A movimentação do governo brasileiro para tentar frear os estragos das denúncias de fraude na fiscalização que resultaram na venda de produtos vencidos e adição substâncias para mascarar o sabor e odor de carnes estragadas foi acelerada diante dos pedidos de esclarecimentos sobre as denúncias enviados sábado pela União Europeia e pela China. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que respostas seriam encaminhadas ainda no domingo.

A estratégia montada pelo Planalto, no entanto, foi recebida com cautela pelos ouvintes. Os embaixadores da União Europeia, João Gomes Cravinho, e da China, Li Jinzhang, deixaram claro ao sair da reunião que as explicações não foram suficientes. Ambos disseram que ainda aguardam uma “explicação técnica” oficial “detalhada” do governo. Cravinho não descartou a possibilidade da suspensão da compra de carne.

Tomada de decisão. O embaixador da União Europeia afirmou que dados precisos são essenciais para que o bloco possa tomar qualquer decisão. “Ainda não temos informações técnicas que nos permitam avaliar se os problemas foram pontuais (como diz o Brasil), já que não se sabe exatamente que unidades sofreram alterações indevidas e para que países esses produtos foram exportados.”

Outros embaixadores ouvidos pelo Estado, ao término da reunião, adotaram o mesmo tom. O embaixador chinês, deixou claro também que as informações passadas ontem não bastaram e que o país espera “mais explicações”. “A segurança dos alimentos é muito importante para a segurança e a vida do povo.”

Em seu pronunciamento a uma plateia formada por quase 40 embaixadores e representantes de países compradores, o presidente Michel Temer procurou passar a mensagem de que as irregularidades são casos isolados. O presidente argumentou que, das 4.837 unidades sujeitas à inspeção federal, apenas 21 estão supostamente envolvidas em irregularidades. “E dessas 21, 6 exportaram nos últimos 60 dias”, disse o presidente. De acordo com Temer, o Ministério da Agricultura deverá tornar pública qual a empresa exportadora do produto sob suspeita, o lote e o comprador. Temer afirmou ainda que a auditoria para investigar as denúncias deverá ser iniciada nesta segunda-feira.

Investigação. Durante seu pronunciamento, Temer reconheceu que o esquema revelado pela Operação Carne Fraca na sexta-feira provocou “preocupação muito grande especialmente de países que importam a carne brasileira”. Além de citar que as denúncias estão concentradas em 21 unidades, Temer citou o histórico dos produtos no País para assegurar a qualidade.

“Ao longo dos últimos anos, não foram identificadas objeções. No ano passado, foram expedidas 853 mil partidas de produtos de origem animal e apenas 184 foram consideradas fora da conformidade”, citou o presidente. Temer argumentou que, em boa parte dos casos, as irregularidades estavam ligadas a problemas de rotulagem. “O Ministério da Agricultura tem rigoroso serviço de inspeção. Esse padrão de excelência abriu as portas para mais de 150 países”, afirmou.

Com informações O Estado de São Paulo