A atual situação da economia já permitiria acelerar ainda mais o ritmo de corte de juro. A afirmação consta da ata da reunião de abril do Comitê de Política Monetária (Copom).

“A evolução da conjuntura econômica já permitiria uma intensificação do ritmo de flexibilização monetária maior do que a decidida nessa reunião”, citam os diretores do BC. Na semana passada, o juro foi cortado em 1 ponto porcentual, para 11,25% ao ano.

No trecho, a ata cita que “os membros do Comitê ponderaram sobre o grau de antecipação do ciclo desejado”. Nesse debate, apesar da menção ao espaço para imprimir ritmo ainda maior no corte do juro, o texto nota que os membros do Copom reconheceram que incertezas e fatores de risco tornaram mais adequado a decisão pela redução de 1 ponto porcentual – como anunciado.

“Dado o caráter prospectivo da condução da política monetária, a continuidade das incertezas e dos fatores de risco que ainda pairam sobre a economia tornaria mais adequada a manutenção do ritmo imprimido nessa reunião”, citam os diretores no parágrafo 22.

Inflação. Na ata, o  Banco Central (BC) manteve as projeções para a inflação em 4,1%, igual estimativa feita no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado no fim de março. O documento não trouxe as previsões no chamado “cenário de referência” que prevê a inflação com juros e câmbio estável.

Para 2018, o quadro também não foi alterado e a estimativa do BC indica inflação ao redor de 4,5%, mesmo cenário indicado no Relatório de Inflação do primeiro trimestre. Essa estimativa foi construída com base na trajetória esperada para juros e câmbio que consta na pesquisa Focus: dólar a R$ 3,23 no fim de 2017 e a R$ 3,37 no fim de 2018 com juro básico de 8,50% ao ano no fim dos dois anos.

Apesar da projeção estável para a inflação no cenário de mercado, a ata divulgada mostra expectativa de alta mais acentuada dos preços administrados neste ano. De acordo com o documento, a previsão de aumento dos preços geridos pelo poder público em 2017 é de 6,3%, ante expectativa de 5,9% publicada no Relatório de Inflação. Para 2018, foi mantida expectativa de aumento de 5,4% para esse conjunto de preços.

Jusiticativa. O Copom voltou a argumentar que a expectativa de inflação ancorada somada à elevada ociosidade na economia estão por trás do ritmo mais forte da queda do juro anunciado em abril. Os diretores do BC ressaltaram várias vezes no texto que a extensão do ciclo de queda do juro depende de vários aspectos, como inflação, atividade e juro estrutural.

“Os membros do Comitê reafirmaram o entendimento de que, com expectativas de inflação ancoradas, projeções de inflação em torno da meta para 2018 e um pouco abaixo da meta para 2017, e elevado grau de ociosidade na economia, o cenário básico do Copom prescreve antecipação do ciclo de distensão da política monetária”, cita o documento. Na semana passada, o juro foi reduzido em 1 ponto porcentual, em velocidade superior à observada na decisão anterior.

Nesse mesmo trecho do documento, no parágrafo 17, voltaram a explicar que a extensão do ciclo de queda “dependerá da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação para 2018 e 2019”. Além disso, a extensão desse ciclo será influenciada pelo juro neutro da economia brasileira. “Essas estimativas naturalmente envolvem incerteza e poderão ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo”.

Apesar das variáveis que envolvem incerteza, o BC defende que o ritmo mais forte de queda da taxa Selic equivale a “um maior grau de antecipação” desse movimento de desaperto monetário. “Em relação ao ritmo de flexibilização ao longo do ciclo, o Comitê entende que, para uma dada estimativa de sua extensão, uma intensificação do ritmo equivale a um maior grau de antecipação do ciclo”, cita o documento no parágrafo 19.

Incerteza externa. Ao avaliar o ambiente internacional, o colegiado afirmou em diferentes pontos do documento que o cenário ainda é “bastante incerto” em função de possíveis mudanças na política econômica dos EUA. Essas incertezas também estão associadas, na visão do Copom, “à sustentabilidade do crescimento da economia global, à manutenção dos preços atuais das commodities e aos rumos da economia chinesa”.

Por outro lado, os diretores do BC defendem que a economia brasileira está, atualmente, mais preparada para enfrentar um cenário externo adverso. “A economia brasileira apresenta hoje uma maior capacidade de absorver eventual revés no cenário internacional, devido ao progresso no processo desinflacionário e na ancoragem das expectativas”, registrou a ata em seu parágrafo 14.

Para o Copom, a própria conjuntura internacional tem mitigado os efeitos sobre a economia brasileira “de possíveis revisões de política econômica em algumas economias centrais, notadamente nos Estados Unidos”. “Há incerteza sobre a sustentabilidade do crescimento econômico global e sobre a manutenção dos níveis correntes de preços de commodities”, citou o documento no terceiro parágrafo.

Com informações O Estado de São Paulo