As matérias de Português, Matemática, Ciências e Inglês, que são aplicadas no Colégio Militar Escritora Rachel de Queiroz, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE), adquiriram novo formato e, unificadas, trouxeram aos alunos um novo campo de pesquisa. É o estudo sobre robótica, que soma os conhecimentos adquiridos nessas disciplinas ao meio tecnológico. O interesse da garotada pelo assunto foi além da sala de aula e fez a escola ser uma das instituições premiadas na Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR) – por seis anos consecutivos. Na última edição do certame, em 2016, nove alunos do Colégio do CBMCE levaram medalhas para casa.
Na instituição, as aulas sobre robótica são um conteúdo a mais para os estudantes. De segunda a sexta eles aprendem as disciplinas proposta na grade curricular de suas respectivas séries. Mas aos sábados, o cenário muda. “A robótica aparece como uma forma de integrar conhecimentos e de contextualizar o que eles (alunos) aprendem em sala de aula”, explica o tenente dos Bombeiros Davi Teixeira Gomes, mais conhecido pelos estudantes como “professor Teixeira”, que é orientador do preparatório do colégio para a OBR. A escola começou a inscrever seus alunos na competição no ano de 2012 e, desde então, não parou de conquistar títulos locais e nacionais. “É muito importante quando o aluno participa de atividades que contextualizem os conhecimentos de sala”, reforça o professor, ao explicar que a robótica se apresenta à moçada como uma oportunidade de aplicar o conteúdo vivenciado nas aulas.
Partiu dele a iniciativa de criar um grupo de estudos sobre o tema. Formado em Mecatrônica pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE) e atuante no serviço de guarda vidas do CBMCE, o tenente reveza seu tempo e dedicação entre o Colégio dos Bombeiros e a Primeira Seção de Salvamento Marítima, na base do Mucuripe. “Quis despertar nas pessoas o interesse pelo tema”, explica. E esse desejo tem dado resultado. Só em 2016, mais de 100 estudantes de séries e idades variadas foram inscritos na OBR – número recorde desde 2012. E sem pressão! As participações são voluntárias e não representam pontinhos a mais no boletim. Em contrapartida, podem significar o ingresso na universidade. Foi o que aconteceu com o primeiro grupo criado. Pelo menos cinco dos alunos continuaram os estudos na área e hoje são universitários de cursos como Engenharia Mecânica, Elétrica, Civil e também de Mídias Digitais e Oceanografia, entre outros.
O preparatório para a OBR começa cedo, a partir do início do ano. Em 2016, o certame foi realizado no mês de agosto – na modalidade teórica. Com duas horas de duração e 15 questões sobre nomenclaturas na área da robótica e linguagem de programação, por exemplo, nove estudantes se deram bem na prova e alcançaram títulos. João Victor Alves Camilo é medalhista de prata; Caio Levi Ribeiro de Oliveira, Davi Bezerra de Holanda Sousa, Isabelly Feitosa Pereira, Mel Christie Barbosa Monte e Samuel Lima da Silva são medalhistas de bronze; Ruan Mateus Torres Pereira do Nascimento e Jonatas Siqueira Evangelista são medalhistas de honra ao mérito; Marina Stela de Sales Alves recebeu certificado de mérito estadual; e Jorgiana Ester de Macedo Costa da Silva alcançou certificado de mérito intelectual. A competição é subdivida na Modalidade Teórica, do Nível 3 ao 4. As premiações foram entregues na última sexta-feira (31), em solenidade realizada na própria escola.
Mais conquistas
Mas o reconhecimento para os interessados em robótica não para nas medalhas e certificados. Existem também premiações em formatos de bolsas de pesquisa. É o caso de Jonatas Siqueira, premiado por dois anos consecutivos pela Iniciação Científica Junior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Atualmente com 17 anos, o adolescente concluiu o Ensino Médio no Colégio do CBMCE no ano passado e atualmente é estudante da Universidade Federal do Ceará (UFC), cursando Engenharia Elétrica. Como competidor da OBR pela escola, ele também é dono de menções estaduais, nacionais, de mérito pessoal e participante de competições em território cearense e fora dele. Jonatas é integrante dos estudos sobre robótica desde o 7º ano do Ensino Fundamental.
“No segundo ano, o pessoal da robótica montou um projeto para dar continuidade, com dez pessoas (alunos) que revezavam as aulas”. O projeto mencionado por Jonatas foi encabeçado pelos próprios estudantes, nos anos de 2015 e 2016 – período em que o professor Teixeira teve que se ausentar para ingressar no curso de formação para tenente. O garoto e outros nove colegas deram continuidade ao preparatório em um período de 350 horas/aula, o que garantiu a eles os nove medalhistas. “Todo mundo ajudou”, continua Jonatas, que também ressalta a orientação de Teixeira, mesmo à distância. “Ele sempre foi o nosso amigo”.
Agora, o universitário quer levar o projeto adiante, até para outras escolas e já antecipa: “Meu plano é acabar a faculdade e continuar trabalhando com a robótica, em automação”.
As conquistas são motivo de grande orgulho para o coronel BM José Nildson Oliveira, que é o comandante diretor do Colégio do CBMCE. “Isso é uma prova inconteste do nosso compromisso com a educação, com os alunos e com o governo”, declara o comandante, sobre o serviço prestado, ao informar que a escola está intensificando vertentes extracurriculares, com estudos direcionados. O resultado desse trabalho é a aprovação de mais de 80% dos alunos da turma do 3º ano de 2016 em universidades públicas e privadas. Além dos preparatórios para competições da área de exatas, a garotada recebe orientação intensificada para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e para concursos de carreira militar e nas Forças Armadas, como Aeronáutica e Marinha.
Uma equipe do colégio também foi responsável por desenvolver o projeto robótico da Lixeira Interativa para Deficientes Visuais, feita em um suporte acrílico. O trabalho foi apresentado na Mostra Nacional de Robótica, em 2013, na Paraíba e, no ano seguinte, em São Paulo. Jonatas também é um dos integrantes da equipe. Ele e Marina Stela. A garota, que era da mesma turma do colega, agora é aluna do curso de Oceanografia da UFC.
“Quando eu estava no 7º ano, o Teixeira chegou ao colégio e ofereceu o curso de robótica pra todos os alunos que tivessem vontade de aprender. Fiquei entusiasmada e fui atrás”, conta Marina, ao revelar que o que mais chama sua atenção no assunto é a possibilidade de produzir coisas que facilitem o dia a dia das pessoas – como o projeto da Lixeira do qual ela também participou. A robótica veio para ficar em sua trajetória acadêmica. Ela pretende aproveitar os conhecimentos adquiridos para a criação de instrumentos utilizados no mapeamento de mares e no melhoramento de submarinos. “Eu sempre fui muito ligada em computadores e desde criança queria ser cientista. De algum modo, a robótica se apresentou a mim assim”, fala Marina.
Enquanto os dois colegas iniciam novas experiências, as turmas da ex-escola deles continuam na busca por medalhas. A próxima prova tem previsão para ocorrer em junho deste ano e as inscrições já começaram. Além disso, um novo time também esta sendo criada para a Olimpíada Brasileira na qual são feitas as mostras de robôs.
De acordo com a capitã Sâmila de Sousa Ribeiro, que é coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental II, todos os anos o colégio participa dessa e de outras Olimpíadas, como a de Astronomia, Matemática e Física. “E sempre ficamos entre os melhores do Estado”, destaca. Inclusive, ainda em 2016, a instituição ganhou os concursos de redação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Escola de Aprendiz de Marinheiro e foi a melhor na Olimpíada de Física, tendo ganhado, por sete anos seguidos, destaque com menção honrosa, certificado com chancela da Sociedade Brasileira de Física, pelo CNPQ e pelo Ministério de Ciências e Tecnologias do Governo Federal do Brasil e ainda saiu em primeiro lugar entre as escolas públicas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Além das premiações conquistadas nas competições, os alunos também são homenageados pela escola, com mérito intelectual e disciplinar. Eles também recebem promoções semelhantes às patentes militares de acordo com a média alcançada no ano anterior. Os garotos e garotas também têm aulas de laboratório, xadrez e judô, de música, natação, vôlei e esportes no contra-turno das aulas, entre outras atividades e a atuação do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd).
“A gente tem muito orgulho da escola. Aqui é um sonho. Você aprende não só as matérias de sala de aula, mas também sobre a vida e o respeito. Não tem só Português e Matemática. O estudante aprende a engomar seu uniforme, limpar seu sapato, a ter respeito pelo país. Aqui a gente forma pessoas de caráter”, declara a coordenadora, que é uma das alunas fundadoras da instituição.
Atualmente, são mais de mil alunos cursando do 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio, divididos em 35 turmas nos períodos da manhã e tarde, contando com a assistência de aproximadamente 200 profissionais do corpo docente, gestão acadêmica e de outras áreas gerais. “É um trabalho de equipe”, destaca o diretor Nildson, que projeta para os próximos anos que a escola tenha ensino profissionalizante e em tempo integral – o que ocorre apenas com o 3º ano. “Pra quem estuda, o céu é o limite”, declara Oliveira, com incentivo aos alunos para continuarem se dedicando aos estudos.
Com informação da A.I