Cerca de metade (49,5%) das calorias totais disponíveis para consumo nos domicílios brasileiros é oriunda de alimentos in natura ou minimamente processados, 22,3% de ingredientes culinários processados, 9,8% de alimentos processados e 18,4% de alimentos ultraprocessados. Estima-se que o consumo de alimentos em casa corresponda a, pelo menos, 70% do total de calorias ingeridas pela população brasileira.

Os dados constam da Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 2017-2018: Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos no Brasil, divulgada hoje (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Evidencia-se, assim, uma predominância de padrões de consumo alimentar baseados em alimentos frescos e em preparações culinárias”, afirma o órgão.

Segundo o levantamento, nas regiões Norte e Nordeste, no meio rural e entre famílias com menor renda, a participação de alimentos in natura ou minimamente processados e de ingredientes culinários foi ainda mais elevada, ultrapassando três quartos da disponibilidade domiciliar de alimentos.

O estudo indica que nas regiões Sul e Sudeste e entre famílias com maior renda, ainda que alimentos in natura ou minimamente processados e ingredientes culinários predominem, alimentos ultraprocessados já representam mais de um quinto das calorias ingeridas em casa. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, alimentos ultraprocessados correspondem, respectivamente, a 11,4%, 14,4% e 16,6% do total de calorias.

“A evolução da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil, de 2002 a 2018, indica que alimentos in natura ou minimamente processados e ingredientes culinários processados, apesar de ainda serem predominantes, vêm perdendo espaço para alimentos processados e, especialmente, para alimentos ultraprocessados”, diz a pesquisa.

O acúmulo de tarefas dentro de casa e a falta de tempo levaram a confeiteira Patrícia Araújo a comprar mais produtos industrializados pela facilidade de estarem prontos para o consumo. Moradora de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, e mãe de dois filhos de 5 e 3 anos, ela conta que, até ter o segundo filho, a família tinha uma alimentação mais saudável. “A industrialização ajudou a dona de casa. Não é o melhor produto a ser consumido, mas é o que dá para fazer”.

No entanto, a pesquisa também indica que, apesar de a participação de alimentos ultraprocessados dentro das casas ter aumentado continuamente, observou-se desaceleração dessa tendência: aumento anual de 0,6 ponto percentual na porcentagem de calorias provenientes de ultraprocessados entre 2002-2003 e 2008-2009 e de 0,3 ponto percentual entre 2008-2009 e 2017-2018.

O IBGE avalia que essa desaceleração no consumo de ultraprocessados, observada no meio urbano e rural e em todas as regiões e estratos de renda, pode ser o resultado de políticas públicas implementadas no período mais recente, com destaque para ações baseadas no Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, “cuja regra de ouro recomenda basear a alimentação em alimentos in natura ou minimamente processados e suas preparações culinárias e evitar alimentos ultraprocessados”.