Submetido a um transplante de coração no último domingo, o apresentador Fausto Silva responde bem ao pós-operatório e, segundo seu cardiologista, “não vê a hora de sair andando pelo quarto” e voltar a ter uma vida normal. E, seguindo uma rotina de cuidados, essa expectativa pode ser duradoura. Segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), cerca de 47% dos brasileiros que recebem um novo coração sobrevivem mais de dez anos após o transplante.
De 2012 a 2023, 3.905 pessoas passaram por um transplante cardíaco no Brasil. A expectativa média de vida dos transplantados é acompanhada pela ABTO desde 2010. De todos as pessoas que receberam um coração desde então, 71% sobreviveram por mais de um ano e 59% por mais de cinco. A sobrevida do órgão é maior que a do pulmão, mas menor que a do rim, fígado e pâncreas.
Normalmente, pacientes transplantados ainda precisam aguardar cerca de um mês entre hospital e cuidados pós-operatórios.
— Há pessoas que sobrevivem 30 anos após a cirurgia. A expectativa de vida depende de várias questões, como a idade do receptor, a gravidade do estado clínico, se o receptor tem outras doenças, a compatibilidade do órgão e os cuidados do paciente — explica o cirurgião Paulo Pêgo, presidente do Conselho Consultivo da ABTO.
No caso do pulmão, 70% dos pacientes do país que recebem o órgão sobrevivem por um ano; 44% sobrevivem por cinco; e 21%, por dez. Por ser o único órgão interno com contato externo, o pulmão exige cuidados refinados do transplantado e dos profissionais de saúde.
— Para ter noção da discrepância, habitualmente, temos por ano 6 mil doações de rim, 2.200 de fígado e apenas cem de pulmão — esclarece o cirurgião.
Os transplantados renais possuem a melhor expectativa média de vida, mas ela varia se o doador está vivo ou morto. Segundo a ABTO, no primeiro caso, 97% dos pacientes sobrevivem um ano após a operação, e 87%, uma década. No segundo, a taxa é de 92% em um ano e 74% em uma década.
22 anos de transplante
Em 2023, Edson Arakaki comemora 22 anos do transplante renal. Ele recebeu o órgão da sua irmã em 2001, após uma doença crônica desencadear insuficiência renal. Hoje aos 61, o médico acumula medalhas dos jogos esportivos de que participa desde a cirurgia.
— A partir do momento em que meu rim começou a dar sinais que entraria em falência, minha família se colocou à disposição para a doação. O da minha irmã foi compatível e tive uma super recuperação. Voltei a trabalhar um mês após a cirurgia e com seis meses estava praticando esportes. Já são 22 anos desde o transplante e está tudo sob controle. Vivo de forma plena — conta Arakaki.
Além de tomar diariamente os remédios imunossupressores, ele faz exames de acompanhamento uma vez por ano. Também mantém o hábito de se exercitar e jogar tênis, que tinha desde antes do transplante.
— Sempre pratiquei esportes, mas estava bem limitado antes do transplante. Depois, passei a ter mais vitalidade — relata.
Junto a amigos transplantados, o médico criou em 2017 um grupo para estimular a prática de atividades físicas após o procedimento. A Associação Brasileira de Transplantados (ABTx), com sede em São Paulo, reúne mais de 2 mil associados.
— Inicialmente, a associação tinha apenas o intuito de estimular as práticas esportivas, mas acabou se tornando também um canal para incentivar a doação e reivindicar políticas públicas — afirma Arakaki.
(*)com informação do Jornal O Globo