As críticas do presidencial Ciro Gomes ao ex-presidente Lula, a quem acusou de conspirar pelo impeachment da então presidente Dilma Roussef, azedaram ainda mais o ambiente da aliança do PDT com o PT na corrida ao Governo do Estado em 2022. Ciro voltou a bater duro nos petistas, recebeu resposta de Dilma e críticas do deputado federal José Nobre Guimarães, uma das vozes mais firmes na defesa da aliança do PT com o PDT.
O fogo cruzado no cenário nacional, com impactos diretos no quadro político local, abriu as portas para o Capitão Wagner, aliado do presidente Jair Bolsonaro e pré-candidato ao Palácio da Abolição, alimentar o sonho de atrair dissidentes da aliança para o seu palanque nas eleições de 2022. Wagner foi sarcástico e, após as declarações de Ciro, provocou o pedetista, ao pedir ‘mais respeito às mulheres’.
METRALHADORA
Em entrevista ao podcast Estadão Notícias, do Jornal O Estado de São Paulo, Ciro disparou a metralhadora contra petistas e lideranças nacionais do MDB. “Eu atuei contra o impeachment e quem fez o golpe foi o Senado Federal.
Quem presidiu o Senado? Renan Calheiros. Quem liderou o MDB nessa investida? O Eunício Oliveira. Com quem o Lula está hoje?”, iniciou. “Hoje eu estou seguro que o Lula conspirou pelo impeachment da Dilma, estou seguro”, acusou.
Ciro revelou que, a pedido de Dilma, escreveu um documento com cerca de 15 páginas, e o entregou a um “camarada”, que, por sua vez, “jogou fora e não aplicou nada”. Ciro disse, ainda, que seu irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE), chegou a questionar se de fato aqueles que se diziam aliados de Dilma queriam impedir sua deposição do cargo.
CONTRA ATAQUE DE DILMA E GUIMARÃES
A ex-presidente Dilma rompeu o silêncio e foi para o contra ataque: “Só Ciro Gomes é competente. Este é o pecado de sua enorme presunção. Esta é a sua visão quando se trata de avaliar o resto da humanidade. Mas quando se trata de mulher, sua visão não é só inadequada, é também profundamente misógina”, afirmou Dilma, ao dizer, ainda, que Ciro sistematicamente distorce os fatos e, , nisso, segundo ela, ‘’não se difere em nada de Bolsonaro. Ambos adoram quando os alvos de suas agressões reagem. Precisam disso para obter likes e espaço na mídia. É disso que se alimentam’’, criticou.
O vice-presidente nacional do PT, José Nobre Guimarães, manifestou solidariedade a ex-presidente Dilma e ao ex-presidente Lula. “O Ciro Gomes tem o direito de ser candidato pelo PDT. O que ele não pode é falsear a verdade. Essa é uma fala tão estapafúrdia que só pode ser fake news’’, cutucou Guimarães, ao acrescentar. ‘’Nosso compromisso sempre será com a verdade. Lula sempre trabalhou e lutou contra o impeachment de Dilma’’.
IRA DE CIRO CRESCE COM ALIANÇA EUNÍCIO X LULA
A corrida pela Presidência da República deixa o presidenciável Ciro Gomes e o ex-presidente Lula cada vez mais distantes. A troca de farpas tem desdobramentos imprevisíveis na aliança que o PDT e o PT mantém no Ceará desde a primeira eleição de Cid Gomes ao Governo do Estado em 2006. O componente nacional amplia o ranço na relação entre caciques do PDT e do PT e desperta ainda mais ira do pedetista com o palanque montado pelo ex-senador Eunício Oliveira para ampliar os canais de aproximação do ex-presidente Lula com o MDB.
O ex-presidente do Senado, Eunício Oliveira, e o presidenciável Ciro Gomes se tornaram desafetos políticos nos últimos cinco anos. Eunício foi eleito senador, em 2010, na aliança que reelegeu o então Governador Cid Gomes, mas a convivência com o líder pedetista nunca foi harmoniosa.
A campanha de 2018 foi ápice dos conflitos. Candidato à reeleição, Eunício viu a base minada pelas sucessivas articulações de Ciro e, ao final da eleição, saiu derrotado. Ao encerrar o mandato de senador, Eunício se recolheu, atribuiu a sua derrota as manobras de Ciro.
O ressentimento do emedebista se estende, também, ao ex-prefeito Roberto Cláudio que, no entender de Eunício, foi usado por Ciro para tirar vereadores e lideranças comunitárias do seu palanque. O acirramento ganhou ainda mais dimensão com a decisão de Eunício arrematar, por meio de leilão, um imóvel de propriedade de Ciro Gomes. Eunício, além de arrematar o imóvel, debochou ao dizer que o pedetista não tinha competência para administrar o próprio patrimômio quanto mais para presidir o Brasil.