Os médicos cubanos já estão indo embora, enquanto, nos 3.228 municípios atendidos apenas pelo Programa Mais Médicos , os sinais de preocupação são cada vez mais evidentes: 611 cidades, segundo o mais recente levantamento do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), correm risco de ficar sem nenhum profissional na rede pública a partir do Natal, após a decisão do governo de Cuba de não participar mais do programa.
O Ceará tem 448 profissionais de saúde formados em Cuba e hoje distribuídos entre 118 cidades. De acordo com a Vice-presidente do Conselho Estadual de Secretarias Municipais do Ceará, Sayonara Cidade, os prejuízos, com a saída dos médicos cubanos, são grandes e não há como o Governo Federal repor as vagas abertas com o fim do Programa Mais Médicos. Essa realidade, conforme afirmou, se retrata no fato de que há oito meses não houve reposição dos médicos, mesmo com os editais abertos pelo Ministério da Saúde.
Segundo o presidente do Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (Conasems), Mauro Junqueira, as 661 cidades que ficarão sem médicos só possuem cubanos. Os médicos começam a voltar para Cuba e, nessa segunda-feira, re
presentantes do Conasems vão se reunir com o Ministério da Saúde, que anunciou a abertura de edital para que médicos formados no Brasil ocupem as vagas que serão deixadas por cubanos. Numa segunda etapa, serão convocados brasileiros formados no exterior.
O objetivo, com o edital aberto, é que as vagas sejam repostas ainda em novembro. Os prefeitos das cidades atendidas pelo Mais Médicos e que mais cubanos entre os profissionais de saúde são céticos quanto ao cumprimento desse calendário. O ministro da Saúde, Gulberto Occhi, sinaliza, porém, com otimismo: ‘’ Nossa intenção é que, à medida em que forem surgindo as vagas, os médicos brasileiros, com CRM daqui, já possam fazer opção. Nós acreditamos que existe um universo de cerca de 15 a 20 mil médicos que estão aptos a participarem do edital’’, observou o ministro.
O Governo Federal quer, também, atrair os profissionais formados nas universidades que tiveram financiamento com recursos públicos. O Ministério da Saúde quer atrair profissionais formados pelo Programa de Financiamento Estudantil (Fies) . Eles ingressariam no programa e, em troca, abateriam parte da dívida. A proposta será levada à equipe de transição de Bolsonaro.
O Fies foi instituído em 2001 e concede financiamento a estudantes em cursos superiores pagos. Depois de formados, eles têm que pagar o empréstimo. A forma como os participantes do Mais Médicos teriam sua dívida abatida não foi definida. Não se sabe ainda, por exemplo, se haverá um desconto no salário de R$ 11.865,60 pago todos os meses aos médicos do programa.
O desafio maior para o atual Governo e, também, para a equipe do presidente Jair Bolsonaro que toma posse no dia primeiro de janeiro de 2019, segundo o presidente do Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde, Mauro Junqueira, é conseguir repor o mais rapidamente possível os profissionais cubanos, que atendem basicamente comunidades em áreas de vulnerabilidade social, com alto índice de criminalidade, comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhos e moradores de áreas de floresta.
Com a inevitável burocracia no processo de seleção dos médicos, Junqueira não tem dúvidas: ‘’Algumas regiões possivelmente ficarão sem médico por um período entre 60 e 90 dias. Tudo vai depender da celeridade do Ministério da Saúde e do número de inscritos na primeira chamada. O Conselho Federal de Medicina afirmou que tem médicos disponíveis no Brasil, vamos torcer para que todos se inscrevam ‘’, destacou.