A psicóloga Cibele Gadelha Castelo Barros conversou, durante a manhã desta quinta-feira (13), com 100 adolescentes do 8º e 9º da Escola Municipal Professora Teresinha Ferreira Parente sobre o tema “Dito por não dito: quebrando paradigmas. O encontro em prol da valorização à vida”. O evento, que faz parte da programação do Setembro Amarelo, de iniciativa do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) em parceria com a Associação Cearense de Magistrados (ACM), ocorreu no auditório Agenor Studart do Fórum Clóvis Beviláqua (FCB).
“É importante que a gente sempre converse, pois durante muito tempo esse assunto foi considerado um tabu para muitas pessoas, que acreditavam que sofrer ou chorar era coisa de gente fraca, que problemas de adolescentes eram besteiras”, destacou a palestrante.
A psicóloga ressaltou que “os adolescentes estão construindo as suas personalidades, eles são o nosso futuro, então, precisamos sim, conversar com eles e mostrar que podem se abrir e dizer o que sentem, ter uma melhor relação com a família e com os amigos. Muitos deles estão passando por uma imensa tristeza. Hoje, os índices de suicídio são maiores que os da violência urbana. Então, realmente precisamos desse alerta para que eles se conscientizem que o sofrimento deles é importante e que não deve ser desmerecido”.
O assunto foi abordado com os alunos de forma lúdica, utilizando liguagem fácil e atual por meio do psicodrama, que permite a realização de atividades em grupos através de imagens, onde eles puderam falar um pouco sobre suas vidas e como se sentem, sobre os bons e maus momentos, e trocaram experiências entre si, participando ativamente da vivência.
“Trabalhar com jovens tem que ser muito dinâmico, com uma liguagem mais acessível, temos que falar no mundo deles. Então, temos de saber o que eles estão assistindo, quais aplicativos estão baixando no celular. Precisamos estar inteirados nesse mundo de maneira natural porque é assim que eles passam a confiar e aí se entregam à atividade”, explicou.
A ESCOLA COMO PARCEIRA
Os alunos foram acompanhados pelo professor Adriano Nascimento Silva. “Enquanto escola temos percebido, em contato com os alunos, que essa questão do suicídio é muito latente, adolescentes cada vez mais novos com sinais de automutilação, por conta de determinadas situações e vivências familiares que trazem consequências para dentro da escola, muitas vezes por falta de amor e afeto”, lembrou o professor.
“Nós difundimos que a escola está para proteger o aluno, para amá-los e defendê-los em qualquer situação, inclusive em uma necessidade de interveção junto à família. Quando falamos de suicídio, nós pensamos na condição física, mas o psicológico é muito importante. O que mais me incentiva a continuar nesta caminhada é porque conseguimos ver, através deste trabalho preventivo, a vida retornar para aquele adolescente, conseguimos devolver o direito de viver”, afirmou Adriano do Nascimento.
Para o presidente da ACM, juiz Ricardo Alexandre da Silva Costa, “envolver as escolas, crianças e adolescentes é importante porque devemos despertar desde cedo neles a valorização e a luta pela vida.
Este mês marca exatamente a abertura que o Judiciário está dando ao tema para permitir a discussão com a sociedade da necessidade de falar, pensar e refletir sobre os pontos positivos das nossas vidas que são maiores que os negativos, para que possamos evitar o suicídio, que ainda é pouco discutido.
Precisamos conhecer mais sobre o tema para que possamos ajudar as pessoas ao nosso lado, principalmente porque hoje em dia vemos casos com idades cada vez mais cedo”.
ESTATÍSTICA
A desembargadora do TJCE, Lisete Gadelha, idealizadora do evento, disse que a ideia surgiu devido a alta estatística de casos envolvendo suicídio. “Nós somos o grande hospital social. Quando o jurisdicionado vem até o Fórum, ele vem em busca de, no mínimo, uma palavra amiga. Nós magistrados, promotores, defensores e servidores estamos aqui para servir. Então temos que nos preocupar inicialmente com a formação dos jovens que estão muito voltados aos brinquedos eletrônicos, o que me causou uma surpresa absurda considerar 32 mortes por dia, ou seja, a cada 45 segundos nós temos um caso de suicídio no mundo. A vida é muito boa, a valorização dela é importante, saber ouvir, acolher, respeitar o próprio limite, admitir que precisa de ajuda. Esse é o verdadeiro sentido. Cada dia que acordo, estou disposta a ajudar as pessoas, eu não me permito deixar levar pelos meus próprios conflitos.”
A programação do Setembro Amarelo no Poder Judiciário prossegue nesta sexta-feira (14/09), com a palestra “Prevenção e estratégias de ação em crise suicida”, a partir das 13h, no TJCE. O palestrante será o major José Edir.
Fonte: FCB