O debate desse domingo, 9, na TV Gazeta, ficou marcado pelo tom morno após o ataque ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). A plateia também não ficou atrás. No lugar da tradicional militância, estiveram presentes políticos e coordenadores de campanha, além de uma maioria de jornalistas.

Além da emissora de TV, também organizaram o evento a rádio Jovem Pan, o Jornal O Estado de S. Paulo e o Twitter. As exceções à falta de empolgação entre os presentes vieram principalmente em dois momentos bem marcados: diante de declarações de Henrique Meirelles (MDB) e de gestos nos intervalos do debate protagonizados por Ciro Gomes (PDT). O pedetista arrancou risadas da plateia ao ensaiar passos de dança desajeitados, em dois intervalos, enquanto ouvia a informação levada ao ar de que liderava as menções de internautas no Twitter – ainda que as menções, enfatizava a emissora, pudessem ser negativas, positivas ou neutras.

O segundo momento aconteceu quando Meirelles respondia à pergunta de uma internauta do Twitter sobre ações que, uma vez eleito, adotaria para combater a desigualdade salarial entre homens e mulheres.

“É absolutamente inaceitável mulheres ganharem mais que os homens na mesma função”, disse Henrique Meirelles (MDB) que, apesar das gargalhadas da plateia, nem percebeu, juntamente com seus adversários, que tinha invertido a frase. A plateia ganhou uma sequência de expressões mal-humoradas dos câmeras que estavam sobre o palco, cobrando silêncio.

Nos intervalos, marqueteiros e assessores subiram ao palco para as orientações aos candidatos. Em contraste com os dois primeiros debates de presidenciáveis – na Band e na Rede TV! –, no de hoje, nenhum candidato ou candidata a vice-presidente compareceu, sob alegação de que participavam de outras agendas.

‘Campeão’ de expressões diante das respostas dos adversários, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e candidato pelo PSOL, Guilherme Boulos, despertou reações gerais de riso, de convidados a jornalistas, ao ironizar o mote de campanha de Meirelles, o “Chama o Meirelles”. “Eu não vou chamar o Meirelles, eu vou taxar o Meirelles”, disse, referindo-se ao patrimônio de quase R$ 400 milhões declarado pelo emedebista à Justiça Eleitoral.

Ausência de Bolsonaro

Além de Bolsonaro, estiveram ausentes do debate da Gazeta também os candidatos do PT, que ainda não anunciou a substituição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, barrado pela Justiça Eleitoral, e o deputado federal Cabo Daciolo (Patriota). Ele chegou a ter um camarim com identificação à disposição, mas não compareceu.

Na última sexta, 7, Daciolo, que é evangélico, anunciou que realizaria jejum por 21 dias, e, em função disso, suspenderia os atos de campanha. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro foi citado pelos adversários, após o debate, em tom de solidariedade.

Por outro lado, foram menos amenos que no dia do ataque ao lembrarem que o capitão reformado do Exército vinha mantendo um discurso incisivo sobre violência – com defesa da flexibilização do porte de arma de fogo por civis e não punição a policiais que, no exercício da função, matem criminosos.

Para Ciro, a ausência de Bolsonaro em embates direitos, como os debates, não deve mudar a estratégia de campanha. “Ainda que eu não concorde com nada do que ele fala, que ele diz, que ele representa, para mim foi chocante”, disse Ciro. “Essa radicalização ia descambar para a violência, infelizmente aconteceu. Dentro da tragédia, felizmente não perdemos um ser humano, um líder de uma fração importante do país, mas a partir do dia seguinte, quando eu me certifiquei de ele estava bem, e aí eu já vi [Silas] Malafaia, Magno Malta e o filho [de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro] dizendo que ‘vamos ganhar essa bagaça no primeiro turno’, eu vi que estava ali a mesma turma. Ou seja: ele foi ferido na barriga, mas não mudou nada na cabeça”, criticou o candidato do PDT.

Marina Silva (Rede) lembrou que o atentado contra Bolsonaro se somou a outros dois praticados contra petistas, no Paraná, e ao assassinato da vereadora do PSOL do Rio Marielle Franco, em março deste ano. “Quando se cultiva o ódio, ele acaba se concretizando na prática”, declarou. “Este não foi um debate qualquer, mas a oportunidade de marcar posição contra esse discurso de violência”, concluiu.

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, negou que a campanha tenha mudado o tom ácido que vinha adotando sobre Bolsonaro após o episódio — ainda que programas do horário eleitoral tenham sido alterados após o episódio contra o adversário em Juiz de Fora (MG). “Isso não vai mudar nossa estratégia. Essa é uma campanha de reta de chegada”, ponderou.

E definiu: “Acho que está mais do que claro que não é pela violência que vamos resolver os problemas do país: só vamos agravá-los.” O próximo debate entre os candidatos à Presidência será no próximo dia 18, no Rio, promovido pela Revista Piauí e pelo site Poder 360.

Com informações do Portal Uol Notícias