O Banco Central confirmou a expectativa dos economistas e acelerou o ritmo de corte do juro. Diante da inflação menos intensa e da fraqueza da atividade econômica, a taxa básica foi reduzida ontem em 1 ponto porcentual, para 11,25% ao ano. Essa foi a quinta redução consecutiva e o BC avalia que o novo ritmo é “adequado no momento”. O presidente Michel Temer comemorou. “Vai ajudar a acelerar o crescimento econômico e a gerar empregos”.
A decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) mostra que o BC está confortável com a desaceleração dos preços e a percepção majoritária no mercado financeiro de que a inflação deverá ficar abaixo do centro da meta em 2017 (ou seja, abaixo de 4,5%) e em torno dessa referência em 2018.
Com esse cenário, a tesoura avançou sobre a taxa Selic em um ritmo não visto há quase oito anos. O último corte de juro de 1 ponto foi em junho de 2009, quando o mundo tentava se desvencilhar do estouro da crise financeira global. Desde o início do atual ciclo de cortes, em outubro do ano passado, o juro já caiu 3 pontos porcentuais.
Minutos após a confirmação da ação mais agressiva do Copom, o presidente Temer usou as redes sociais para comemorar. “A inflação em queda e a redução da taxa Selic vão estimular a economia, a produção industrial e o consumo interno”, afirmou. Na mensagem, Temer reforçou o discurso de que o governo não está paralisado.
O BC repetiu a explicação de que a extensão do atual ciclo de queda do juro e os próximos cortes dependerão da evolução da taxa estrutural – patamar do juro considerado “neutro” por não gerar inflação, nem reprimir a atividade. Além disso, o BC também acompanhará a atividade econômica, fatores de risco e a expectativa de inflação. No mercado, prevalece a aposta de que o juro cairá 1 ponto novamente em maio.
O economista-chefe do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, acredita que o ritmo de corte deve ser mantido, mas a velocidade pode ser alterada pelo cenário político e o andamento das reformas. “Se o Copom alterar a magnitude dos cortes no curto prazo, é mais provável ser na direção de cortes maiores”, disse, em análise distribuída a clientes.
Ramos diz que eventual progresso relevante nas reformas, especialmente da Previdência, poderia valorizar o real, o que amenizaria ainda mais a inflação e, assim, abriria espaço para cortes mais agressivos. Por outro lado, ele não descarta que a deterioração adicional do quadro político poderia encurtar a redução da Selic. “A redução do ritmo seria provável diante do aumento muito significativo do ruído político e importante reversão no andamento das reformas”.
Sérgio Werlang, ex-diretor do BC e professor da FGV, diz que a decisão do Copom de acelerar o corte de juros para 1 ponto porcentual veio dentro do esperado. Ele acredita, porém, que uma nova aceleração pode estar a caminho, dependendo dos progressos na reforma da Previdência no Congresso e do comportamento da inflação. Para ele, se a reforma da Previdência andar no Congresso sem muito esvaziamento, o BC pode se sentir mais confortável para acelerar o ritmo de corte para 1,25 ponto ou até um pouco mais na próxima reunião.
Com informações O Estado de São Paulo