quadrivalente, o imunizante protege contra os sorogrupos A, C, W e Y, responsáveis pelas doenças meningocócicas. Os dois imunizantes (contra a meningite C e ACWY) estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde do país durante todo o ano.
RECADO DA FIOCRUZ: ALTO ÍNDICE DE MORTALIDADE
O infectologista pediátrico do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Marcio Nehab, destaca que as meningites, de forma geral, são classificadas pelo seu agente causador.
“A meningite é uma inflamação das meninges, que são as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. No caso da meningocócica C, ela é causada pelo meningococo do sorotipo C, por isso o nome. É uma doença com um quadro de evolução rápido e, em horas, o paciente pode morrer’’, afirma o infectologista.
Mesmo com todo o tratamento moderno, conforme Marcio Nehab, a taxa de mortalidade da meningite meningocócica C permanece praticamente estável, em torno de 20%. ‘’É um índice bem alto. A única maneira de reduzir isso é através da vacinação”, observa.
TRANSMISSÃO E TRATAMENTO DA DOENÇA
A transmissão da meningite meningocócica C acontece através de contato direto com a pessoa infectada, por meio de secreções respiratórias. Geralmente, o período de incubação da doença é, em média, de sete dias. Os sintomas mais comuns nos bebês são sonolência, irritabilidade, febre, vômito e mal-estar geral.
Segundo estudos da Fiocruz, em outras faixas etárias, os sintomas são febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, vômito, dor nas articulações, pressão alta e convulsões podem aparecer. Além disso, manchas arroxeadas podem aparecer nos pacientes infectados.
O diagnóstico da doença é feito a partir da suspeita clínica e confirmado através de exames de sangue e da análise do líquido cefalorraquidiano, um fluído biológico retirado do interior da coluna no exame de punção lombar.
“A evolução do quadro pode ser muito rápida. Por isso, é essencial procurar imediatamente uma unidade de saúde para que possa ser feito o diagnóstico, e, se a doença for confirmada, começar rapidamente o tratamento com antibiótico. Além disso, todo paciente infectado com doença meningocócica deve ser internado em uma unidade de terapia intensiva e isolado”, detalha o especialista Marcio Nehab, em publicação da Fiocruz.
PREOCUPAÇÃO COM A MENINGITE PNEUMOCÓCICA
A publicação da Fiocruz esclarece, ainda, que tro tipo de meningite, a pneumocócica, também preocupa. Enquanto a meningocócica C é causada por uma bactéria do tipo C, a pneumocócica se trata de um tipo de meningite bacteriana causada pela bactéria Streptococcus pneumoniae, que também é o agente infeccioso responsável pela pneumonia. A doença tem maior incidência entre crianças pequenas.
Em Minas Gerais, por exemplo, houve um aumento de 40% nos óbitos registrados de janeiro a outubro, em comparação a todo o ano de 2021, quando 15 pessoas faleceram em decorrência da doença. Só neste ano, foram 21 mortes por meningite pneumocócica no estado mineiro, incluindo um bebê de três meses.
“A apresentação clínica da meningite pneumocócica é muito similar à meningite meningocócica, os sintomas são os mesmos, assim como as orientações e prevenção. Porém, ela é menos transmissível, o que não quer dizer que é menos preocupante”, afirma o pediatra e infectologista Marcio Nehab. De acordo com a médica Eliane Matos, de Bio-Manguinhos, a taxa de letalidade da pneumocócica é ainda maior do que a meningocócica C: no período de 2007 a 2020, a média foi de 29%.
A especialista esclarece que no Calendário de Vacinação do Ministério da Saúde é oferecida a vacina pneumocócica 10-Valente (conjugada), em esquema de duas doses e um reforço, sendo administradas aos dois e quatro meses de idade, com um reforço aos 12 meses de idade.
(*) Informações do Portal da Fiocruz