O mês de setembro marca os 80 anos da invasão alemã da Polônia, considerado o estopim para a Segunda Guerra Mundial. O conflito armado mais devastador que o mundo já testemunhou contabilizou mais de 70 milhões de mortos em batalha, em campos de concentração e de extermínio, com mais de 30 países envolvidos e ficou marcado pelo uso de bombas atômicas.
A violência é intrínseca do ser humano e, nas palavras do general prussiano Carl von Clausewitz, “a guerra é a continuação da política por outros meios”. Logo, o conflito por vias militares só pode ser o resultado dessa soma. Adiciona-se o fato de a indústria armamentista ser o segundo maior mercado do mundo – perde apenas para as drogas – e tem-se em mãos a receita perfeita para um mundo sem paz à vista.
Na História, não há eventos aleatórios, desconexos ou à deriva. Tudo passa por um eterno efeito dominó, onde cada ação terá suas consequências, muitas vezes não imediatas, mas todas inevitáveis. Em 1919, um século atrás, ao final da então Grande Guerra assinou-se o Tratado de Versalhes. O documento que, entre outras coisas, impôs a continuidade da derrota da Alemanha, agora não mais militar, mas sim política e economicamente. Não à toa, considera-se que a mesma tinta que serviu para a assinatura do tratado, acabaria como combustível nacionalista, um pavio que queimaria por 20 anos até, finalmente, explodir na vingança expansionista da Alemanha nazista, já sob o comando de Adolf Hitler.
O mundo mal teve tempo de respirar os ares da paz e, seis anos depois, os países que lideraram a luta contra Hitler – os EUA, o Reino Unido e a União Soviética – acabaram com o seu “casamento” de conveniência. Uma nova guerra amanhecia no horizonte, mas dessa vez, sob a catastrófica ameaça das armas nucleares. O confronto direto entre tais países não ocorreu, o que não significa que a Guerra Fria jamais tenha esquentado. Uma das suas maiores representações é a queda do Muro de Berlim (1989) e a total dissolução da União Soviética (1981). Provavelmente, não houve outra virada de ano cuja promessa de paz e uma nova era tão latente como o 1º de janeiro de 1992.
Três meses depois, um novo elemento entra em jogo: a religião. Ao eclodir um conflito localizado nas antigas repúblicas da Iugoslávia, no sudeste europeu. A Bósnia, ponto central, é um país de maioria muçulmana. Entre os quase 100 mil mortos contabilizados, 65% foram muçulmanos bósnios.
As guerras na Bósnia e no Afeganistão, na década anterior, serviram como terreno fértil e teste de combate para a expansão do fundamentalismo islâmico que, entre diversos outros elementos, culminaria no dia 11 de setembro de 2001. Inaugurava-se então a Guerra ao Terror, liderada pelos Estados Unidos e contando como inimigo número um o saudita Osama bin Laden e sua organização terrorista Al-Qaeda. A morte de bin Laden, dez anos após os ataques, não colocou fim à guerra global contra o terrorismo, pois logo surgiria o Estado Islâmico que, por sua vez, teve como origem a insurgência contra a invasão ilegal do Iraque promovida pelos EUA em 2003.
Para refletir se existe algum motivo para a guerra, no meu livro de ficção Entre Espelhos e Fumaça, publicado pelo Grupo Editorial Letramento, três narrativas com fundo histórico se entrelaçam e reúnem intrigas internacionais, espionagens entre potências mundiais e influência entre países. Tanto na ficção como na realidade, a verdade não dita é que não há vitórias em uma guerra, somente a promessa de que uma nova se iniciará em breve. Atribui-se a Platão a frase “apenas os mortos viram o fim da guerra”. A real autoria da frase é incerta, mas não a veracidade de suas palavras.