Seis em cada dez crianças brasileiras vivem na pobreza, o que inclui, além de baixa renda, acesso a direitos básicos. É o que mostra um estudo do Fundo das Nações Unidas para Crianças (Unicef) divulgado nesta terça-feira. São cerca de 32 milhões de pessoas de 0 a 17 anos afetadas no país. Desse total, 18 milhões vivem com menos de R$ 346 per capita mensal na zona urbana, e menos de R$ 269 na zona rural.
Para chegar ao conceito de pobreza em suas múltiplas dimensões, o Unicef considerou dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad) de 2015 de renda e também a privação a seis direitos básicos: educação, acesso a informação, proteção contra o trabalho infantil, moradia, água e saneamento.
Entre as 32 milhões de crianças atingidas, 6 milhões são afetadas somente pela pobreza monetária, mas têm os seis direitos garantidos. Já 14 milhões, embora não tenham carência de renda, sofrem com privação de ao menos um item analisado pelo Unicef. Na pior situação, estão 12 milhões de crianças que sofrem nos dois aspectos: falta de dinheiro e direitos violados.
Falta de saneamento é o pior aspecto
A falta de saneamento é a privação que atinge mais crianças e adolescentes no país: 13,3 milhões. Em segundo lugar, vem a educação, com 8,8 milhões de atingidos. Muitas pessoas têm mais de um direito violado. Há 13,9 mil crianças e adolescentes que estão à margem de qualquer política pública, pois não têm acesso a nenhum direito analisado.
A representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer, lembra que as autoridades precisam criar politicas públicas para diminuir essas violações.
— Em ano de eleição é preciso que as autoridades atentem para esse grupo e coloquem as crianças e os adolescentes no centro das políticas públicas, porque isso vai ter impacto em todas outras dimensões do país, como economia e meio ambiente. Esperamos que o Brasil alcance a meta — diz.
Na área rural, 87,5% das crianças têm os direitos violados; na zona urbana, 41,6%. O Norte e Nordeste apresentam os piores índices no conjunto de violações: 75,1% e 63,4% das pessoas com privação, respectivamente.
O estudo aponta ainda que, entre negros, o número de atingidos é de 58,3%, maior que na população infanto-juvenil branca: 38%.
A pesquisa também mostra que, quanto mais a idade avança, maiores as violações. Enquanto 39,7% das crianças de até 5 anos são afetadas, na faixa etária de 6 a 10 o índice sobe para 45,4%. De 11 a 13 anos, o índice salta para 58%, chegando a 59,9% entre os jovens de 14 a 17 anos. Na média, meninos e meninas são afetados de forma semelhante pelas múltiplas privações, embora haja diferenças no acesso a educação e trabalho infantil.
A coordenadora da área de políticas do Unicef no Brasil, Liliana Chopitea, chama a atenção para as consequências da pobreza infantil no desenvolvimento da criança.
— A pobreza afeta o desenvolvimento físico, cognitivo e social da criança. O objetivo de erradicar a pobreza é crucial. É um problema global — afirmou Liliana.
Com informações O Globo