O vendedor F.W., de 30 anos, está internado no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Ele precisou de ajuda especializada após um surto psicótico. Em tratamento há 25 dias, ele revela que se sente bem melhor, com pensamentos mais organizados. Além do acompanhamento psiquiátrico, com uso de medicação adequada, ele declara que outros recursos vêm ajudando na recuperação. Um deles é a arteterapia, conduzida por terapeutas ocupacionais e psicólogos na unidade.
“Todos os dias, após o lanche, vamos para uma sala de arte, onde somos convidados a pintar, desenhar, fazer colagens e outros trabalhos manuais. Hoje, na atividade da Campanha Setembro Amarelo, eu desenhei um carro, uma bola, um computador e um garoto soltando uma pipa, retratando a infância, pois todos nós já fomos crianças um dia. Essa pureza da infância eu não quero perder, faço questão de manter no meu coração, para me trazer equilíbrio, esperança e alegria. Essa atividade nos faz refletir sobre tudo isso e sobre a importância de lidar conosco e com a sociedade”, afirma.
Tintas e pincéis auxiliam pacientes a expressarem emoções e estimulam a criatividade
No Hospital de Saúde Mental, as tintas e pinturas têm um papel importante no tratamento dos pacientes. A arteterapia é uma abordagem terapêutica que usa a expressão criativa, como pintura, desenho e outras formas de arte, para auxiliar as pessoas a explorar e expressar sentimentos, melhorar a autopercepção e desenvolver habilidades emocionais.
Durante o mês de setembro, a valorização da vida e a prevenção do suicídio são temas ainda mais discutidos entre os profissionais e pacientes internados no HSM, especialmente para os que estão em sofrimento psíquico. “É crucial promovermos um senso de dignidade, propósito e esperança durante o tratamento. A hospitalização pode ser um período de vulnerabilidade e incerteza, e, nesse contexto, é importante criar um ambiente que favoreça o bem-estar emocional, ajudando o paciente a encontrar motivação para continuar”, explica o psicólogo hospitalar, Adriano Lopes Júnior, que atua na unidade de internação masculina.
Segundo o psicólogo, a pintura pode contribuir com a expressão de emoções que, muitas vezes, são difíceis de verbalizar. Isso é especialmente útil para aqueles que têm dificuldades em falar sobre os próprios sentimentos, como em casos de trauma, ansiedade ou depressão.
O especialista reforça que a pintura e outras formas de expressão artística têm um valor terapêutico inestimável para o cuidado da saúde mental, auxiliando tanto na expressão de emoções quanto na melhoria geral do bem-estar. “Além disso, usamos outros recursos terapêuticos essenciais na recuperação da saúde mental dos nossos pacientes, como a psicoterapia individual, os grupos terapêuticos e o apoio de toda equipe multidisciplinar”, destaca.
Vantagens que arte traz para a melhoria da saúde mental:
Redução do estresse e da ansiedade
O ato de pintar pode ser profundamente relaxante. Focar nas cores, formas e no processo criativo ajuda a desviar a atenção dos pensamentos negativos e do estresse do dia a dia, promovendo uma sensação de calma e bem-estar.
Autoconhecimento
A pintura também facilita o autoconhecimento, pois muitas vezes os sentimentos mais profundos podem emergir inconscientemente através da criação artística. Isso ajuda a pessoa a entender melhor suas emoções e pensamentos.
Estímulo da criatividade e flexibilidade mental
O processo criativo estimula o cérebro de maneira positiva, promovendo a flexibilidade cognitiva. Pessoas que se envolvem com a pintura desenvolvem uma mentalidade mais aberta e criativa, o que pode ajudar a lidar com desafios de maneira mais eficaz.
Interação social e vínculo
Em sessões de arteterapia em grupo, a pintura também pode facilitar a interação social e a criação de vínculos, o que é especialmente benéfico para pessoas que enfrentam solidão ou isolamento social.
Reintegração de experiências traumáticas
Para pessoas que passaram por traumas, a arte pode ser uma ferramenta de reintegração. Ela ajuda a organizar e processar essas experiências de uma maneira segura e simbólica, permitindo que o indivíduo enfrente suas memórias com mais controle e menos sofrimento psíquico.