A Covid-19 deixou sequelas muito além da econômica no Brasil. Uma triste realidade se faz presente: o crescimento no número de órfãos em todo o país. Entre março de 2020 e abril de 2021, no país, pelo menos 130. 363 crianças e jovens de até 17 anos, ficaram órfãos. Os dados são do Centro De Controle De Doenças Dos EUA e foram publicados na revista Lancet, nessa terça-feira (20).

O número de menores brasileiros que ficaram órfãos é 180 vezes maior que os cerca de 1.200 óbitos na faixa etária até 19 anos desde o começo da pandemia, segundo o boletim mais recente do Ministério da saúde. Colocado em proporção, a cada mil brasileiros menores de idade, 2,4 perderam os responsáveis legais. Entre os 21 países inclusos no estudo, o Brasil ocupa a quarta colocação.

Há três destinos possíveis para menores brasileiros que perdem seus responsáveis: o amparo de parentes, a reorganização familiar em que irmãos mais velhos assumem o cuidado dos mais novos ou abrigos e adoção.

“Orfanatos nunca deveriam ser a resposta”, afirmou Seth Flaxman, pesquisador do departamento de matemática do Imperial College de Londres e de ciência da computação da Universidade de Oxford, no Reino Unido e um dos 16 autores do trabalho.. Ele observa que, de acordo com pesquisas neurocientíficas, institucionalizar crianças prejudica seu desenvolvimento cerebral.

Segundo o estudo, governos precisam ajudar famílias a criar menores que tenham ficado órfãos, para evitar a institucionalização, além de ajudar as crianças afetadas materialmente e emocionalmente.

“Covid mata rapidamente, deixando pouco ou nenhum tempo para prepará-las para o luto”, observa Flaxman.

Pensando nisso, os governadores do Nordeste aprovaram, na última segunda-feira (19), um programa de auxílio social para filhos que perderam os pais para o novo corona vírus. 

O Nordeste Acolhe prevê o pagamento de R$ 500 para os órfãos da Covid-19.

O presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias (PT), explicou que cada estado deve encaminhar o programa para as assembleias legislativas. Ele ressaltou que os governos devem lançar a proposta nos próximos dias.

De acordo com o governador, existe uma minuta aprovada na Câmara Técnica da área social, que funciona dentro do Consórcio Nordeste, coordenada pela governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, que trata do assunto. A partir desse documento, os governadores podem encaminhar a projeto para aprovação nas Assembleias Legislativas. Após aprovação no plenário estadual, o Nordeste Acolhe deve ser implantado ainda em agosto.

No Brasil, três projetos de lei propõem auxílios nacionais a jovens que perderam responsáveis na pandemia: pensão de r$ 1.100 até os 18 anos, um fundo financeiro de amparo e um cadastro para que os órfãos tenham prioridade em programas sociais.

Para os pesquisadores, ações governamentais devem incluir grupos de apoio psicossocial para o luto, terapia comportamental cognitiva com foco no trauma, prevenção da violência sexual e doméstica e apoio psicossocial a famílias sob estresse.