Com cerca de 1% das intenções de voto nas últimas pesquisas eleitorais, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, foi lançado nesta quinta-feira (8) como pré-candidato à Presidência da República pelo DEM.

Em discurso, disse ser “o candidato da mudança” e ter “muitas afinidades” com o PSDB, partido que ele mesmo já descartou como vencedor das próximas eleições. Ele também ignorou o governo de Michel Temer (MDB) em sua fala.

“Assumo o desafio de construir com o povo brasileiro um pacto para romper o que há de velho e atrasado na política brasileira”, declarou Maia nesta quinta-feira (8), durante a convenção nacional do Democratas.

“Senhoras e senhores, aceito, sim, o desafio de ser candidato à Presidência da República. Não só do Democratas. Vamos construir alianças para ser também candidato de muitos partidos aliados, que nos honram com a sua presença, e muitos com o seu apoio”, declarou Maia.

Apesar de “assumir o desafio”, expressão repetida diversas vezes durante o discurso, de “combater de forma implacável o crime organizado”, o agora pré-candidato não citou a corrupção durante sua fala.

O parlamentar declarou que somente as urnas de outubro “serão capazes de inaugurar um novo tempo”. “Teremos coragem de fazer os enfrentamentos necessários para mudar, mas sempre baseados nos parâmetros da ética, da verdade e da transparência”, defendeu.

O presidente Michel Temer ficou de fora do pronunciamento, lido parcialmente de um teleprompter –equipamento que exibe o texto em tempo real. Nas últimas semanas, Maia tem feito críticas incisivas ao governo, em uma tentativa de se distanciar da impopularidade de Temer. Temer, aliás, não foi citado por ninguém durante toda a convenção, que contou com presidentes de diversos partidos, entre eles o do MDB, senador Romero Jucá (RR). O emedebista disse que queria “estender as mãos aos Democratas” e que as legendas têm que continuar unidas.

Ele anunciou que vai andar por todo o Brasil, visitar todos os Estados e regiões, “sem falsas promessas”, defendendo um país “moderno, eficiente e solidário”. “Aceito o desafio de ser o candidato da mudança, sem populismos irresponsáveis”, declarou. “Diálogo é a palavra”, completou.

O presidenciável usou o discurso para eleger a maior prioridade de seu futuro programa de governo. “O fim da pobreza e das desigualdades exige uma prioridade absoluta: a educação”, afirmou, fazendo menção ao atual ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM-PE).

Ao se dizer um homem “de coragem”, ele pediu que os presentes anotassem sua declaração favorável à reforma da Previdência, enterrada no mês passado pelo governo federal por falta dos votos necessários na Câmara e sob forte desaprovação popular.

“A Previdência brasileira hoje beneficia os ricos contra os pobres […] Se alguém quer manter isso, continue defendendo. Eu continuo defendendo igualdade de direitos para todos os brasileiros”, declarou.

No início do pronunciamento, Maia contou que alguns amigos lhe mandaram sugestões para o discurso, mas ressaltou uma mensagem que lhe aconselhou a “continuar com esse seu jeito meio estranho”. Sorrindo, ele lembrou que o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) também falou, durante a convenção, sobre o seu “jeito especial”.

O deputado falou então que, quando concorreu à Presidência da Câmara, disse a todos que tinha um jeito fechado, “que às vezes passava como arrogância, mas era timidez”. Mas destacou “duas qualidades: ter palavra e compromisso”.

“Estou no segundo turno, pode escrever”
Em entrevista após a convenção, Maia disse ter certeza de que estará no segundo turno das eleições de outubro e falou não ter plano alternativo caso sua candidatura não seja vitoriosa.

“A minha candidatura vai decolar, pode escrever isso. Você sabe que eu acerto. Não tem plano B. Pode escrever aí, estou no segundo turno, com certeza”, declarou.

Sobre o percentual de 1% de intenção de voto, Maia falou que, se não acreditasse ser possível reverter a situação, não estaria se candidatando e citou pleitos anteriores em que pesquisas apontaram resultados diferentes do que foi verificado.

Questionado se defenderá as ações do governo Temer, Maia afirmou que “aquelas pautas em que eu acredito, em que nosso partido acredita, nós vamos defender, independentemente de ser do governo ou da oposição. Não temos mais de ter esse discurso polarizado”, ao acrescentar que algumas são convergentes a Temer, como a reforma da Previdência.

No entanto, quando perguntado se seria o candidato de Temer, falou não ter “necessidade de ser governo” e que o próprio Planalto diz ser uma “transição”.
“A transição está sendo feita”, respondeu.

Ele ressaltou a necessidade de novas medidas econômicas e de se reduzir o tamanho do Estado, mas argumentou que o DEM não deixa de lado a agenda social. Maia não pretende deixar a Presidência da Câmara no período de campanha.

Convenção tem presença de partidos da base de Temer

O o anúncio oficial da pré-candidatura, já esperado, ocorreu durante a convenção nacional do partido, que elegeu o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (BA), o ACM Neto, com o novo presidente da sigla.
O local ficou tomado por correligionários e lideranças de outros partidos aliados do governo Temer, e dezenas de pessoas tiveram que ficar de pé. Maia e Neto foram ovacionados ao chegarem, por volta das 10h30.

Atual presidente do Democratas, o senador José Agripino Maia (RN) abriu a convenção pouco antes das 10h. A reunião foi convocada de forma extraordinária, segundo ele, em função do crescimento da sigla. Hoje com 38 deputados, o DEM elegeu 21 parlamentares para a Câmara em 2014.

Os últimos a ingressar no partido foram Danilo Forte (ex-PSB-CE), Fábio Garcia (ex-PSB-MT), Tereza Cristina (ex-PSB-MS), Heráclito Fortes (ex-PSB-PI), Sergio Zveiter (ex-Podemos-RJ), Laura Carneiro (ex-MDB-RJ) e João Paulo Kleinübing (ex-PSD-SC).

“O partido foi ameaçado de extinção. Tinha 21 deputados federais quando eu assumi a presidência do partido. Hoje nós somos 38. Foi uma luta de resistência. O partido se refunda pela vinda de companheiros novos”, declarou o senador, que ficou quase sete anos no comando do DEM.

A convenção marcou também a estreia da nova logomarca e do novo lema do partido: “O mundo mudou, o Democratas mudou também”. A frase recicla campanha realizada pelo jornal baiano “Correio”, que pertence à família de ACM Neto.

Relação com PSDB

No início da convenção, Agripino fez questão de dizer que recebeu ontem um telefonema do governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB), lhe informando que não poderia participar da convenção porque está em uma missão oficial nos Estados Unidos.

Os tucanos foram representados pelo secretário-geral do partido, deputado federal Marcus Pestana (MG), além do deputado Antônio Imbassahy, ex-ministro da Secretaria de Governo de Temer.

“Faltam apenas sete meses para a eleição presidencial, mas parece uma eternidade […] Muito antes de discutir nomes, nós temos que discutir uma agenda para o Brasil, de diminuição do Estado”, declarou Pestana. “Mas uma certeza eu tenho: o PSDB e os Democratas estarão unidos”.

Com informações UOL