A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch. Especialistas da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) alertam: o paciente deve procurar a assistência de saúde básica ao apresentar sintomas como tosse por mais de três semanas, produção de catarro, febre (mais comum ao entardecer), sudorese, cansaço, dor no peito, falta de apetite e emagrecimento. O tratamento é gratuito e deve ser iniciado imediatamente. E é necessário não descuidar de todas as fases da terapia, para que a cura seja definitiva.

A doença atinge prioritariamente os pulmões, mas pode afetar outros órgãos do corpo, como rins, ossos, olhos, pleura e meninges. O contágio ocorre por via respiratória, quando a pessoa infectada libera pequenas gotículas contendo a bactéria no ambiente.

Mateus [nome fictício], 38, está iniciando pela quarta vez o tratamento contra tuberculose no Hospital São José (HSJ), unidade da Sesa. Entre os sintomas, o paciente destaca a tosse com produção de catarro, cansaço, dores no peito e nos ossos e, ainda, emagrecimento. Durante o desenvolvimento da doença, ele perdeu mais de 30kg.

“Mas, dessa vez, eu prometi para a médica que queria concluir o meu tratamento. É a quarta vez, mas agora eu tô tomando [os medicamentos], eu já tinha abandonado o tratamento. Então, a vida é uma vida só, você tem que aproveitar. Aqui me acolheram bem, gostam de mim”, reflete.

Segundo a articuladora dos Programas de Tuberculose da Sesa, Yolanda Morano, o risco de transmissão da doença é reduzido com o início do tratamento nos primeiros meses de sintomas. “Apesar de ser uma enfermidade milenar, a tuberculose continua sendo um problema de saúde pública. No entanto, vale lembrar que tem cura quando o tratamento é feito até o final”, informa.

Os pacientes com o diagnóstico positivo para a tuberculose precisam iniciar um tratamento contra a doença, que dura no mínimo seis meses, é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). “A cada ano, 10 milhões de pessoas são infectadas. A doença é responsável por mais de 1 milhão de óbitos anuais no Brasil. No Ceará, em 2022, nós tivemos cerca de 4.100 casos”, detalha a assessora técnica.

Os pacientes podem obter o diagnóstico através de exames laboratoriais ou radiografia de tórax. O Ceará possui tecnologia para realizar o diagnóstico de tuberculose através do Teste Rápido Molecular (TRM) e o teste Igra (Interferon Gamma Release Assay). Este último é usado para o caso de pessoas que não apresentam sintomas da doença e integram o grupo de pacientes imunocomprometidos.

O adoecimento por tuberculose está relacionado ao sistema imunológico de cada pessoa e a exposição ao bacilo, mas também pode estar ligado às questões sociais, econômicas e estruturais, como a falta de acesso a saneamento básico, má nutrição e o abandono do tratamento realizado pelos serviços de saúde, principalmente durante o período de pandemia de Covid-19.

Importância da conclusão do tratamento

A articuladora do Programa de Tuberculose alerta para a necessidade de seguir o tratamento completo, caso contrário, os sintomas retornam. “Com o abandono do tratamento, o paciente pode vir a desenvolver uma tuberculose drogarresistente (TBDR), porque já usou alguns medicamentos antes, e não fez o tratamento completo”, informa.

O secretário executivo de Vigilância em Saúde, Antônio Lima (Tanta), relata que a proposta da Sesa é estabelecer uma rede de cuidados mais eficientes para o paciente com tuberculose. “O Ministério da Saúde (MS) discute um projeto de eliminação de endemias urbanas e rurais, e nesse campo temos a tuberculose e hanseníase. A ideia é construir fluxos e estabelecer uma rede de cuidados mais eficiente para o paciente com tuberculose bacilífera”.

Ele reforça ainda que o combate à tuberculose é uma prioridade para a Secretaria. “Anualmente, estamos promovendo ações e cursos de manejo clínico e de vigilância epidemiológica da tuberculose para capacitar os profissionais de saúde e prestar os atendimentos especializados e impedir a disseminação da doença”, completa.

HM é referência em tuberculose de maior complexidade

Apesar de a tuberculose ter cura, a falta de diagnóstico precoce, a descontinuidade do tratamento e as falhas terapêuticas são fatores que adiam a recuperação e agravam a doença, podendo levar a óbito. Pessoas com tuberculose de maior complexidade podem achar tratamento no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM), referência nesses casos.

A pneumologista e coordenadora do Ambulatório de Tuberculose Multirresistente do HM, Tânia Brígido, explica que a unidade recebe os pacientes e acompanha a gestão do medicamento, registrando todas as evoluções clínicas. “Nós oferecemos um acompanhamento mais especializado, podendo o tratamento durar de 18 a 24 meses“, afirma.

As pessoas acompanhadas no ambulatório são atendidas por uma equipe multiprofissional formada por pneumologistas, enfermeiras, assistente social, farmacêutico e técnica de Enfermagem. Até o momento, mais de 730 consultas médicas foram realizadas no equipamento, em funcionamento desde 2011. Cerca de 140 pacientes são acompanhados mensalmente pela equipe.

O Ambulatório de Tuberculose Multirresistente do Hospital de Messejana funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h. Para ter acesso à consulta, o paciente deve ser encaminhado por uma Unidade Básica de Saúde (UBS).

HSJ trata pessoas com coinfecção por HIV

Assim como o Hospital de Messejana, o Hospital São José (HSJ) integra o Sistema de Informação de Tratamentos Especiais da Tuberculose (SITETB), no qual são notificados casos da doença que têm indicação de assistência alternativa, fora do esquema básico medicamentoso.

No HSJ, o serviço é referência no tratamento de pessoas com coinfecção por HIV, considerando que a tuberculose é a principal causa de morte em pacientes que vivem com o vírus. Por ano, 300 mil pessoas morrem por causa da doença, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Desde 2003, a unidade conta com o Ambulatório de Tuberculose, serviço que acolhe pessoas com HIV e coinfecção por tuberculose (TB). Segundo a infectologista Liliane Granjeiro, médica do Ambulatório, cerca de 30% da população mundial, em algum momento da vida, vai ter contato com o agente causador da doença.

“Na grande maioria dos casos, o sistema imunológico do paciente consegue evitar a doença ativa, mas, nesse grupo específico de pacientes com HIV, o risco de adoecimento é maior, daí a importância de diagnosticar e tratar também a TB latente”, explica.

O Ambulatório de Tuberculose do HSJ funciona às sextas-feiras, das 7h às 12h. São atendidos, em média, 120 pacientes por mês. O ambulatório possui equipe de três médicos residentes, além de enfermeira, psicóloga e assistente social.