O desconforto criado com a exoneração do Diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, fez o Ministro da Justiça, Sérgio Moro, entregar o cargo e deixar, após um ano e quatro meses, o Governo Bolsonaro. Moro anunciou, na manhã desta sexta-feira, o seu pedido de exoneração e, na entrevista coletiva, se queixou da falta de autonomia para a Polícia Federal.

A mudança na Polícia Federal e no Ministério da Justiça redefine os rumos do Governo Bolsonaro que se curva à velha política, alvo de ataques que ajudaram o atual Chefe da Nação a conquistar a vitória em 2018. Bolsonaro recorreu aos partidos que compõem o Centrão na Câmara Federal para reconstituir a base de apoio parlamentar. Sem Moro, Bolsonaro fica mais à vontade para atrair o apoio da ala conservadora no Legislativo.

Com a saída de Moro, Bolsonaro perde um dos principais sustentáculos do Governo, principalmente, com a bandeira de combate à corrupção. O Estado do Ceará fica, também, sem um bom interlocutor. Durante a entrevista, Moro fez referência às ações realizadas no Ceará no combate as facções criminosas, quando o Governador Camilo Santana pediu o apoio do Ministério para o enfrentamento do crime organizado no estado.

PRESENTE E FUTURO

Integrantes dos quadros da Justiça Federal, o então juiz Sérgio Moro ganhou visibilidade nacional ao liderar a Operação Lava Jato que prendeu nomes expressivo da política, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-governadores, parlamentares, ex-ministros e empresários envolvidos com corrupção. A projeção o levou a ser convidado para o Ministério da Justiça.


Ao aceitar o convite do então presidente eleito Jair Bolsonaro, Moro renunciou ao cargo de magistrado. Quem o viu acender ao poder político, sentiu que, a partir do momento em que assumiu a pasta da Justiça, Moro estava construindo o caminho para ganhar uma vaga no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou Supremo Tribunal Federal (STF).

Moro cresceu com as ações no Ministério da Justiça, angariou apoio popular que o deixaram com índices de aceitação junto aos brasileiros bem superiores aos índices atribuídos ao presidente Bolsonaro. A popularidade gerou, também, incomodo ao presidente Bolsonaro que passou a vê-lo como futuro concorrente em 2022.

BATE PAPO POLÍTICO: FIM DA LUA-DE-MEL

No Bate Papo Político do Jornal Alerta Geral desta sexta-feira (24), os jornalistas Luzenor de Oliveira e Beto Almeida comentaram sobre a relação entre o presidente da república, Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Justiça Sérgio Moro.

Mesmo antes do pronunciamento realizado por Moro na manhã desta sexta-feira (24) por volta das 11h, onde pediu exoneração do cargo de Ministro da Justiça, os jornalistas já destacavam em seus comentários que a “lua-de-mel” entre Bolsonaro e Moro já havia chegado ao fim e a relação entre os dois não era mais como no início do mandato do presidente. Beto ainda ressaltou que, diante desse momento de pandemia, Bolsonaro tem criado diversos pontos de instabilidade.

“Ele cria (Bolsonaro) instabilidades, dificuldades para ele próprio e para o governo dele, que nem a oposição tem sido capaz de fazer […] Trocou o ministro da saúde, participou de manifestação a favor do golpe militar, se aproximou de políticos do centrão, a maioria condenados por corrupção, queimou o ministro Paulo Guedes com essa questão desse novo Pró-Brasil, a qual o Paulo Guedes nem sequer esteve presente e agora fala da troca do comando da Polícia Federal sem nenhuma justificativa, forçando ai a saída do seu ministro mais emblemático no combate a corrupção, Sérgio Moro”.

pontuou Beto Almeida.

O jornalista ainda apontou que um dos questionamentos que se levanta é sobre até onde o governo Bolsonaro vai sem a presença do ministro mais popular. “Seja como for, não é só o governo que perde, quem perde é o país. Perde pela estabilidade (diante) do momento crítico que esse país passa, porque o foco é o combate, nesse momento, à pandemia, no entanto o presidente não para de gerar instabilidade”, afirma Beto Almeida.

Confira os comentários dos jornalistas Luzenor de Oliveira e Beto Almeida no Bate Papo Político desta sexta-feira (24):