O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira que confia no ministro da Economia, Paulo Guedes. O ministro estava pressionado pela decisão do governo de aceitar mudar o teto de gastos para pagar um Auxílio Brasil (novo Bolsa Família) de R$ 400.

Guedes e Bolsonaro se reuniram na sede do Ministério da Economia na tarde desta sexta-feira. Após o encontro, Guedes negou que tenha pedido demissão do governo.

— Nós nos entendemos muito bem. Eu tenho confiança absoluta nele. Ele entende as aflições que o governo passa — disse Bolsonaro, no Ministério da Economia, ao lado de Guedes.

Bolsonaro também defendeu o auxílio de R$ 400 e disse que não haverá aventuras que possam prejudicar a economia.

— Esse valor decidido por nós tem responsabilidade. Não faremos nenhuma aventura, não queremos colocar em risco nada no tocante à economia.

O ministro reconheceu o ritmo de ajuste fiscal vai cair.

— Nós vamos reduzir o ritmo do ajuste. Que seja um déficit de 1% (do PIB ), não faz mal. Preferimos tirar oito no fiscal e atender os mais frágeis. O arcabouço fiscal continua. Eu seguro isso.

Guedes disse que a decisão de um auxílio de R$ 400 foi tomada após pressão da ala política enquanto ele estava nos Estados Unidos, participando de reunião do Fundo Montário Internacional. Negou que tenha pedido demissão e disse que a saída de secretários é natural.

— Enquanto eu estou lá fora, naturalmente a política começa a sacudir. Aí começa uma aparente briga entre a ala política e a ala econômica. Tem uma ala política que pede um auxílio de R$ 500, R$ 600. E tem uma ala econômica que diz que o teto é até R$ 300. Ora, deve haver uma linha do meio. O presidente traçou a linha, com R$ 400 — disse.

Ele disse também que não há espaço para algo além de R$ 400:

— Eu tenho que tomar a responsabilidade de dizer que até aqui dá. Se for para R$ 500, R$ 600, esquece, aí não dá mesmo.

Guedes afirmou que houve um “colapso” na comunicação do governo com o assunto que fez parecer que havia uma guerra. Ele disse que a saída dos secretários é natural.

— Nós entendemos os mais jovens que dizem que a linha é aqui. Nós entendemos a política que diz que não vai deixar milhões passarem fome para tirarem 10 em política fiscal — afirmou. — Os nossos secretários que pediram para sair é natural.

Guedes disse ainda que os fundamentos da economia brasileira são sólidos.

— (A mudança no teto) Não abala os fundamentos da economia brasileira. Os fundamentos são sólidos.

O ministro da Economia defendeu as mudanças no teto de gastos que causaram a saída dos seus secretários. O período de atualização do teto vai mudar para o ano fechado no lugar de 12 meses encerrados em junho:

— Nós estamos fazendo a coisa com a maior responsabilidade possível, com a maior transparência. Não veio da Economia (as mudanças no teto). Alguém formulou a ideia de fazer a antecipação (no teto) de 2026 para agora. Nós perdemos R$ 30 bilhões ou R$ 40 bilhões na inflação que eram nossos. Isso não é despesa adicional.

Ele disse que houve uma “sincronização de despesas”, mas admitiu que os seus secretários acharam que isso era furar o teto.

— É uma sincronização do teto com as despesas. Tecnicamente é defensável. Politicamente vai haver acusação. O importante é que permanente absorvido nas contas, as finanças seguem inacabadas.

Depois da saída de quatro secretários do Ministério da Economia no começo da noite desta quinta-feira por discordarem de mudanças no teto de gastos, a permanência de Guedes no cargo se tornou dúvida.

Além da discordância em relação à revisão do teto de gastos, o receio de se tornarem alvo de investigações de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público também motivou a nova debandada da equipe de Paulo Guedes.

O temor de ligar seus CPFs a decisões polêmicas como essa é um receio frequente entre os técnicos, já que os órgãos de controle podem questionar atos até anos depois.

Bruno Funchal, que pediu demissão nesta quinta-feira do cargo de Secretário do Tesouro e Orçamento, era um dos que mais resistiam à ideia da revisão do teto.

Além dele, também pediram afastamento o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, e os secretários adjuntos de Funchal e de Bittencourt, respectivamente Gildenora Dantas e Rafael Araujo.

O teto de gastos é uma regra fiscal que limita o crescimento de despesas da União à inflação do ano anterior. Ou seja, na prática, não há aumento real de despesas. Para viabilizar o pagamento do novo Auxílio Brasil de R$ 400, essa fórmula foi alterada na PEC dos Precatórios, aprovada em comissão especial da Câmara dos Deputados ontem.

(*) Com informações Agência O Globo