O Brasil continua pagando uma conta amarga com a grande quantidade de acidentes de trânsito que deixam vítimas com graves sequelas e, principalmente, óbitos. A tragédia, que aumentou nos últimos anos com o crescimento da frota de motos, tem um custo anual, com despesas nos hospitais públicos e benefícios sociais (aposentadoria por invalidez e pensão), de R$ 19,3 bilhões.
O Ceará é um exemplo do crescimento do número de motos. O maior número desses veículos está na Capital, mas a frota se expandiu no Interior e contribui para o aumento da quantidade de acidentes, como é o caso da cidade de Sobral, destaque no ranking nacional. Sobral ocupa a segunda posição no ranking: são 253 mortes e um índice de 125 casos por 100 mil habitantes. Muitas vítimas de acidentes com motos que passam pela rede municipal e estadual de saúde em Sobral são originários de outras cidades das Regiões Norte e Ibiapaba.
A imprudência, a falta de habilitação, o excesso de velocidade e a falta do capacete empurram condutores e as pessoas que os acompanham para os corredores de hospitais públicos. O tratamento, os procedimentos médicos e longo tempo de recuperação fazem crescer as contas do Sistema Único de Saúde (SUS).
A grande preocupação com essa tragédia se amplia com a expansão dos acidentes com motos, que, na última década, passou a liderar os veículos envolvidos em mortes no trânsito do país. Em 2004, as mortes envolvendo motociclistas ou passageiros de motos representavam 23% dos óbitos em acidentes no Brasil. Em 2015, esse índice saltou para 39%. A situação é ainda mais preocupante no Nordeste, onde essa taxa chega a ser de 53% das mortes, impulsionada pela concentração desse tipo de veículo na região –44% da frota local.
Os motociclistas são ainda 63% dos feridos por acidentes no país. Na região Norte, esse índice é de 79%. “A moto é a primeira opção de transporte para muitos no Brasil [em substituição ao transporte público]. É vista como mais rápida, eficiente e barata. O aumento da frota teve impacto direto nos acidentes com este tipo de veículo”, diz Luis Roma, da Falconi.
As estatísticas levantadas pela consultoria apontam que a redução de vítimas na primeira metade desta década está muito aquém da meta traçada pelo governo federal. Segundo uma reportagem do Jornal Folha de São Paulo, edição desta quinta-feira, as variações pelo Brasil são drásticas: há cidades com índices de mortes no trânsito comparáveis aos de países pobres africanos e outros equivalentes ao dos EUA.
Esse retrato da segurança viária, com dados públicos e pesquisas do Brasil e do mundo, de acordo com a Folha de São Paulo, foi preparado por consultores de gestão e economia da Falconi, que já desenvolveu projetos em 30 países e foi contratada pela Ambev, que é fabricante de cervejas.
Os dados dessa pesquisa confirmam levantamentos realizados pelo Ministério da Saúde: especialistas apontam que a embriaguez ao volante é uma das principais causas de acidentes de trânsito –ou seja, pelo menos parte dessas perdas está relacionada ao consumo abusivo de álcool. O levantamento aponta que as 39 mil mortes de 2015 custaram R$ 11,6 bilhões aos cofres públicos, além de outros R$ 7,7 bilhões de prejuízo com tratamento de feridos.
O cálculo leva em conta gastos públicos com saúde e previdência, incluindo também os ganhos potenciais das vítimas ao longo da vida. Os critérios se baseiam em estudos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) e da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), com dados do Ministério da Saúde . Os municípios que lideram as taxas de mortalidade estão no Nordeste. O maranhense Presidente Dutra (a 350 km de São Luís) é líder –com 72 mortes em 2015, e uma taxa de 154 mortes a cada 100 mil habitantes. receber em seus hospitais vítimas vindas de outras localidades.