Michel Temer entregará o poder amanhã a Jair Bolsonaro e deixará a política com uma taxa de rejeição histórica e um legado de profundas reformas, mas também com contas pendentes na Justiça.
O governante, de 78 anos, anunciou que neste dia 1º de janeiro, ao passar a faixa presidencial a Bolsonaro, porá fim à sua vida pública, da qual despede-se com uma taxa de aprovação de 9%, a menor da história recente, apesar de quase a ter duplicado nas últimas semanas, nas quais saiu dos 5% que manteve como média.
A taxa de rejeição de sua gestão, também histórica, beira 80%, enquanto quase 10% a considera “regular”.
Mesmo assim, Temer foi durante as últimas décadas um dos políticos mais influentes do país, manteve uma cadeira no Congresso desde 1994, presidiu três vezes a Câmara dos Deputados e liderou o MDB ao longo de 15 anos.
Em 2010 aceitou acompanhar Dilma Rousseff como candidato a vice-presidente, com quem ganhou as eleições daquele ano e as de 2014, mas nesse segundo mandato a relação com a governante se rompeu no meio de um crescente mal-estar social.
Temer formalizou seu divórcio político de Dilma em uma explosiva carta que divulgou no final de 2015, na qual disse sentir-se como um mero “acessório” e um vice-presidente “decorativo”.
O emedebista passou então a engrossar uma oposição que já articulava um processo de cassação contra Dilma por irregularidades fiscais e que conseguiu maioria na Câmara e no Senado para finalmente destituir a primeira presidente do Brasil.
Temer a substituiu interinamente em maio de 2016, quando Dilma sofreu sua primeira derrota no processo de destituição, e de forma definitiva em agosto daquele ano, quando a governante perdeu o cargo.
A maioria parlamentar formada para tirar Dilma se dobrou a favor de Temer, que revelou então sua faceta reformista e sua intenção de “mudar o país”, mesmo que fosse à custa da sua própria imagem.
O então novo presidente impulsionou impopulares reformas que estabeleceram limites para o gasto público para as próximas duas décadas, alterou a legislação trabalhista para satisfazer os empresários e implantou um regime que abre a porta a uma informalização total e a uma consequente precarização do trabalho.
Temer se justificou dizendo que herdou o governo no meio de uma aguda recessão, que entre 2015 e 2016 causou uma queda de quase sete pontos percentuais do PIB, e em que era necessário “modernizar” a legislação e também reduzir o tamanho do Estado, sem valer-se de populismos.
Os atos populistas são irresponsáveis porque produzem um bom efeito (de imagem) amanhã, mas um desastre depois de amanhã”, repetiu várias vezes, para explicar a impopularidade que marcou sua gestão.
Em meados de 2017 preparava-se para consumar sua maior reforma, a da previdência, com a qual buscava recuperar um sistema virtualmente quebrado, mas o enorme apoio que tinha no Congresso se esfumou de um dia para o outro com graves denúncias de corrupção.
O presidente foi denunciado por vínculos fraudulentos com a empresa JBS e se transformou no primeiro governante brasileiro em exercício que foi alvo não de uma, mas de duas denúncias formais por parte da Procuradoria-Geral da República.
No entanto, o mesmo Congresso que já tinha dado as costas ao seu programa de reformas impediu sua perda de imunidade e, pelo menos enquanto estivesse no cargo, lhe livrou dos tribunais.
A partir desse momento, seu governo começou a esmorecer e seu ímpeto reformista se apagou com o tempo, o que causou uma virtual paralisia de um Executivo que passou a ser quase “decorativo”, assim como o próprio Temer sentia-se quando ainda era vice de Dilma.
O presidente ficou só, até o ponto em que para as eleições de outubro, vencidas por Bolsonaro, o governante MDB apresentou como candidato o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que manteve Temer e sua impopularidade afastada da sua campanha.
Há dez dias, nos estertores do seu governo, Temer foi denunciado novamente por um decreto que assinou em 2017 e que teria favorecido ilegalmente uma empresa do setor portuário.
As duas denúncias anteriores e esta nova estavam na órbita do Supremo Tribunal Federal (STF), mas uma vez que Temer deixe seu cargo lhe esperarão em tribunais de primeira instância.
Não tenho a menor preocupação com isso”, disse há duas semanas, quando garantiu que sua consciência está “tranquila” e que provará que é inocente com seu próprio escritório de advogados, ao qual se reintegrará após uma vida dedicada à política.
Com informações UOL Noticias