Pesquisas de várias instituições, incluindo o Centro Nacional de Pesquisa em Primatas da Califórnia, sugerem que mais mulheres do que se pensava até agora sofrem aborto por causa do vírus da zika, sem saber que estão infectadas.

O estudo, publicado na revista nesta segunda-feira na “Nature Medicine”, descobriu que 26% das macacas infectados com zika durante os primeiros estágios da gravidez sofrem aborto espontâneo ou têm filhotes natimortos, embora os animais apresentassem poucos sinais de infecção.

— Essas taxas de perdas fetais e de natimortos em macacas gestantes infectadas pelo zika foram cerca de quatro vezes maiores do que o que é normalmente observado em populações de macacos não expostos nesses centros de pesquisa — disse Koen Van Rompay, um dos autores do estudo e cientista do Centro de Pesquisa Nacional de Primatas. — Muitos dos tecidos fetais e placentários tinham evidência de replicação do vírus da zika e também tinham lesões patológicas, o que apoia ainda mais o papel do zika nesse desfecho prejudicial.
LIMITAÇÕES

Pesquisas anteriores sobre zika só mediram número de abortos espontâneos e de natimortos em mulheres que apresentavam sinais ou sintomas do vírus. Um estudo recente de grávidas que sabidamente estavam infectadas com zika descobriu que 5% delas não levaram a gestação a termo ou tiveram natimortos.

— Há limitações para os estudos em seres humanos, que dependem de infecções sintomáticas — afirmou Dawn Dudley, principal autora do estudo e cientista do Departamento de Patologia e Medicina Laboratorial da Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. — As

mulheres se inscrevem nos estudos porque têm sintomas de zika, mas sabemos que até metade das pessoas que têm zika não apresentam nenhum sintoma. Portanto, os estudos sobre gravidez provavelmente não estão levando em conta a metade das pessoas que têm zika.

MICROCEFALIA E OUTROS PROBLEMAS

O vírus da zika é amplamente conhecido por causar o nascimento de crianças com um conjunto de anomalias cerebrais que ficou conhecido como síndrome congênita do zika. Essa síndrome inclui microcefalia — má-formação em que o perímetro da cabeça do bebê é menor do que o normal —, mas também outros problemas de saúde, como epilepsia e dificuldades na visão.

A doença causada por esse memso víruus em adultos humanos é bem mais leve. Pode incluir febre, erupção cutânea, dor de cabeça, dores articulares e musculares, além de olhos vermelhos. No entanto, a maioria dos casos é assintomático.

— Nossos dados em macacos indicam que mais pesquisas são necessárias para que os pesquisadores possam desenvolver estratégias de intervenção para proteger as mulheres grávidas e seus fetos do vírus da zika — disse Lark Coffey, um arbovirologista e também autor do estudo.

O momento da infecção é considerado pelos cientistas um importante preditor de perda fetal. A exposição ao vírus durante o primeiro trimestre da gravidez das macacas se mostrou o mais provável de resultar em morte do feto — uma descoberta que acompanha os relatos humanos.